Porque o encerramento de escolas continua na agenda e me parece justificar-se, aqui se retomam algumas notas de há algum tempo.
Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento histórico que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento. Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social possam começar a matar as aldeias e, em consequência, liquidam os equipamentos sociais, e não afirmar sem dúvidas o contrário.
Por outro lado, a concentração excessiva de alunos não ocorre sem riscos. Para além de aspectos como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico importa não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso escolar, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental.
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode assentar em critérios cegos e generalizados esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para o jogo político.
Neste processo, o ME estabeleceu como média os 1700 alunos e como limite os 3000. Estes números são completamente comprometedores da qualidade e, portanto, inaceitáveis.
De há muito que se sabe que um dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e agora os Estados Unidos na luta pela requalificação da sua educação optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito grandes.
As escolas grandes, com a presença de alunos com idades muito díspares, são autênticos barris de pólvora e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de professores alunos, pais e funcionários.
Não conheço nenhuma justificação de natureza educativa que sustente a existência vantajosa de escolas grandes. A razão para a sua criação só pode, pois, advir da vontade de controlo político do sistema, menos escolas envolvem menos directores ou de questões economicistas que a prazo se revelarão com custos altíssimos pela ineficácia e problemas que se levantarão.
O bem-estar educativo dos miúdos é demasiado importante.
Olá professor.
ResponderEliminarEste seu texto deixou-me agora com mais perguntas que respostas. Por outro lado, clarificou-me algumas questões.
Este ano tenho estado a trabalhar com três escolas primárias. Todas em contexto rural, embora uma com características um pouco diferentes.
Uma das escolas tem 8 alunos, a outra tem 26, e a maior tem 80 alunos.
Eu tenho estado a tentar compreender, na prática, os motivos que levam a que uma escola funcione bem.
A verdade é que existem diferenças entre estas escolas.
Tendo uma perspectiva geral (isto é, tendo em conta todos os actores intervenientes), a escola com 80 alunos (que está muito muito longe dos tais 500 aceitáveis em média) demonstra já uma série de questões que precisam de ser melhoradas. A maior parte das professoras estão desmotivadas, cansadas.
Os miúdos, talvez por ainda serem de primeiro ciclo, não se notam grandes diferenças em relação aos outros, embora o facto de serem 80 cause um certo pânico (a mim) quando se juntam todos.
Certo é que não é dos piores cenários que já vi.
Embora na escola pequena rural, em que há um ambiente familiar e se trocam informações (entre professores, pais e alunos) com mais frequência, a coisa parece correr francamente melhor.
Sobre isto, julgo que haveria pano para mangas para falar. Por isso gostaria de falar com o professor pessoalmente.
Até breve e obrigada.