AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 20 de abril de 2008

CHUMBAR OU NÃO CHUMBAR, EIS A QUESTÃO

A entrevista que a Ministra da Educação concedeu ao CM constitui uma peça importante sobre a PEC, política educativa em curso. Tendo abordado variadíssimas matérias, quero referir-me à questão colocada em primeira página, “Ministra contra chumbos nas escolas”. Do meu ponto de vista haveria matérias bem mais pertinentes para realçar mas, verificou-se pelas referências e comentários que inundaram a net, que esta questão “vende”. Tenho frequentemente opiniões bem críticas da Política Educativa pelo que me sinto à vontade para sustentar sem dúvidas que, sobre esta questão, a Ministra tem, creio, a visão ajustada. Algumas notas justificativas.
Os estudos internacionais mostram que Portugal tem ao mesmo tempo, surpreendentemente para alguns, níveis altíssimos de insucesso e níveis altíssimos de “chumbos”. No mesmo sentido parece importante sublinhar que os países com mais altas taxas de sucesso escolar, nórdicos por exemplo, não prevêem na organização dos seus sistemas a figura chumbo, sobretudo para alunos mais novos. Não se prova, portanto, a ideia de que reprovar mais, produz mais sucesso.
Os estudos internacionais também mostram que os alunos que começam a chumbar, tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano não é, para muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a fórmula “qui redouble, redoublera” quando referem esta questão.
O grande problema é que fazer então quando os alunos não atingem os saberes exigidos? SÓ CHUMBÁ-LOS NÃO FUNCIONA. Trata-se de perceber as eventuais razões do insucesso, EM CADA ALUNO, e desencadear as práticas e apoios adequados, porque mantê-lo, SEM MAIS NADA no mesmo ano, muito provavelmente, conduzirá a um novo chumbo.
O que me preocupa é que a Ministra tendo enunciado bem, na minha opinião, o problema, não deixou claras as orientações políticas e práticas imprescindíveis. E assim, vão sempre surgir opiniões publicadas, muitas vezes ignorantes, sustentando que “se está a defender que se passe sem saber” e que se promove facilitismo quando, a Ministra tem razão, facilitismo é mandar um puto para o canto da sala, ficar no mesmo ano e esperar que ele se desenrasque. Ultra-liberalismo do duro, mascarado de exigência e rigor.

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