AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 31 de agosto de 2008

ESTABILIDADE

Uma rápida olhadela à imprensa de hoje deixou-me descansado quanto à estabilidade do período que atravessamos. Concordarão comigo quando considero a estabilidade como um bem essencial para o cidadão.
Tivemos o habitual roubo de uma caixa multibanco, obviamente, registado pelas câmaras de vídeo e já sob investigação da PJ. Não faltou um indivíduo baleado e os agressores em fuga, naturalmente, já sob investigação da PJ. As mediatizadas operações policiais continuam, estavelmente, a encontrar condutores sob os efeitos do álcool. A produção de vinho para este ano vai sofrer uma quebra de quantidade devido às condições climatéricas, mas terá uma superior qualidade o que é, naturalmente, bom saber. O Professor Marcelo diz que “está preocupado com o PSD” o que, traduzindo as palavras do famoso entertainer político, quer dizer que está na hora de começar a “fazer a cama” à Dra. Ferreira Leite dando continuidade ao processo de estabilização do partido. Ao que parece e de acordo com as respectivas associações profissionais, 43% dos polícias e guardas não desempenham funções operacionais, o que contribui para a estabilidade na rua. Com o alvoroço que por aí vai, mais uns milhares de polícia na rua só aumentava a confusão e lá se ia a estabilidade do quotidiano. Também é de registar que o Ministério da Saúde emitiu “vales cirurgia” para serem utilizados em hospitais que não têm a capacidade para realizar as cirurgias indicadas. Os utentes envolvidos mantêm a sua estável posição na lista de espera.
Finalmente, o meu glorioso continua, estavelmente, sem ganhar.
Sendo hoje 31 de Agosto, amanhã, estavelmente, é 1 de Setembro.

AS FÉRIAS DO CAJÓ

Como sempre, o Cajó gostou das férias que passou na tenda que a sogra aluga o ano inteiro no parque de campismo da Costa. É uma tenda grande com um avançado onde tem o assador e a mesinha da televisão. Convive-se muito porque as tendas estão um bocado perto, tanto que a D. Júlia, da tenda ao lado, via a novela da tarde no aparelho da sogra do Cajó sentada no avançado da sua tenda. O Cajó carregou bem o Punto, até lhe pôs umas barras que tinha lá na oficina para levar as cadeiras de plástico para a família e os colchões enrolados dos miúdos. Embora o mês fosse um bocado manhoso, o Cajó teve sorte com o tempo da semaninha na Costa. De manhã, depois da bica, ia com a Odete e os miúdos até à praia, mas pouco tempo, que o Cajó não é menino de estar a torrar ao sol. Deixava a Odete e os miúdos e vinha adiantar o almoço. No assador tratava das sardinhas que o sogro, o Sr. Abel, tinha ido buscar à praça. O Cajó fazia questão de as assar, ele é que tem o toque que elas precisam. Bom, era um cheirinho a sardinhas naquele parque que até chegava à praia. Com uma saladinha à maneira e as bejecas fresquinhas do frigorífico pequenino muito jeitoso que a D. Gorete, a sogra, tinha comprado para ter no parque, era 5 estrelas. Depois da sardinhada ia com O Sr. Abel tomar a bica e meio uísque ao bar do parque e ficavam na palheta com o pessoal que já conhecia dos outros anos. Entretanto, a Odete e a sogra ficavam no avançado a ver televisão e os miúdos iam brincar com os outros ou jogar playstation. Ao fim da tarde, o Cajó ia com a malta dar uns toques para o campo de futebol de salão que há lá no parque, o desporto faz bem e até abre o apetite. Para o jantar, a família abria umas latitas de conserva com uma saladinha. É preciso poupar e até dizem que as conservas são boas para a saúde. À noite ia até ao bar do parque jogar uma suecada e aí estava um dia perfeito. Todas noites, quando vinha do bar para a tenda com o Sr. Abel, o Cajó lhe dizia, “isto é que são umas férias, a porra é que prá semana já tou na oficina a vergar a mola”.
Só havia uma coisinha que chateava o Cajó. Na tenda da D. Gorete tinha que dormir com a Odete e os miúdos, a Micas e o Tólicas, no mesmo espaço e de dia estava sempre gente à volta, de maneira que, estão a ver, sente falta da Odete. É pá, mas não se pode ter tudo, pensava o Cajó antes de adormecer a sonhar com as sardinhas do almoço servidas por aquela miúda “boa comó milho” que entra na novela da tarde que a D. Gorete não perde.

sábado, 30 de agosto de 2008

AFINAL, NADA DE NOVO

Como costumo dizer, gosto de sair para ter o prazer de voltar. Creio que esta ideia do prazer de voltar, remete para a secreta esperança de que a volta nos mostre coisas diferentes. Como isto raramente acontece, o retorno traduz-se sempre numa esperança adiada. Numa primeira olhadela pelos jornais reparei que continuam as notícias de assaltos e delinquência e a habitual e perigosa “pequena política” em torno desta questão. Soube que as prestações dos créditos à habitação quase duplicaram em três anos. Reparei que, depois de assente a folclórica e mediática poeira, os touros continuam a morrer em Barrancos. Vi que o PSD está em forma, isto é, o Dr. Menezes, numa pérola literária, diz que é um Ferrari e que a Dra. Ferreira Leite é um Fiat 600. Reparei que regressou a habitual discussão entre o ME e as organizações profissionais sobre a colocação de professores. Finalmente e para sossegar os ânimos o futebol já teve a sua rentrée.
A última nota, ainda relativa ao futebol, é um paradigma do que não muda. O Cristiano Ronaldo, o tal miúdo que é bom com os pés mas com a cabeça nem por isso, vai ser o protagonista de uma campanha de solidariedade, “Escola Modelo”, desenvolvida com a cadeia Modelo visando dotar as escolas com material informático e desportivo. O rapaz afirma que, “sei que sou um exemplo para as crianças e quero deixar a minha marca dentro e fora de campo”. Deve ser por tão benemérita e educativa preocupação que o moço gastou 220 000 € (a sério) para poder usar no carrinho, um pequenino utilitário daquelas marcas tipo Rolls-Roice ou Bentley ou lá o que é, uma matrícula personalizada CR7. Com estes exemplos o mundo só pode ficar melhor.
Tenho que voltar a sair. A propósito, agradeço-vos o terem voltado.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

UM HOMEM SEM MEDO

Era uma vez um homem, chamava-se Sem Medo. Afirmava a quem o queria ouvir que nada temia e ninguém lhe metia medo. Já não era muito novo e adorava contar as suas aventuras. As pessoas que o conheciam gostavam de as ouvir. Pareciam histórias inventadas, eram bonitas e o Sem Medo tinha jeito para contar as peripécias que lhe tinham acontecido ao longo de muitas vidas. É claro que todas as narrativas descreviam situações em que o Sem Medo demonstrava a sua coragem e ausência de temores de qualquer espécie. O Sem Medo, se lhe dessem oportunidade, passava horas contando as suas destemidas aventuras que pareciam intermináveis, havia sempre mais uma que prendia a atenção de quem estivesse com ele. Um dia, um dos seus sobrinhos, depois de ouvir durante uma tarde uma boa quantidade de histórias, perguntou-lhe, “Tio Sem Medo, para te ter acontecido tanta coisa, já deves ser muito velho, quantos anos tens?”
O Sem Medo, pela primeira vez em muitos anos, sentiu a voz a tremer e um arrepio de medo que o assustou. Tinha um medo enorme do Tempo, pouco, que ainda teria para contar as suas histórias de homem sem medo de nada.

PS – Volto a 29, aqui nos encontraremos, espero.

domingo, 24 de agosto de 2008

A INSEGURANÇA NO COLCHÃO

Não será de estranhar se falar de insegurança. Nos tempos que correm tem sido um dos temas mais recorrentemente referidos na comunicação social. Aliás, é também motivo de luta política. A oposição critica o silêncio do Primeiro-ministro e pede a demissão do Ministro Rui Pereira, o PSD. O Governo acusa o PSD de não ter ideias e não avançar com propostas. E nós estamos preocupados com isto tudo, como é óbvio. Para complicar uma situação já difícil, ainda somos informados de que, em Ermesinde, um colchão de ar, sim um colchão de ar, explodiu, feriu três pessoas e danificou seriamente a habitação. Vejam até que ponto pode chegar a insegurança, está o cidadão e família a brincar no colchão e este, sem mais nem menos, explode, ao que parece, por pressão a mais e dá cabo da casa. Mas onde é que isto vai parar? Já chegam os assaltos a tudo e mais alguma coisa, tiros, explosivos, rixas, etc. agora até os colchões são inseguros. A área mais resguardada do lar de cada um sujeita a riscos destes, não pode ser.
E o Governo não diz nada?

sábado, 23 de agosto de 2008

CALL CENTER

- Sim, boa tarde, precisava de … está certo.
- Sim, boa tarde, era para … sim, eu aguardo.
- Sim, boa tarde, seria possível … muito bem.
- Sim, boa tarde, os seus colegas com quem já falei sugeriram-me que … outra vez?
- Sim, boa tarde, antes de passar a chamada eu queria … mas tem de ser assim?
- Sim, boa tarde, liguei no sentido de … mas ainda não é consigo?
- Sim, boa tarde, depois de várias tentativas acho que finalmente posso … com quem?
- Sim, boa tarde, estou há já algum tempo a tentar solicitar que … mas creio que com esse já falei.
- Sim, boa tarde, agradecia que … de novo?
- Sim, boa tarde, eu apenas desejava … muitíssimo obrigado.
(finalmente uma informação objectiva, estou em lista de espera)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

MUDAM-SE OS TEMPOS, AS VONTADES NEM POR ISSO

A tradição ainda é o que era apesar de algumas mudanças. O estudo da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e Trabalho mostrando que temos a segunda maior diferença salarial entre homens e mulheres não surpreende. Recorde-se que só este ano foi definido um calendário para acabar com a discriminação salarial na indústria corticeira. Em termos de valores e cultura seria interessante a realização de um estudo junto da opinião pública no sentido de aferir qual o nível de aceitação/recusa desta situação. Provavelmente, os resultados não seriam os politicamente correctos, e ajudariam a explicar a manutenção deste quadro. A realidade, muitas vezes, não é a projecção dos nossos desejos.
Neste contexto pode parecer descabida a referência, mas hoje também ficámos a saber que o número de mulheres vítimas mortais de violência doméstica até Agosto deste ano, já é superior ao número global de 2007. No entanto, creio que se trata de uma outra face do mesmo problema. Existem áreas dos valores que demoram gerações a alterarem-se e exigem esforços colectivos, designadamente, nos processos educativos. Enquanto não, é esta a realidade, não o que gostaríamos que fosse a realidade.

PORTUGAL, A TRADIÇÃO DOS SALTOS

Hoje redimimo-nos. Nelson Évora é campeão olímpico do triplo salto. Esmagou a concorrência, aguentou a chuva e um país às costas (disse aquele senhor, o Dr. Laurentino) e, sobretudo porque é bom e trabalha para isso, vamos ter, esta é linda, a bandeira das quinas a subir no mastro olímpico ao som da Portuguesa, o espelho do nosso contentamento no Ninho de Pássaro. Bem-haja Nelson Évora e uma palavra de apoio à carreira da Naide Gomes. Devo dizer que estranho o tempo que demorámos a atingir neste nível nesta área, os saltos, pois temos uma longa e consistente tradição na matéria. Vejamos alguns exemplos sem a preocupação de ordenar ou esgotar as referências.
Na primeira metade do século passado, época triste cá no burgo, milhares e milhares de portugueses foram a salto para outros países, fugindo a destino sem esperança, movimento que, aliás, parece estar em relançamento. Lembrem-se também do sobressalto que atirou Oliveira Salazar da cadeira e baralhou o regime. Recorde-se o assalto ao quartel do Carmo, acto simbólico do 25 de Abril de 74. É também de referir a histeria que se instala sempre que se junta um qualquer grupo em qualquer circunstância, e alguém começa a gritar “quem não salta é …”, o que leva o pessoal a desatar aos saltos com um ar meio alucinado. E os saltos que as estatísticas têm dado na mão deste governo. E os saltos e outros movimentos que o pessoal tem que fazer para sobreviver. E os saltos que damos sempre que ouvimos figuras como Mário Lino ou Vitalino Canas, Alberto João ou Santana Lopes, Paulo Portas ou Teresa Caeiro, Bernardino Soares ou sermões de Francisco Louçã. E o salto do Vale e Azevedo para o bem bom em Londres. E os assaltos em crescente presença no nosso quotidiano. E os salta-pocinhas que por aí andam a infernizar a vida do pessoal. Poupemos o espaço.
Estou mesmo convencido de que somos um país com um elevadíssimo potencial nesta área dos saltos, basta continuar a treinar. Por mim, vou dar um salto para a caminha, onde, a esta hora é que estou bem.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

COM FIANÇA E SEM FIANÇA

O estudo desenvolvido pela GFK para o “Wall Street Journal” não trazendo nada de particularmente inesperado face a estudos anteriores, merece algumas notas. Comecemos pelo lado menos positivo. Os portugueses confiam muito pouco em políticos, grandes empresários, banqueiros e publicitários. Se bem repararmos, os três primeiros grupos profissionais constituem a elite que mais influencia a nosssa vida colectiva, com o resultado bem conhecido e sofrido, daí a desconfiança. A falta de confiança nos publicitários, parece sugerir que estes são entendidos como os vendedores das ilusões que os outros três grupos procuram criar e que já não queremos, podemos, comprar.
Por outro lado, a forte confiança nos bombeiros parece mais um significativo SOS no sentido de que possam apagar os fogos que todos os dias se levantam, e que tragam ajuda e reanimação a quem mal se sente. A confiança nos carteiros parece sugerir uma resposta emocional reactiva ao propagandeado choque tecnológico e, provavelmente, sublinhar a presença enorme dos carteiros na vida dos portugueses pois são estes profissionais que trazem, para muita gente, os ansiosamente esperados vales e cheques de reformas, pensões e subsídios de origem variada. Finalmente, a confiança nos professores indicará que, primeiro, a opinião pública nem sempre coincide com a opinião publicada, segundo e mais importante, existe confiança no futuro, pois são os professores (educadores em geral) que, em larga medida, o preparam.
Oiçam o povo, às vezes tem razão.

O ENG. MÁRIO LINO NO SEU MELHOR

Mas porque é que o chefe não lhe deu mais uma semaninha de férias? Tinha-se poupado mais uma genial e oportuníssima intervenção do Eng. Mário Lino. Como comentário à tragédia do aeroporto de Barajas, Madrid, o mítico Mário Lino, tem para afirmar que “um acidente como este, que ocorreu em Madrid, apenas chama a atenção para uma coisa que já se sabia e que é a localização de um aeroporto dentro de uma cidade e de uma zona urbana”.
O aeroporto está situado a 12 kms de Madrid, obviamente fora do centro e com localização ajustada, mas o que é grave e impressiona, é a despudorada deselegância de quem se serve de uma tragédia para dar boleia às suas cogitações e incompetência política.
Se não se rissem, diria de termos um ministro como Mário Lino, “jamais! jamais!”.

CHEIRINHOS

Apesar de uma vivência suburbana pura e dura, os dias mantêm, felizmente, a capacidade de nos surpreender pela positiva. Em muitas das precisões cá de casa abastecemo-nos num mercado pequenino onde sou cliente habitual do Sr. João, para o peixe, e da D. Irene e do Sr. Manel para os legumes e fruta que o meu Alentejo não providencia. É uma gente boa e simpática que tem a generosidade de me tratar bem, evitando o Sr. João que escolha menos bem o peixe e ainda aconselha a forma de o arranjar, encontrando-me o Sr. Manel e a D. Irene produtos da época e de produção portuguesa, pois aqui sou fundamentalista. Mas o bocadinho que me compôs o dia passou-se com o Sr. Manel, homem com quase dois metros de altura e bem acima dos 100 Kg. Comprei um melão, excelente, de Moura e um pão que ainda sabe a pão. Quando me preparava para pagar, diz-me o Sr. Manel com uns olhos a brilhar lá de cima daquele tamanho todo, “então amigo, hoje não leva cheirinhos?”.
Acho bonito quando a gente começa o dia com alguém a perguntar-nos se queremos cheirinhos. Parecendo que não, hortelã, poejos, coentros, salsa, temperam também a alma.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

UM PAÍS DE CHUMBOS

O chumbo, perdão, veto político, do Presidente da República ao diploma do divórcio por razões que, em alguns aspectos, merecem reflexão, vem sublinhar a ideia de que Portugal está a ficar um país de chumbo. Senão, para além deste chumbo presidencial, veja-se:
Chumbamos alunos no nosso sistema educativo como ninguém na Europa e as organizações sindicais dos professores, em conferência de imprensa, chumbam a Ministra.
A oposição chumba o Governo porque não cumpre e governa mal e o Governo chumba a oposição porque não existe e não tem ideias.
Os centros de inspecção automóvel chumbaram um milhão de carros no ano passado.
A criminalidade é praticada com cada vez mais chumbo e as autoridades respondem, também, com cada vez mais chumbo.
A maioria dos atletas portugueses em Pequim chumbam, um deles, porque, àquela hora, devia estar na caminha.
Finalmente, chumbaram as previsões de um verão quentíssimo e levámos com esta amostra de mês de Agosto que chumba as férias a qualquer chumbado português, que não esteja no All Garve ou nos trópicos.

UM NOVO PARTIDO, PDP - PARTIDO DOS DESCONTENTES DOS PARTIDOS

O inimputável Alberto João, homem em permanente “silly season”, certamente farto das calmas águas do Porto Santo, resolveu criar umas ondas. Avisou que, ou isto muda, ou está na altura de formar um partido, o Partido Social Federalista. O isto, parece ser a liderança da Dra. Manuela Ferreira Leite de quem o Alberto João é um admirador, mas inclui o governo do famoso Sr. Pinto de Sousa, mais conhecido por Primeiro-ministro, outra paixão do Alberto João, (que rima bonita). É mais ou menos claro que ninguém com senso parece levar o homem a sério, mas parece-me uma ideia a considerar.
É certo que os partidos são uma das bases das sociedades democráticas. No entanto, os partidos não podem ser donos da democracia e transformá-la numa partidocracia, situação particularmente evidente na nossa vida política. Isto coloca-nos numa espécie de beco, por um lado, as mudanças na nossa sociedade, de acordo com a cultura e quadro normativo em vigor, estão fortemente dependentes dos partidos, por outro lado, a praxis e cultura dos partidos existentes parecem constituírem-se como fortes obstáculos à mudança. Nesta perspectiva, ou alteramos a cultura e quadro normativo existente através dos partidos, o que parece impossível, ou criamos, também através dos partidos alguma forma de alternativa. É aqui que a ideia do Alberto João tem pernas para andar. Eu subscrevo a hipótese de um novo partido que federe os descontentes com os partidos, ou seja, o Partido dos Descontentes dos Partidos. Parece-me uma ideia com potencial político e capaz até de ser uma forma interessante de combate à abstenção, que cada vez parece mais constituir-se a opção partidária dos portugueses.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

DE PEQUENINO SE TORCE O DESTINO

De acordo com dados ontem revelados pela Inspecção-Geral de Educação, no último ano lectivo uma em cada dez crianças não obteve vaga em estabelecimentos de educação pré-escolar públicos. Em 2006/2007, 48% das crianças nesta idade frequentaram estabelecimentos privados. Em termos globais podemos dizer que a taxa de cobertura nacional ainda está longe do ideal e o recurso a estabelecimentos privados é excessivamente oneroso para muitas famílias, além de que os horários não são compatíveis com os horários laborais dos pais.
É importante sublinhar que a não frequência de educação pré-escolar, só por si, não condena nenhuma criança ao insucesso, mas é ainda mais importante assegurar que todas as crianças tenham acesso, desde o início, a educação formal, condição fortemente contributiva para trajectos pessoais bem-sucedidos, em termo escolares, em termos educativos e, sobretudo, em termos pessoais.
O povo bem diz que “de pequenino se torce o pepino”, ou seja, o destino, e o combate à exclusão passa também por aqui.

FADO PORTUGUÊS

(Foto de Álvaro Dias)

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.

Tudo é incerto.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro …

Fernando Pessoa in Mensagem (excertos)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

VANESSA, A SÉRIO

Reuniram-se as condições necessárias. Vontade divina, a temperatura da água, a temperatura atmosférica, o vento, a qualidade da bicicleta, o piso e percurso ajustado, o fato desportivo high-tech, arbitragem simpática, apoio dos chineses, colaboração das adversárias (excepção feita a uma australiana de mau feitio), excelentes condições de alojamento, descanso e alimentação, espaços para ocupação de tempo livre anti-stress competitivo, presença da família e ai está a medalha de prata do nosso contentamento, a de Vanessa Fernandes no triatlo.
Agora a sério, com metade da humildade, garra e da ambição desta miúda, para além, naturalmente, da sua qualidade desportiva, alguns dos outros desportistas portugueses presentes em Pequim, teriam feito melhor figura, sobretudo calados. Merece felicitações. Apenas uma nota, o velho Lau tinha mesmo de lhe chamar Vanessa?

UM HOMEM CHAMADO AMARGO

Era uma vez um homem chamado Amargo. Parecia estar sempre zangado, tudo e todos pareciam aborrecê-lo. Não gostava de gente pequena porque só faz barulho e disparates, nem de gente grande porque nada de interessante tem para mostrar. Com os colegas de trabalho falava apenas o necessário, não os achava merecedores de maior atenção. É claro que vivia sozinho, ninguém que pudesse cativá-lo se tinha cruzado com ele. Pensava que toda a gente que para ele olhava imediatamente decidia arreliá-lo. O mundo, acreditava, não o entendia e estava contra ele.
Não vivia feliz, não compreendia porque tudo lhe parecia tão desagradável, sobretudo as pessoas.
Um dia, em casa, estava a olhar para o espelho como muitas vezes fazia e, de forma surpreendente, a sua imagem começou lentamente a transformar-se num enorme limão. Engoliu em seco e percebeu então como ele próprio tinha um sabor tão azedo. Nunca tinha dado por isso, mas era impossível de aguentar.

domingo, 17 de agosto de 2008

O JUÍZO DOS JUÍZES

Neste verão envergonhado e a meio das férias eis que surge uma situação que merece a melhor atenção e aplauso. Uma decisão do Tribunal da Relação de Guimarães alterou uma decisão de uma juíza do Tribunal de Menores de Braga e criticou-a pela decisão tomada. Em síntese, depois da mãe falecer, uma menina ficou com a irmã que pediu a sua guarda. A Juíza, certamente uma amanuense conhecedora de leis mas desconhecedora de pessoas, com base numa disposição do Código Civil segundo a qual “em caso de morte da progenitora, o poder paternal será exercido pelo progenitor”, entregou a guarda da criança ao pai, ausente em parte incerta e que não revelou qualquer interesse pela criança. Parece mentira, mas a juíza assim decidiu. Felizmente, o recurso para o Tribunal da Relação remediou esta decisão delinquente e o despacho ainda explica à incompetente juíza que as leis se destinam a servir as pessoas e que, no caso particular dos tribunais de menores, existe o incontornável, e tão esquecido, supremo interesse da criança.
Seria bom que a decisão e despacho invulgar do presidente do Tribunal da Relação de Guimarães, António Gonçalves, fizessem escola e que os juízes dos tribunais de menores não fossem apenas uns aplicadores administrativos de leis.

sábado, 16 de agosto de 2008

UM DELINQUENTE BEM FORMADO

Os dias de hoje não estão a ser fáceis de viver. É verdade, estou a falar da crise, mas não só. Existe também uma forte preocupação com a questão dos valores e da segurança nas comunidades. Frequentemente, associamos, crise económico-social, crise nos valores e aumento da delinquência nos seus diferentes níveis.
No entanto, vão acontecendo situações que nos mostram que delinquência não é incompatível com valores ético-morais. O JN refere um indivíduo que terá alugado o mesmo apartamento em Albufeira a cerca de 80 famílias. A ocupação do T2 deveria acontecer hoje, mas na passada 5ª feira à noite os interessados receberam uma simpática SMS do empreendedor agente imobiliário, informando que o T2 não existia, não valia a pena a deslocação, tinha fortes motivos para a sua acção e, finalmente, pedia desculpa pelas férias estragadas. Assim sim, um tipo é burlado, mas com elegância e respeito e com direito, ainda, a um formal pedido de desculpas. Eu acho que este indivíduo, se for identificado, deveria ser convidado a desenvolver acções de formação para delinquentes, dos vários tipos, ao abrigo do Programa Novas Oportunidades, promovendo melhores padrões éticos e morais nestes grupos profissionais. A comunidade agradece.

A MINHA BICICLETA

(Foto de José Ferreira)

Não sei se ganhei, não sei se perdi, sei que me diverti. Num tempo em que o nosso mundo crescia dos livros de aventuras e dos passeios de bicicleta.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

SR. TONY, FRANCAMENTE!

A pouco e pouco todas as bases da nossa confiança e bem-estar abanam e deixam-nos mais frágeis. Logo numa altura em que, surpreendentemente, temos alguns indicadores animadores em termos económicos e na tragédia do desemprego, cai-nos em cima este balde de água fria, num verão que nem quente é. De acordo com queixas à Sociedade Portuguesa de Autores, Tony Carreira terá plagiado canções dum rapaz mexicano, Christian Castro. Não é possível, um homem que enche estádios, reboca a selecção de futebol, vende milhões, tem efeitos terapêuticos (é verdade, ouvi uma vez uma senhora dizer na televisão que o Sr. Tony lhe tinha curado a depressão), é agora acusado de plágio. E logo numa canção chamada “Depois de Ti(Nada)” que se terá inspirado em “Después de Ti Qué”. Sr. Tony, a confirmar-se, isto não é bonito. O senhor é um farol inspirador, tem responsabilidades sociais. Vamos confiar em quem? Só falta mesmo que alguém nos venha dizer que as letras, que parecem tão originais, bem escritas e pensadas, dessa outra mítica figura da nossa cultura, Quim Barreiros, foram plagiadas de algum obscuro cantor sul-americano.

TEMPOS DA VIDA

É inevitável. Sempre que mais um ano passa por nós, pensamos no tempo e nas alterações que se vão verificando na relação com ele. Quando era miúdo, jovem, há já muitos anos, tinha a sensação de que o tempo demorava muito tempo, demasiado tempo, a passar. Era um tempo de pressa, de cres-ser. Quando comecei a minha vida profissional e vida familiar própria, emergiu a dificuldade de transformar, organizar o tempo, tanto sobrava como faltava. A partir de certa altura, não sei dizer qual, a gente sente, a relação com o tempo muda significativamente e fica algo entre o ambíguo e o paradoxo. Por um lado, sentimos que a velocidade do tempo é bem superior à do relógio, o amanhã é ontem, com tanto ainda por fazer. Por outro lado, creio que se consegue assumir uma atitude de serenidade face às coisas da vida, ao tempo, que retira pressa e, apesar da Atenta Inquietude, nos dá brandura como se diz no meu Alentejo.
Este tempo velho também nos faz olhar para dentro e perceber o gozo de começarmos a atingir, do ponto de vista social, alguma inimputabilidade. Não se assustem, é que quando dizia ou fazia certas coisas aos vinte e poucos recolhia, frequentemente, um olhar reprovador. Actualmente, as mesmas afirmações ou comportamentos garantem-me um sorriso de condescendência e empatia, “já velho e como ele se porta”. Porreiro pá, como diria o Engenheiro. Outra enorme conquista do tempo velho é a possibilidade de contar histórias, no fundo é isso que se espera e, talvez por isso, cada vez gosto mais de histórias. Finalmente, chegando a este tempo velho, sabe bem uma viagem assim grande à beira de quem gostamos.
Pois então … que contem muitos.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

MENDES BOTA? NÃO, OBRIGADO

Para assegurar a animação de férias no PSD, temos agora a novela da ida, ou não, da Dra. Ferreira Leite à festa do Pontal. A senhora diz que não vai, não considera o arraial o evento adequado para um discurso de “rentrée” política, prefere a universidade de verão em Castelo de Vide. É claro que a decisão da chefe é um pretexto para a rapaziada do contra mandar umas bocas. O menino guerreiro, Santana Lopes, obviamente, não está de acordo, o partido não é só para universitários, também é para o povo, e o povo está no Pontal. Até o Eng. Ângelo Correia faz o sacrifício de ir ao Pontal, porque é um fundador e alguém importante! tem que lá ir.
Pois eu acho muito bem que a Dra. Ferreira Leite não vá. Reparem bem. A senhora está de férias, tem que procurar rapidamente algumas ideias para apresentar como alternativa de governo, não é propriamente uma gaiata e não é reconhecidamente uma amante de arraiais. Por outro lado, é preciso ver o que a espera. Iria apanhar com um cheiro a sardinhas assadas que até agonia. Apanhava com aquele povo todo que vem atrás de meia dúzia de sardinhas e três copos de sangria manhosa à borla. Mas o pior de tudo, motivo, aliás, para qualquer pessoa com um mínimo de senso e bom gosto evitar pôr os pés no Pontal, é ter que levar com o Mendes Bota. O conhecido entertainer e organizador de jantares e arraiais, costuma fazer discursos com um nível próximo ao de Jaime Ramos e Alberto João. Mas mais grave que os discursos, é que o homem tem a mania que é poeta e cantor do mais fino recorte artístico-literário e pode não resistir à tentação de mostrar os dotes.
É certo que a carreira política exige sacrifícios, mas tudo tem um limite. Eu compreendo-a Dra. Ferreira Leite.

OS SONHOS DOS MIÚDOS QUE SONHAM

As férias, quando existem, dão-nos a possibilidade de ler ou reler, aquilo que não cabe no resto do ano. A quem se interessar por putos, sonhos e livros bonitos sugiro “O sonhador” de Ian McEwan, já publicado pela Gradiva em 1999 e este ano editado em livro de bolso pela D. Quixote/Gradiva.
Para convidar quem não o conhece, ou quem já o guardou, as primeiras linhas:

“Quando Peter Fortune tinha dez anos, os adultos diziam muitas vezes que era uma criança “difícil”. Peter nunca percebeu o que isso significava. Não se sentia nada difícil. Não atirava garrafas de leite aos muros do jardim, não despejava ketchup por cima da cabeça a fingir que era sangue, nem sequer dava com a espada nos tornozelos da avó, embora às vezes essas ideias lhe passassem pela cabeça. Tirando os legumes (excepto as batatas), o peixe, os ovos e o queijo, comia tudo. Não era mais barulhento, mais porco ou mais estúpido do que as pessoas que conhecia. Tinha um nome fácil de dizer e de soletrar. O seu rosto, pálido e sardento, era facílimo de fixar. Ia todos os dias para a escola e nunca refilava por causa disso. Limitava-se a ser tão monstruoso para a irmã como ela era para ele. A polícia nunca veio bater-lhe à porta para o prender. Nunca apareceram médicos de bata branca a quererem interná-lo num manicómio. Segundo lhe parecia, era uma pessoa até bastante fácil. Que haveria nele de difícil?
Peter só o compreendeu em adulto. As pessoas achavam que ele era difícil por ser tão calado. Esse seu silêncio parecia incomodar as outras pessoas, bem como o facto de gostar de estar sozinho … para poder pensar à vontade.”
Depois contem.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

É ESTRANGEIRO, É BOM

Segundo o INE, enquanto o número global de casamentos diminuiu 16.6% entre 2001 e 2005, o número de casamentos em que um dos cônjuges é estrangeiro, duplicou no mesmo período. As razões, não referidas na notícia do Público, podem ser de natureza diversa. Muitos dos imigrantes que acolhemos são oriundos de países de forte influência religiosa, pelo que as ligações que estabelecem são ao abrigo do sagrado laço do matrimónio e não alinham nessas modernices das uniões de facto, que são como as massagens, “sabemos como começam, mas não sabemos onde vai parar”. Uma outra hipótese, dizem algumas más-línguas, remete para o facto de o casamento ser um bom expediente para a regularização da situação de imigrante. Eu não acredito, as pessoas só se casam quando existe um verdadeiro e, espera-se, eterno amor. Finalmente, também poderá acontecer que esta situação se explique com aquela atávica ideia de que “se é estrangeiro, é bom” e então, casamos mesmo.
De qualquer forma esta atitude de abertura dos portugueses e portuguesas é bonita, até porque, como é sabido, verifica-se um movimento na Europa dificultando a imigração, de que é exemplo a Directiva de Retorno.

O PORTUGAL PROFUNDO - CONFIANTE E OPTIMISTA

Parece que alguns estudos sugerem que nós, portugueses, revelamos pouco optimismo e confiança. Pode ser verdade, mas se ouvirmos “a rua”, como dizem os políticos, o optimismo e a confiança abundam. Alguns excertos de conversas da “rua”.
1
- Aaaiii (grande suspiro)
- Que se passa?
- Nem sei que te diga.
2
- Oi Zé, tudo bem contigo?
- Vai-se andando, sei lá.

3
- Então Manel, que achas desta situação?
- Não anda, nem desanda.
4
- A saúde como é que vai?
- Mais ou menos, tem dias.

5
- Olá D. Maria, está com bom aspecto!
- Nem me diga, tou que nem posso.

6
- E os miúdos, estão bem.
- Sabes como é, desenrascam-se.

7
- Isto vai ter que melhorar.
- Qual quê, isto nunca mais se endireita.
8
- Então Sr. Francisco, bem-disposto?
- Olhe, cá estamos.

Chega, estou deprimido, isto não me leva a lado nenhum.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

E PORQUE NÃO OS MINISTROS EM LEASING?

Segundo o Correio da Manhã, a frota automóvel ao serviço de ministros e Primeiro-ministro será fornecida em regime de leasing operacional, facilitando a sua renovação, por um lado, e baixando custos, supõe-se, pois não fica na posse do estado após a rápida desvalorização deste tipo de bens.
Deve ser deste Verão esquisito, mas lembrei-me de uma ideia esquisita, estudar a hipótese de os próprios ministro serem fornecidos em regime de leasing operacional e mediante concurso público. Mais facilmente seriam também renovados e a existência de concorrência faria subir, entende-se, a sua qualidade. Acontece ainda que, como é sabido, os ministros, após a sua rápida desvalorização são, normalmente colocados na administração de empresas de capitais públicos onde a sua gestão incompetente produz prejuízos significativos mas que, estranhamente, é premiada por decisão dos próprios. Se tivermos os ministros fornecidos em leasing operacional, finda a sua utilização não ficam a cargo do estado o que reduziria substancialmente a despesa pública, abrindo ainda a porta das empresas a gente, eventualmente, mais competente.
Não, a ideia é mesmo esquisita.

PORTUGUÊS, À CONDIÇÃO

Se tiver sorte. Se alguém lhe der a mão. Se arranjar trabalho. Se o patrão não embirrar com ele. Se encontrar alguém de quem goste. Se for trabalhador. Se for uma pessoa séria. Se tudo correr bem. Se for sempre assim. Se forem todos como ele. Se tiver saúde. Se for cumpridor. Se não tiver azar na vida. Se se der bem. Se se for safando. Se tiver paciência. Se tiver jeito. Se for esperto. Se for esse o destino. Se for poupadinho. Se não se armar em parvo. Se eles não derem cabo disto tudo. Se não der barraca. Se fizer pela vida. Se tiver esperança.
Se Deus quiser.
Será um português, incondicionalmente, feliz

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O VELHINHO CONCURSO DAS "CONSTRUÇÕES NA AREIA"

Não tenho conhecimento objectivo sobre a causa ou causas que levaram à situação actual das praias da Costa da Caparica. Suspeito que os "bons" tratos dados à Terra, não serão alheios. Por outro lado, lembro-me que, em miúdo, tinha de caminhar umas centenas de metros no areal do Dragão Vermelho para chegar à água. Lembro-me também, desde sempre, de ouvir aos velhos “o mar há-de vir buscar o que lhe tiraram”. Tudo isto a propósito do início do “enchimento” das praias da Costa com areia. Não ouvi ninguém garantir que este lifting garanta praia, ou sequer, Costa da Caparica daqui a alguns, poucos, anos. Será que isto não se trata de uma forma cara de retomar o concurso “Construções na areia” promovido pelo DN nas praias da Costa, que nós aguardávamos com ansiedade, mas cujos resultados desapareciam na primeira maré alta?
Também soube há dias que se encara a possibilidade de criar na costa de Cascais um recife artificial para criar uma “onda” de surfísticas qualidades.
O “tunning” à natureza não costuma dar bom resultado. Veja-se, de novo, a Costa da Caparica.

À ESPREITA

(Foto de Mico)


Vive-se à espreita.
Espreita-se o mundo que se pode espreitar. Espreita-se a vida que se pode espreitar. Espreita-se a gente que também está à espreita. Espreita-se a espera. Espreita-se a dor e a alegria que nos espreitam.
Espreita-se para dentro de nós à procura do que está sempre à espreita, mas não deixa que se espreite.

domingo, 10 de agosto de 2008

CRIANÇAS À VARANDA DE UM PAÍS NÃO AMIGÁVEL

Segundo um estudo da Associação para a Promoção da Segurança Infantil, referido no DN, as varandas em Portugal constituem, frequentemente, um perigo para as crianças devido, sobretudo, a altura insuficiente, intervalo excessivo entre traves e existência de grelhas que permitem a subida e consequente risco de queda. E são só as varandas que em Portugal são perigosas para as crianças? Não, definitivamente, Portugal não é um país amigável para os mais pequenos. Vejamos algumas situações.
Somos um dos países com mais alta taxa de acidentes domésticos que envolvem crianças. Entre as causas figuram negligência e facilitismo no acesso a objectos e materiais perigosos. Refiram-se também os, tragicamente na moda, acidentes fatais em piscinas.
Temos uma atitude negligente relativamente à alimentação dos miúdos fazendo com que a obesidade infantil seja um verdadeiro problema de saúde pública.
Temos a mais alta taxa de abandono e insucesso escolar da UE.
Temos um volume enorme de crianças e jovens institucionalizadas, muitas delas sem qualquer projecto de vida viável.
Temos sistemáticas notícias de situações graves envolvendo crianças vítimas de abusos e maus tratos que “já estavam sinalizadas” mas que, por qualquer razão, acabam por ter desenvolvimentos dramáticos e sempre “inesperados”.
Creio que já é suficiente para percebermos o quanto está por fazer no sentido de nos tornarmos um país mais amigável para as crianças. E a grande questão é que, em muitas situações, o problema é mais de atitude e cultura, que de leis, meios ou recursos.

sábado, 9 de agosto de 2008

QUE SE INTERDITE

O Senhor Presidente da República, decerto para descansar do exaustivo dia em que alvoroçou o país com uma incompreendida comunicação sobre o Estatuto dos Açores, recolheu ao aconchego da vivenda Mariani no All Garve. Ao que parece, para proteger o descanso, privacidade e segurança da família presidencial, o espaço aéreo daquela área foi interdito. Muito bem. No uso do inalienável direito à equidade no tratamento, venho junto de quem de direito solicitar algumas medidas que me protejam, e aos meus, o bem-estar e as, espero que concordem, merecidas férias. Assim solicito a interdição de:
. Mais comentários do “criminologista” Moita Flores sobre o recente jogo disputado entre uma equipa do GOE e uma selecção brasileira de segunda escolha. É que depois, pode ainda vir o inenarrável Rui Santos explicar as opções técnico-tácticas.
. Mais comentários do Dr. Rogério Alves sobre o “caso Maddie”.
. O Preço Certo na RTP1.
. Notícias sobre a chegada ao All Garve de mais uma obscura, ainda que bem-parecida, artista de telenovela, agora que as férias dos futebolistas acabaram.
. Mais referências à triste exibição de (i)maturidade do miúdo Cristiano Ronaldo em torno da eventual saída do Manchester.
. Anúncios de mais reforços para a equipa do Benfica.
. Referências constantes às medalhas que SEGURAMENTE vamos trazer de Pequim.
. Intervenções de militantes do PPD-PSD sobre militantes do PPD-PSD.
. Exibição televisiva de intervenções do inimputável Alberto João.
. Noticiários televisivos com mais do que 30 minutos.
Como vêem, não peço muito. Só de imaginar isto, já me sinto mais descansado.

VIDA DE NADA

Sem esperança
Sem tempo
Sem terra

Sem sonho
Sem alguém

Sem saber
Sem conhecer
Sem pensar

Sem desejar
Sem ter
Sem querer

Nada.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

IGUALDADE, FUZILEIROS E "MINIS"

Em artigo no DN, Fernanda Câncio questiona as conservadoras posições das chefias militares no que respeita ao papel das mulheres nas Forças Armadas, designadamente, participação em combate e acesso a corpos militares de elite. Os comentários das esclarecidas criaturas vinham a propósito do despacho do Ministro da Defesa que acaba com a impossibilidade das mulheres fazerem parte dos fuzileiros, por exemplo. O argumentário é o habitual, fraqueza física e/ou psicológica, nada de novo.
Curiosamente, também no DN, era noticiada a situação de uma mulher de Freamunde ter sido detectada a conduzir com 4,2 g/l de álcool no sangue. A senhora achou estranho o procedimento das autoridades porque se sentia muito bem e a conduzir normalmente. A D. Emília, assim de mansinho mandou umas bofetadas nos generais e almirantes que falam de fraqueza feminina. 4.2 g/l de álcool é fraco? É d’homem! Até de fuzileiro!

TEMPOS MODERNOS

Mãe, posso ir buscar …
Não Manel, não te podes levantar ainda.
Mãe, posso brincar com …
Não Manel, isso não é para brincar.
Mãe, posso fazer …
Não Manel, sabes que não se faz.
Mãe, eu queria …
Não Manel, é claro que não podes.
Mãe, posso pôr …
Não Manel, que ideia.
Mãe, vou agora ver …
Não Manel, agora não.
Mãe, posso ir ter com …
Não Manel, é perigoso.
Mãe, posso dizer à …
Não Manel, ela não pode.

Pois é D. Rita, continuando a nossa conversa agora que o Manel se calou, os miúdos, hoje em dia, não têm iniciativa para nada, temos que ser nós a dizer tudo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

GRANDES E PEQUENOS, PROBLEMAS

Às vezes, assusta-me a facilidade desatenta com que adultos, infelizes e doentes, tornam doentes e infelizes os miúdos.
Estranhamente, em nome do amor que lhes têm.
Não é justo.
Os putos não merecem.
E os adultos também não.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

HÁ MAIS MARÉS QUE MARINHEIROS

Desculpem lá, sei que não é assunto de transcendente importância, como a comunicação do Presidente sobre o Estatuto dos Açores, que parou o país, embora creia que a esmagadora maioria dos portugueses não tenha percebido, exactamente, o alcance das suas preocupações.
Mas aqui de um cantinho de mar da Ericeira, li e não acreditei. O menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, está irritado com a imprensa cor-de-rosa. Parece que andaram a ver, e divulgar, comentando, as férias do menino e as suas companhias. É evidente que para o cidadão comum é uma questão que se não põe, porque inaceitável, ver a sua vida comentada na imprensa light. Mas Santana Lopes não é um cidadão comum, é um produto light, de má qualidade e que sobrevive da atenção do mundo light. Lembrar-se-ão das célebres fotografias de lenço na cabeça, em feliz e publicitado passeio de férias com uma das santanetes. Isso é Santana Lopes. Embora nos queira convencer que cresceu e tem outra maturidade, como se diz na minha terra, “tarde piaste”. Se a sua “irritação” for séria, então, “há mais marés que marinheiros”.

SEM NINGUÉM POR PERTO

Era uma vez uma mulher chamada Mãe e uma rapariga pequena chamada Filha. A Mãe e a Filha gostavam uma da outra, parecia, mas a sua relação era difícil. A Mãe lidava com a Filha como se ela já fosse mais crescida e a Filha comportava-se como se fosse mais pequena do que era. Os conflitos eram frequentes.
Um dia, no jardim, a Mãe estava com a Filha e os incidentes repetiam-se. Pertinho, atento ao que se passava, estava o Professor Velho, aquele que está na biblioteca da escola e fala com os livros. Reparando nele, a Mãe desabafa para o Velho, “não me consigo entender com esta miúda”.
Naquele jeito de falar baixinho, disse o Velho, “Sabes Mãe, quando estás com a Filha, sem que te dês conta, estás com uma rapariga que existe na tua cabeça e que não é igual à Filha. Por sua vez, a Filha está um bocadinho perdida porque, sem perceber porquê, sente que tu, Mãe, não estás com ela, o que a assusta e faz ficar “pequenina”, à espera de protecção. Acho que era bom que vocês se encontrassem, sem ninguém por perto”.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

YA

Olá Zé, tudo bem?
Ya.
Estás de férias?
Ya.
A escola correu bem?
Ya.
Continuas a pensar ir estudar Comunicação Social?
Ya.
Para trabalhares como jornalista?
Ya.
Então gostas de comunicar com os outros?
Ya.
Parece que não está muito fácil o emprego nessa área?
Ya.
Mas quando se gosta mesmo, vale a sempre a pena tentar.
Ya.
Vai correr bem.
Ya.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

HÁ QUE PROTEGER O CDS-PP

Face a alguns entendimentos mais fundamentalistas da legislação europeia, à ineficácia da política portuguesa na protecção dos produtos tradicionais e a alguns excessos de zelo da ASAE, são de saudar as iniciativas legislativas que, no seu conjunto e sem comprometer a qualidade dos produtos, protejam a nossa identidade e especificidades sociais, culturais e gastronómicas.
No Público, o deputado do CDS-PP, Hélder Amaral, embora sublinhe como positiva a iniciativa, reclama mais alcance sustentando a insuficiência das medidas agora apresentadas.
Poder ser que este ventinho da Ericeira, aligeire as ideias, mas não será que o ilustre deputado teme que as medidas de protecção a produtos artesanais e em vias de extinção agora estabelecidas não sejam suficientes para evitar o desaparecimento do CDS-PP?
Por mim, apelo desde já, à compreensão da ASAE e a toda a comunidade para que contribua para a protecção do cada vez mais pequeno CDS-PP. É que não imagino a política à portuguesa sem o dedinho em riste e aquele frémito no olhar do Dr. Portas, o Paulo, e sem a lúcida análise e brilhante argumentário da Dra. Teresa Caeiro.

ANDAR NA LINHA

(Foto de Lúcia Pedro)

Só os pássaros são capazes de não andar na linha.
Felizmente.
Algumas pessoas voam.

domingo, 3 de agosto de 2008

O CAJÓ FOI À PRAIA

O Cajó acordou a pensar em ir à praia. O Cajó é um rapaz que é mecânico e faz uns biscates para a malta do chunning (que é o tunning de quem não tem dinheiro). Acordou a Odete e disse-lhe para pôr na geleira umas “mines”, uns “semóis” para os miúdos e umas sandes, que iam todos para a praia. Tinham que ir cedo porque é Domingo e o pessoal vai todo para a praia.
Não começou muito bem porque o Punto não queria pegar e o Tólicas, o mais velho, não encontrava a bóia que tinham dado no Lidl. Chegaram à Ponte e, para ajudar, levaram uma hora para a atravessar. Já estava a começar a desatinar, mas a Micas, a mais nova, lá se calou e adormeceu. Finalmente, chegou à Costa e teve sorte, arranjou um lugar para estacionar, embora a tapar a saída a outro carro. Mas o Cajó achava que o gajo do carro era capaz de só sair depois deles e, portanto, “tá-se bem”.
Na praia, estava maré cheia e o espaço não abundava. Assim, pediu desculpa a um casal simpático que estava ali, afastaram-lhe as toalhas e estendeu as toalhas para a família toda. A geleira ficou debaixo do chapéu-de-sol que dizia Sporting, uma oferta do cunhado, um ganda lagarto. Para aquecer um bocado, e porque já não aguentava o cheiro da Odete toda besuntada para se estender ao sol, foi jogar à bola com o Tólicas. Mas como havia muita a gente, estava chato para jogar, porque estavam sempre a acertar com a bola nuns velhos que nem se desviavam, parecia que faziam de propósito para arranjar confusão. Foram então ao banho, mas a água estava fria “comó caraças” e resolveu estender-se ao sol um bocado. Então, o Cajó reparou que, pertinho, estava uma miúda “boa comó milho”, pôs-se mais a jeito, e para disfarçar, que a Odete é ciumenta “à brava”, enfiou os óculos escuros, por acaso muito giros, marca Ray-ban, que tinha comprado no mercado por 5 euros a um indiano. Às tantas, a Odete topou que ele não tirava os olhos da miúda do lado e armou uma peixeirada das antigas. Ficou o caldo entornado, comeram as sandes e o Cajó mandou arrumar a tralha para não apanhar bicha na Ponte. Quando chegou ao carro, quase que se pegou à pancada como o dono do carro que estava entalado e já estava à espera, disse ele, há uma hora. Lá se acalmaram.
Toda a gente deve ter pensado como o Cajó. Gastou mais uma hora e tal, mas lá conseguiu chegar a casa, os putos todos amassados a dormir no banco de trás do Punto, a Odete com umas trombas pior que a mãe e ele a pensar para consigo.
“Mas quem é que me mandou ir prá praia, porra. Tinha ido, sozinho, dar uma volta até ao Centro Comercial, via as miúdas à mesma, bebia umas imperiais, estava fresquinho, não gastava gasolina e não me chateava. Ganda camelo”.

sábado, 2 de agosto de 2008

O MILAGRE DA PRODUTIVIDADE

O Público informa-nos que, nos últimos dois dias antes da entrada em vigor do novo Código de Contratos Públicos, 30 de Julho, os mais diversos serviços da administração abriram cerca de trezentos concursos e que se verificou uma média de quarenta por dia nos últimos dois meses, enquanto a média habitual se situa nos dez por dia. Tudo isto para, naturalmente, evitar as novas regras. Duas notas.
Primeira nota. Mais um bom exemplo do Portugal dos Pequeninos em acção. Pressupõe-se que a alteração de regras se justifique para melhorar, ajustar, alterar os procedimentos. No entanto, a administração, a mesma que promove as alterações, reage no sentido de as evitar. Dá para entender? Dá, trata-se da cultura instalada em parte significativa da nossa administração e resistente a qualquer simplex, com medo do rigor e da transparência.
Segunda nota, esta mais reconfortante. Quando tantas vezes a administração é acusada de baixa produtividade, aqui está uma bofetada nas injustas críticas. Preparar quarenta concursos por dia durante dois meses, trezentos em dois, quando habitualmente a produção é de dez por dia mostra a capacidade produtiva dos serviços. É de louvar e atribuir um prémio de produtividade em evento a agendar para o efeito, com a presença do Primeiro-ministro e mais dois ou três ministros, que estejam disponíveis, um power-point alusivo e, claro, um discurso sobre a esperança dos portugueses e a genialidade das políticas do governo.

(DÚ)VIDA

E se eu
talvez ela
ou não

Mas se ela
será que eu
e porque não
ou até
mas

E se nós
então
e talvez
ou até
e assim

Porque não?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A BIRRA DO BERARDITO E DO JARDINZITO

O Berardito e o Jardinzito andavam no mesmo Jardim de Infância. Os miúdos que lá andavam não tinham muitos brinquedos, mas o Berardito e o Jardinzito já tinham mais do que os outros. O Jardinzito, que era esperto até dizer chega, começou a emprestar brinquedos a quem tinha poucos e quando os miúdos devolviam os brinquedos emprestados, tinham de dar outro a mais. É claro que o Jardinzito arranjou uma pipa de brinquedos.
O Berardito que também já tinha muitos brinquedos que tinha trazido de outros Jardins de Infância onde andara, lembrou-se de combinar com o Jardinzito uma coisa que era assim. O Berardito punha os brinquedos que tinha no caixote do Jardinzito, este emprestava-os aos miúdos que não tinham e quando os miúdos devolvessem com os tais brinquedos a mais, esses brinquedos também eram para o Berardito. E este jogo foi andando bem. Às tantas, parece que o Jardinzito deixou mais alguns miúdos entrar no jogo de ganhar brinquedos, alguns, consta, sem dizer nada a ninguém, nem às educadoras. Vai daí, o Berardito chateou-se e começou a fazer queixinhas do Jardinzito, que ele tinha feito aldrabices, que era parecido com um velho mau que havia antigamente, etc. O Jardinzito não gostou e diz que se o Berardito não pedir desculpa, vai fazer queixa à Directora e obrigá-lo a dar-lhe uma Play Station, três livros do Noddy, um DVD do Avô Cantigas e um Magalhães, tudo isto, como um castigo simbólico.
E assim se cumpre Portugal.

TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS - SANTOS SILVA E PACHECO PEREIRA

Duas notas sobre o universo da comunicação social.
O ideólogo do governo, o ministro Augusto Santos Silva, vem defender que a RTP entrou no concurso, com altíssimos custos, para a transmissão de jogos da Liga de Futebol por entender os jogos de futebol como “factores de identidade portuguesa” e, portanto, susceptíveis de se enquadrar no conceito de serviço público. Ou o ministro abusou do sol na moleirinha, ou acha que somos tontos ou o arrogante despudor é tanto, que entende poder dizer qualquer coisa que lhe passe pela cabeça para justificar o injustificável. Transmitir jogos do campeonato de futebol profissional é serviço público por razões de identidade cultural? Não, com essa justificação determine à sua RTP a transmissão dos torneios de sueca, de bisca, de dominó, de chinquilho, da lerpa, do berlinde, das corridas de arco e gancheta, dos carrinhos de rolamentos, etc., mas, sobretudo, não goze com a gente.
A segunda nota é para chamar a atenção para um notável texto da jornalista Fernanda Câncio, hoje no DN, sobre um dos maiores bluffs da política à portuguesa, o grande, o mestre, o sábio, o omnisciente, o farol, o terror de qualquer líder político-partidário, o oráculo infalível, o analista definitivo, enfim, o enorme José Pacheco Pereira. Vale a pena, e evitem considerações de preconceito face à autora, não merece

PAGAMENTO EM ESPÉCIE, QUE ESPÉCIE?

Parece interessante a proposta contida na revisão da legislação laboral, que permite o pagamento em espécie de parte da remuneração sem que se torne necessário o acordo prévio do colaborador (antes chamava-se trabalhador), conforme notícia avançada no Público. Sabemos que em alguns sectores constitui prática corrente o complemento do vencimento com alguma “espécie”, quase sempre ligada ao sector de actividade e sempre com a concordância do colaborador, o que agora deixaria de ser condição. Aguardam-se as posições das organizações representativas dos vários grupos de interesses. Considerando a maldita crise, creio que a proposta pode ter alguns aspectos positivos. É verdade, agora deu-me para ser optimista, ver o copo meio cheio.
Assim, uma primeira vantagem seria baixar o risco de endividamento das famílias, isto é, quem não tem dinheiro, não tem vícios. Como é público, o nível de endividamento das famílias é brutal. Diminuindo o montante disponível em dinheiro a tentação da compra poderá baixar.
Para fomentar o choque tecnológico poderia ser fornecido ao trabalhador um “cabaz informático” com um pack base a definir pelo ministro Gago.
Para combater as listas de espera e promover a acessibilidade a serviços de saúde, poderia ser fornecido um “cabaz saúde” de que constaria, por exemplo, um check-up e uma operação à escolha em estabelecimentos privados, mas com necessidade fundamentada.
Para promover a qualificação dos portugueses, poderia ser fornecido um “cabaz doutor” contendo um cheque propina para custear a frequência de ensino superior aos filhos do trabalhador.
Para fomentar a actividade cultural poderia ser fornecido um “cabaz cultura” com assinaturas para cinema, teatro, museus e concertos.
Para fomentar o bem-estar dos trabalhadores poderia pensar-se num “cabaz desportivo” que incluiria um fato de treino, umas sapatilhas e uma bicicleta.
Finalmente, estamos no tempo, poderia ser criado um “cabaz férias” com o fornecimento de uma semaninha numas termas à escolha dos colaboradores, de preferência com águas indicadas para problemas digestivos.

UM HOMEM CHAMADO CANTO

Era uma vez um homem chamado Canto. A sua vida foi um encadeado de cantos. Uma família grande, reservou-lhe um canto à mesa e outro canto para dormir. A escola, curta, foi passada ao canto. No tempo de brincar, ficava só, ao canto.
Por hábito, trabalhava, claro, no canto da oficina.
Sempre pelos cantos, um olhar de canto trouxe-lhe na volta um sorriso que lhe pareceu um encanto, e, atrás do sorriso, a mulher que, pela companhia, lhe iluminou o canto.
Os filhos preencheram-lhe os cantos à casa e a velhice deixou-o só, de novo, a passear pelos cantos.
O Sr. Canto repousa agora, discretamente, num canto do cemitério, como sempre.