Pelo título poderia pensar-se que me refiro ao estranho bailado cantado pelos Trovante em “Travessa do Poço dos Negros”, mas não, nem sequer é em tom dolente. Vejamos então de que se trata. Nas deambulações matinais (estão a acabar-se, que o Agosto está a pôr-se) pelas minhas praias de sempre, as da Costa da Caparica, todos os dias, sobretudo quando as marés andam mais baixas, dá para assistir a um espectáculo curiosíssimo. Muitíssimas pessoas à beirinha da água agitam-se furiosamente num estranho bailado rodopiante, ora em cima de um pé, ora em cima do outro, abrem buracos na areia e de vez em quando baixam-se. A coreografia, devo dizer, não é particularmente brilhante e criativa mas a performance envolve, e isso é notável, bailarinos de todas as idades, predominando adultos e seniores, todos com o mesmo empenho. A produção também não é superlativa, predominam os fatos de banho clássicos, um boné ou um mais sofisticado “panamá” na cabeça e uma garrafinha na mão para onde diligentemente é remetido o resultado do estranho bailado, meia dúzia de minúsculas cadelinhas que gozando as delícias do mar da Costa estavam bem longe de se imaginar engarrafadas pelos azafamados bailarinos.
Não sei o que mais admirar. Por um lado, acho notável o empenho e a atitude profissional dos bailarinos que sempre que apanham uma desgraçada cadelinha olham à volta para se certificar que alguém viu como caçaram, ou pescaram, mais uma e de que aquela não vai para à garrafinha do bailarino da poça a seguir. Por outro lado, acho fantástico imaginar aqueles bailarinos e a respectiva família a preparar um delicioso e bem regado lanche com a meia dúzia de cadelinhas pequeninas que a sua empreendedora acção matinal conseguiu e que, para uma família média, dará, pelo menos, a enormidade indigesta de umas três ou quatro por prato.
Este bailado faria seguramente parte de uma versão beira-mar do notável “Aquele querido mês de Agosto” de Miguel Gomes.
Não sei o que mais admirar. Por um lado, acho notável o empenho e a atitude profissional dos bailarinos que sempre que apanham uma desgraçada cadelinha olham à volta para se certificar que alguém viu como caçaram, ou pescaram, mais uma e de que aquela não vai para à garrafinha do bailarino da poça a seguir. Por outro lado, acho fantástico imaginar aqueles bailarinos e a respectiva família a preparar um delicioso e bem regado lanche com a meia dúzia de cadelinhas pequeninas que a sua empreendedora acção matinal conseguiu e que, para uma família média, dará, pelo menos, a enormidade indigesta de umas três ou quatro por prato.
Este bailado faria seguramente parte de uma versão beira-mar do notável “Aquele querido mês de Agosto” de Miguel Gomes.
Fui logo perguntar ao meu pai, professor, que cadelinhas são essas. O meu pai é o pescador de serviço cá em casa. Ele não se emaranhou nas redes - "Cadelinhas do mar, então são essas ameijoas pequenas que muita gente anda a apanhar à beira-mar." E eu que pensava que agora estavamos a adquirir hábitos chineses...
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