AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

OS SEMPRE EM PÉ

Há muitos anos era frequente brincarmos com uma figuras coloridas muito cómicas que permaneciam sempre em pé. Empurrávamos, abanávamos, atirávamos as figuras das mais variadas formas e elas, desafiantes, persistentes e criativas continuavam sempre em pé.
Há já muito tempo que não me cruzo com brinquedos deste tipo. Já não são deste tempo em que os brinquedos, dizem, são bastante mais sofisticados e complexos.
No entanto, existem miúdos cujas vidas me recordam os Sempre em pé. São miúdos que passam por circunstâncias de vida muito complicadas, são objecto de maus tratos e mal-querer de variadas naturezas e por parte de diferentes mãos, surpreendentemente mantêm-se de pé, sempre em pé, embora, tragicamente, alguns não aguentem e se afundem.
Quando com mais atenção escrutinamos essas circunstâncias de vida, por vezes inimagináveis de violência, mais perplexos ficamos com a enorme capacidade desses miúdos de após alguns tropeções, tal como os bonecos, continuar de pé. Chamam-lhes resilientes e nem sempre compreendemos como e donde lhes vem essa capacidade de permanecer sempre em de pé.
É por isso que eu acho que os Sempre em pé são algo de extraordinariamente complexo e sofisticado, os brinquedos e os miúdos.

2 comentários:

  1. A propósito d' "os sempre em pé", dos rejeitados, dos "não chamados pelo nome", dos que "assim nunca ganham o jogo" e outros bafejados pela mesma sorte (?), que têm, afinal de contas, um lugar no mundo (no mundo de pessoas como José Morgado), ouso perguntar:
    de que forma podem ELES saber que fora do seu ambiente familiar enviesado existem mentes e corações com disponibilidade afectiva - tanta quanto possível à distância - para os pensar com respeito? Como dizer-lhes que se mantenham em pé, procurando no meio da multidão adormecida, por quem leva em conta o seu crescimento como indivíduos? Como dizer-lhes que matenham a esperança de, na perseverança, encontrarem quem OLHE para eles e se interesse em conhecê-los? Porque essas pessoas existem.
    Sara M. Silva

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