AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 15 de julho de 2010

OS CHUMBADOS E TAMBÉM OS ABANDONADOS

Todos os anos por esta altura é criado um novo grupo social na educação, os chumbados, isso mesmo, os chumbados, os que não passaram de ano.
É um grupo composto por gente de idade variada e uma boa parte já pertencia ao grupo, apenas é reconduzido como membro no final do ano. Alguns já são mesmo muito experientes, são chumbados várias vezes, no mesmo ou em diferentes anos. Alguns outros entram pela primeira vez e vão experimentar este novo estatuto, o de chumbado, também há quem lhes chame repetentes ou, coisa mais fina, retidos.
Muitos deles, mais novos ou mais velhos, vão habituar-se ao estatuto que se lhes colará à pele, transformando-se numa condição.
Alguns pais dos novos chumbados ficarão certamente aborrecidos mas não surpreendidos, o chumbo raramente é uma surpresa, é uma crónica anunciada de que apenas se aguarda a confirmação. E ela chega. Alguns outros pais vão tentar o possível e o impossível para que os seus filhos abandonem o grupo dos chumbados. Oxalá consigam, não é fácil.
Muitos dos chumbados, sobretudo os chumbados mais experientes vão procurar mostrar que lhes é indiferente a pertença ao grupo. Não é verdade, não acreditem, ninguém com saúde gosta de fracassar. Querem convencer-se e convencer-nos de que lhes é indiferente o chumbo numa tentativa ingénua de se sentirem melhor.
De entre os chumbados emerge ainda um grupo mais pequeno que passa à clandestinidade educativa, são os abandonadores, os que compõem a inaceitável estatística do abandono. Nunca percebo muito bem o sentido do abandono, ou seja, quem abandona quem, são os miúdos que abandonam a escola ou a escola que abandona os miúdos.
Depois de férias, quando os chumbados voltarem, se voltarem, não vão encontrar o encanto que o novo pode ter. Para os chumbados quase tudo será velho, os mesmos livros, as mesmas tarefas, para muitos os mesmos professores. Para que possam partilhar experiências algumas escolas juntam os chumbados na mesma turma em cada ano, esquecendo o óbvio "junta-te aos bons e serás com eles, junta-te aos maus e serás ...", sabem o resto. Aqui, como em muitas outras circunstâncias, o tempo nem sempre cura, por isso, alguns irão certamente chumbar outra vez.
Muita gente acha que deveria haver mais chumbados, muitos mereciam ser chumbados e não foram, dizem, e mais curioso ainda, muitos acham que é normal haver chumbados. Peço desculpa, o normal num miúdo que tem condições para aprender é, isso mesmo, aprender. Podemos, como é óbvio, não conseguir que todos aprendam, que todos passem, mas chumbar, mesmo que seja só um, NÃO é normal, tal como NÃO é normal não querer aprender.
O problema maior é que muitos dos chumbados continuarão a afundar-se. Como sabem, o chumbo é um material que pesa muito, impede que se suba, na vida, por exemplo.

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