AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 11 de outubro de 2025

A LER "DUAS CADEIRAS VAZIAS". A PROPÓSITO, "UMA HISTÓRIA DE VULCÕES"

 Merece leitura e reflexão o texto de João Massano no Expresso, “Duas cadeiras vazias”. O autor reflecte sobre a tragédia do suicídio de dois jovens num curto espaço de tempo numa comunidade educativa na região de Viseu.

Na altura também aqui deixei umas notas de que retiro um excerto e acrescento uma história, “Uma história de vulcões”.

Corremos então o risco de alguns adolescentes, sobretudo em períodos mais crispados do ponto de vista social, como estamos a viver, entre “muros”, nas mais das vezes invisíveis, que apertam de mais e são difíceis de “saltar”. Vejamos alguns exemplos, se alguém os inquirir sobre o que pensam ser o seu futuro, o seu projecto de vida, muito provavelmente obterá uma resposta vazia, ou seja, não têm projecto de vida, não têm ideia de futuro, trata-se assim de viver o presente e apenas o presente. A adolescência é uma fase fundamental na construção da identidade. Certo, que identidades estão muitos destes jovens a construir? Revêem-se nelas? Ou sentem-se meio perdidos num mundo em que não sentem caber e encostam-se aos que estão tão perdidos quanto eles. Que referências sustentam muitos destes jovens? Os modelos adequados, o que quer que isto seja? Ou os modelos fornecidos por quem, como eles, vive o presente à pressa cheio de medo do futuro, procurando chegar a tudo antes que se acabe a oportunidade?

Por vezes lembro-me de Brecht, “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”. Esta ideia não tem como objectivo branquear ou desculpar os comportamentos socialmente inadequados de adolescentes, dirigidos a outros ou mesmo a si próprio, mas a verdade é que muitos vivem com margens demasiado estreitas.”

E agora “Uma história de vulcões”

Há uns dias, numa escola lá daquela terra onde acontecem coisas e onde vive o Professor Velho, aquele que está na biblioteca e fala com os livros, um dos gaiatos, o Marco, desencadeou uma cena complicada de gerir. Sem razão aparente e de forma súbita tornou-se muito reactivo, com uma atitude e uma linguagem muito agressivas. Os colegas, um pouco perplexos, afastaram-se, um funcionário tentou intervir, mas não foi bem recebido e apenas o aproximar de mansinho e a fala cativante da Professora Joana pareceram começar a tranquilizar o Marco.

O episódio foi, naturalmente, objecto de conversa, até porque nos últimos tempos já tinham acontecido outras situações da mesma natureza que alimentam o que a escola chama de onda de indisciplina.

Num grupo em que, de volta de um chá na sala de professores, se comentava o assunto o Professor Velho opinou daquela forma tranquila que talvez se tratasse de um problema de vulcões, poderia não ser essencialmente um problema de indisciplina. Face à estranheza que a afirmação provocou o Velho começou a falar de como se tem vindo a instalar em muitos miúdos um mal-estar que, quase sem darmos por isso, os vai preenchendo por dentro. Uns resistem e com alguma ajuda que lhes possamos dar, quando estamos atentos, vão acomodando defesas e ajudas e reorganizam-se, sobrevivendo. Outros, mais vulneráveis e a que não conseguimos estar atentos, acabam roídos por esse mal-estar entranhado e pode acontecer que se afundem, implodam, se deprimam e desistam de si e de lutar pela vida ou, foi o caso do Marco, que a pressão do mal-estar dentro deles se torne tão grande e insustentável que provoque a explosão, entrem em erupção descontrolada que liberte aquela mágoa que lhes rói o sentir. Depois dessas erupções podem entrar em período de acalmia até à próxima explosão.

É agora que teremos de ir à procura do Marco.”

 Nas escolas encontram-se imensos vulcões, uns em actividade, outros adormecidos e outros ainda em gestação. Os vulcanólogos, também conhecidos por professores, andam preocupados, falta-lhes tempo e apoios e um clima mais amigável. Como é reconhecido, as alterações climáticas têm efeitos negativos e o clima das escolas anda alterado.

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