No programa do Governo para a educação retoma-se uma ideia da realização do exame de entrada para a carreira docente que já Jorge Pedreira, ex-Secretário de Estado da Educação, tinha defendido há anos com o argumento de que existem Escolas de Ensino Superior sem qualidade e facilitistas, sempre o facilitismo, que não dão garantias de qualidade na formação dos seus alunos.
A falta de regulação da qualidade do ensino superior, público e privado, é algo que toda a gente minimamente conhecedora do meio tem como adquirido. É, no entanto, necessário um “pequenino” esclarecimento, a falta de regulação da qualidade de formação inicial, neste caso dos professores, é da exclusiva responsabilidade do Estado, através do quadro legal que definiu e da demissão com que encarou a proliferação de cursos públicos e privados que contribuindo, caso dos privados, para que milhares de jovens acedessem a formação de nível superior que as instituições públicas não tinham condições de providenciar, mas que nasceram e cresceram sem qualquer controlo sério de qualidade. Do caos instalado emergem, naturalmente, boas e más instituições. Regule-se pois a sua qualidade, (a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior mantém-se, felizmente), independentemente da questão do exame para entrar na carreira docente que me parece sustentável dado o quadro existente.
Ainda assim, já que pode ser sustentável a exigência de um exame para aferir do grau de preparação para o desempenho de funções, também os políticos deveriam passar por esse crivo. Sabe-se muito bem que as principais escolas de formação dos políticos, as juventudes partidárias, são de qualidade duvidosa, formando políticos novos já velhos, vejam-se os múltiplos exemplos em todos os partidos. Assim, defendo a institucionalização de um exame de entrada para a carreira política com base nos seguintes moldes:
Exame escrito de Língua Portuguesa avaliando o “domínio escrito da L.P. tanto do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, como da clareza da exposição” e organização de ideias, além da “capacidade de raciocínio lógico”, (cito antiga proposta do ME, para os professores).
Exame escrito de competências técnicas e científicas envolvendo entre outros conteúdos: capacidade elaboração de promessas a partir de um tema, capacidade de comentar demagogicamente um texto, elaborar cinco opiniões diferentes a partir de um facto, citar, de forma organizada, dois nomes reconhecidos nas áreas económica, cultural e política, etc.
Exame oral em que se avalia o domínio de uma língua estrangeira para além do “portunhol”, a capacidade de elaboração de uma apresentação em “powerpoint” em três versões sobre o mesmo tema e, finalmente, a competência para defender uma ideia e o seu contrário no tempo limite de cinco minutos.
Entendo que se torna absolutamente imprescindível combater a incompetência, o facilitismo, o compadrio e o laxismo presentes na carreira dos políticos e na sua progressão.
Quando se fala em incompetência, em Portugal, referi-mo-nos sempre aos "outros", sejam Professores, Bombeiros, Árbitros de futebol ou Partidos Políticos do nosso desagrado. Nunca referimos os "nossos", nem sequer é correcto (politicamente) pensarmos que os "nossos" sofram dessa doença!
ResponderEliminarPropomos olho por olho e dente por dente, a pena de Talião, a mesma moeda, e outras expressões que significam o mesmo: castigar os moralistas com a sua própria moralidade.
Incompetentes,nós?! Nunca! há sempre os outros para culpar...
Percebo o seu ponto de vista mas, se bem reparou, também aceito a prova de selecção para os professores. O ensino superior responsável pela área de formação de professores (e não só) é completamente assimétrico. Existe do muito bom ao muito mau e encontra-se perfeitamente desregulado. A minha "sugestão" de exame aos políticos não passava de uma brincadeira, embora saibamos que a qualidade nesta classe também não abunda
ResponderEliminarO Ensino Superior sofre de um forte caso de inbreeding académico.
ResponderEliminarEstou perfeitamente ciente de que não acontece em todos os Institutos de Ensino Superior, e existindo, alguns tentam minimizar.
Já noutros, alimenta-se a "progressão académica", um termo pomposo que se traduz na contratação de antigos alunos, ou alunos presentes, em vias de Doutoramento. Infelizmente, "professores" sem formação ou educação para estarem numa aula que siga um modelo face-to-face.
E aqui começam a surgir as deformidades interessantes. O inbreeding académico incentiva ao desleixo, ao preciosismo tecnicista sobre a primazia prática, e à famigerada atitude do "académico na torre de marfim" destes "professores assistentes", demasiado cheios de si mesmos para estarem em frente a uma turma.
Em suma, quando os "professores" não tem formação educacional e parca aplicação prática, estamos a falar de que "qualidade"? Principalmente quando o "prestigio universitário" é medido em termos das publicações cientificas e não da mestria (ou falta desta) educacional dos docentes e do conhecimento transmitido aos discentes.
Falamos de economistas que nunca o foram, de psicológicos que não o são, de gestores que nunca geriram, nada além dos manuais, slides, apontamentos e aulas e auditórios grandiosos. E ainda nos atrevemos a chamar alguns de Professores.
Saberá certamente que temos mais do dobro do rácio de estabelecimentos de ensino superior por milhão de habitantes que a Espanha, por exemplo, (7,1 contra 15,6). É impossível esperar qualidade com esta rede
ResponderEliminarAcresce-se ainda esse facto aos já excessivos factores de "qualidade duvidosa"...
ResponderEliminarAparenta ser daqueles males de que muitos têm consciência, mas "fazer o que?".