De há uns anos a esta parte aumentou exponencialmente o recurso aos partos por cesariana produzindo em Portugal a segunda taxa mais elevada da Europa. Como não parece haver justificação de ordem clínica para que as mulheres portuguesas recorram mais a este tipo de parto, resta o óbvio, a cesariana é um negócio tal como muitos outros nessa importantíssima área de mercado que é a saúde. Pode aliás verificar-se que nos serviços de saúde privados a taxa de cesarianas é quase o dobro da média global nacional, segundo dados de 2005 temos 65.9% e 34.8%, respectivamente.
Por iniciativa de um grupo de especialistas na Região Norte vai ser apresentado um plano de redução do recurso à cesariana que contempla, entre outras medidas, um incentivo individual aos médicos que recorram menos a esta opção. A medida parece levantar alguma polémica e o Bastonário acorre rapidamente considerando “um grave atentado à ética médica … Nenhum médico pode tomar uma decisão por estímulo financeiro”.
Como não podia deixar de ser, concordo com o Senhor Bastonário, as decisões em matéria de actos médicos não devem decorrer de questões financeiras. Só não percebo muito bem é como o Senhor Bastonário explicará o facto de nos hospitais privados a realização de cesarianas ser quase o dobro do que se passa em termos médios nacionais. Certamente não poderá ser explicado pelos quadros clínicos das mulheres que recorrem a essas unidades de saúde privadas.
Um pormenor certamente irrelevante, a quantia paga aos hospitais por uma cesariana é maior que por um parto vaginal. Mas não estamos a falar de dinheiro porque, obviamente, seria eticamente inaceitável.
Claro.
A Organização das Nações Unidas diz que a mulher tem o direito de decidir ter ou não filhos, quando tê-los e, acrescento eu, escolher como tê-los. Vem isto a propósito das declarações da Ministra da Saúde e a sua obsessão em diminuir o número de cesarianas, inclusive com penalizações para os médicos. Sei que as cesarianas têm um custo maior para o SNS do que um parto normal, mas só uma mente muito retorcida pode pensar que um obstetra recorre a uma cesariana com a intenção que não seja apenas um mero acto médico seguro e eficaz. Porque deve ficar ao critério da mulher, evidentemente aconselhada pelo médico, se o seu estado emocional e psicológico vai conviver bem com a dor, com a analgesia, com o interminável trabalho de parto, sem ansiedade, sem estar pressionada por saber que o Estado está mais preocupado com questões financeiras do género - controlar a quantidade de betadine que se gasta nos Hospitais públicos -, em vez de se preocupar com o bem estar da parturiente e do seu futuro filho, unidos no valor supremo da vida.
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