AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 3 de maio de 2011

A LETRA ESTÁ BONITA

Era uma vez uma sala de aula de miúdos pequenos. Naquela sala de aula havia uma Professora daquelas que só há nas histórias, daquelas que gritam muito, parecem sempre mal dispostas, zangadas com o mundo e com os miúdos e às vezes, só às vezes, provavelmente por distracção, até conseguem parecer simpáticas.
Naquela sala havia miúdos daqueles que existem também fora das histórias. Alguns desses alunos, a maioria, andavam bem no árduo trabalho de aprender, outros, bastante menos, não andavam tão bem e as dificuldades eram grandes. Naquela sala havia ainda uma miúda chamada Insegura que, além de não andar muito bem nas coisas do aprender, tinha imenso medo dessas coisas, tinha medo de não ser capaz e como não fazia bem, estava mesmo convencida que nunca faria bem alguma coisa e, por isso, não tinha muita vontade de as fazer, sabia que iam ficar mal, as coisas e ela.
A Professora que havia naquela sala não sabia, não sentia ou não se lembrava que toda a gente gosta de saber que faz bem as coisas, sobretudo quando está a aprender, havendo, por exemplo, alguns miúdos que, para além de gostarem que lhes digam que fazem bem, precisam mesmo disso, para se sentirem mais confiantes. No entanto, a Professora raramente tinha alguma palavra elogiosa para o trabalho do miúdos, sobretudo para os que andavam menos bem. À menina Insegura então é que nunca lhe ocorria dizer que alguma coisa estava bem feita.
Um dia, a miúda Insegura foi, como habitualmente, a medo, de olhos em baixo mostrar o trabalho que tinha feito no caderno diário.
A Professora, olhou com a forma apressada com que costumava olhar e disse, "A letra está bonita". A miúda insegura, pela primeira vez de há muito tempo, levantou os olhos e começou a esboçar um sorriso.
"A letra está bonita", repetiu a Professora, "o resto está uma porcaria", acrescentou a Professora.
O sorriso em construção fugiu da boca da miúda Insegura, os olhos voltaram ao chão e ela voltou ao seu lugar.
Insegura, como de costume.
Esta história foi mesmo inventada. A sério.

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