AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 16 de outubro de 2010

ESCOLAS GRANDES, PROBLEMAS MAIORES, RESULTADOS MENORES

Das linhas conhecidas sobre a educação, depois da divulgação genérica do Orçamento Geral do Estado para 2011, queria sublinhar dois aspectos positivos, a universalização da educação pré-escolar a partir dos 3 anos e a intenção de “reajustamento do plano curricular” uma necessidade imperiosa sobretudo no ensino básico, e uma preocupação que já vem de trás, a continuidade da política de mega-agrupamentos e estabelecimentos educativos de grande dimensão. Como já tenho afirmado é necessário prosseguir no processo de reordenamento da rede escolar mas a insistência em grandes escolas e agrupamentos é, de facto, preocupante se soubermos que o ME estabelece como média os 1700 alunos e como limite os 3000 como critério. Estes números são completamente comprometedores da qualidade e, portanto, inaceitáveis.
De há muito que se sabe que um dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e agora os Estados Unidos na luta pela requalificação da sua educação optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito grandes.
É fundamental que a comunidade tenha consciência deste universo de modo a tentar travar o movimento de construção de autênticos barris de pólvora e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de professores alunos, pais e funcionários.
Não conheço nenhuma justificação de natureza educativa que sustente a existência vantajosa de escolas grandes. A razão para a sua criação só pode, pois, advir da vontade de controlo político do sistema, menos escolas envolvem menos directores ou de questões economicistas que a prazo se revelarão com custos altíssimos pela ineficácia e problemas que se levantarão.
As dificuldades económicas não podem justificar o compromisso com a qualidade, sobretudo quando verificamos que as prioridades estabelecidas estão longe de parecer justas e equilibradas.

3 comentários:

  1. Os nossos governantes nesta área querem importar imensas ideias da Finlândia mas, esta ideia das escolas de pequena dimensão que por lá existem, não está na ordem da agenda por cá.

    ResponderEliminar
  2. Olá Prof. Morgado. Fui seu aluno e é com imenso prazer que leio o seu Blog. Trabalho numa escola pequena, com cerca de 450 alunos, provenientes, na maioria, de meios sociais e económicos desfavorecidos. Quando ouvimos muitas vezes falar de indisciplina, esta escola parece um oásis. Neste momento de crise tem sido particularmente útil a dimensão da escola porque lá todos se conhecem, os professores sabem o nome de todos os alunos e os alunos recorrem, com muita frequência, ao apoio da direcção da escola, que está desperta para as dificuldades individuais e pronta a ajudar. Para mais, a direcção tem conhecimento e está sensível aos desenvolvimentos sociais da região. Isto leva a uma actuação mais rápida e eficaz, que muitas vezes é a diferença entre a conclusão da escolaridade e o abandono escolar. Não sei, mas tenho sérias dúvidas da aproximação aos aos problemas reais por parte de quem tem o poder de decidir nestes mega-agrupamentos. É sempre um prazer lê-lo.

    ResponderEliminar
  3. Caro Relógio de Corda, a importação obedece a critérios cuja natureza nem sempre a razão explica, há quem lhe chame política.

    Olá Zé, agradeço a visita e aproveite o oásis, estão a desaparecer.

    ResponderEliminar