AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 16 de novembro de 2025

DOS SOLAVANCOS DA TRANSIÇÃO DIGITAL A TODO O VAPOR

 Como é sabido, as nossas políticas públicas têm como desígnio, gosto muito desta ideia do desígnio, a transição digital. Os caminhos que nos levarão ao futuro serão as estradas digitais e os algoritmos. Como tal, em todas as áreas do funcionamento das comunidades estamos em plena conversão ao digital e, naturalmente, à inteligência artificial.

É verdade que vamos tendo, como não podia deixar de ser, sobressaltos. Com demasiada frequência o terrorismo platafórmico que é contra o desenvolvimento e o futuro, desencadeia acções que deixam as nossas plataformas em dificuldades, mas nada que nos atrapalhe, para o digital a todo o vapor.

E na verdade os recursos digitais são omnipresentes e omnipotentes, estou a escrever estas notas justamente com recurso aos equipamentos digitais e é assim mesmo, “prá” frente é que é o caminho. Estamos de há muito habituados aos Velhos do Restelo e de outros sítios.

Com uma vida ligada entre os sete anos e a aposentação aos 70 à educação estou sempre mais atento a este universo e ao seu desenvolvimento até que porque acompanho de perto viagem dos meus netos pela escolaridade obrigatória.

Assim, duas ou três referências em linha com o futuro.

Na abertura da recente Websummit, Gonçalo Matias, ministro Adjunto e da Reforma do Estado prometeu a cada aluno um tutor de inteligência artificial, que, de acordo com o Ministro da Educação “ouve, orienta e inspira a aprendizagem”. Presumo que os professores, na sua esmagadora maioria, estarão particularmente entusiasmados com os seus novos ajudantes ou, quicá, novos colegas que minimizarão o efeito da falta de docentes e até, numa espécie de dois em um, dos custos da sua formação. A ver vamos.

Uma segunda referência retirada do JN.  Na Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, 26% dos alunos não tem kit informático, 348 computadores em falta. No 7.º ano nenhum aluno tem e no 8.º são mais de metade, de acordo com o director. Regista-se o enorme apoio do grupo de professores e de alunos do curso profissional de gestão de equipamentos informáticos na reparação e programação dos equipamentos. Como se percebe é um excelente exemplo de cooperação e formação com aplicação prática dos conhecimentos.

Uma outra referência, na EB 2, 3 e Secundária Padre António Morais da Fonseca, na Murtosa, apenas dois terços dos alunos têm computador funcional. A maior parte dos equipamentos estão parados em casa e a utilização dos que estão funcionais é, cada vez mais, restrita a trabalhos de grupo. Os alunos recorrem ao uso do telemóvel na sala de aula substituido os computadores.

Continuando no retrato da transição digital, segundo a presidente da CONFAP existem turmas inteiras sem kit digital atribuído pelas escola. De acordo como os presidentes das duas associações de direcções escolares, o número de computadores disponíveis é cada vez menor.

Recordo ainda que a verba destinada à instalação de equipamento das escolas para acesso à net por wi-fi saiu do PRR, mas ... são pormenores que, certamente, não atrapalharão os amanhãs que cantam em matéria de transição digital.

Finalmente, sugiro que não levem estas notas muito a sério, os amanhãs cantarão bem afinados e digitalizados. Os algoritmos não falham, mas os humanos, às vezes ... sim.

PS - A propósito, merece leitura e reflexão o texto de Pacheco Pereira, "O papel destrutivo do deslumbramento tecnológico na educação"

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