AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 9 de junho de 2011

ESTAMOS DOENTES. Da confiança

Só faltava agora o Presidente da República vir esperar que os portugueses queiram ser curados. Tentou explicar a doença de que supostamente padecemos mas, ignorância minha, não percebi o estranho mal de que temos, nós os cidadãos, de nos curar.
No entanto, este é apenas mais um exemplo de algo que tenho vindo a constatar. De há uns tempos para cá entrou no léxico comum da cena política uma terminologia vinda da área da saúde mental com efeitos que ainda não foram avaliados. Alguns exemplos. É muito frequente a referência a estados de depressão, o país está deprimido, os mercados estão deprimidos, algumas regiões portuguesas são consideradas deprimidas, etc. Diz-se com todo o à vontade que certos comportamentos políticos podem ser suicidas, seja de pessoas ou de partidos. Inventaram um quadro de claustrofobia democrática, seja lá isso o que for. Não há opinador, amador ou profissional, que não se refira a autismo ou a autista para adjectivar discursos e comportamentos políticos. Aliás, deve recordar-se que a Assembleia da República aprovou uma moção no sentido de se não utilizar tal terminologia nos debates parlamentares. Multiplicam-se as referências a pessoas que assumem compulsivamente estratégias de vitimização. Abundam as análises que sublinham a grave baixa auto-estima dos portugueses. A comunidade atribui o estatuto de inimputável ao Dr. Alberto João o que o deixa “à solta”. É também de referir que nos últimos tempos muitos analistas diagnosticaram uma dupla personalidade ao Primeiro-ministro em gestão, o que explicaria, dizem, uma mudança de comportamento a partir das eleições europeias.
Talvez este cenário ajude a perceber porque é que em Portugal e segundo dados de 2007 que agora creio podem ser ainda mais significativos, em média, se verificou um consumo diário de 152,1 psicofármacos por cada mil habitantes, enquanto a média da UE para 2006 foi de 42,3 o que é, de facto, uma diferença significativa.
Na volta, o Presidente tem razão. Mas a doença parece clara, estamos doentes da confiança.

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