AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 14 de setembro de 2024

E SE SIMPLIFICAR FOSSE UMA ORIENTAÇÃO?

 Para além da situação crítica relativa à falta de docentes que, entretanto, e sem estranheza, já origina uma guerra de números entre a anterior e a actual equipa do Ministério, têm sido conhecidas algumas medidas ou intenções que em termos de princípio me parecem no sentido certo ainda que com alguns aspectos a carecer de ajustamento, caso das provas de MoDa que substituem as provas de aferição e “não contam para nada” o que julgo de alterar.

Dessas medidas destaco os apoios a alunos migrantes com ajustamento na disciplina Português Língua Não Materna, tutorias pedagógicas de natureza preventiva para alunos em início de escolaridade ou o reforço do combate ao abandono escolar precoce. Ainda uma referência ao terminar do projecto MAIA e da sua pesada carga burocrática e o anúncio da promoção da análise da velocidade de leitura dos alunos dos primeiros anos.

Estas medidas de que se espera mais conhecimento levantam uma pequeníssima dúvida, de que forma e com que recursos, professores e técnicos, serão operacionalizadas?  O recurso a profissionais aposentados ou, pelo contrário, em formação, não é uma opção sustentável.

Por outro lado, julgo que se torna indispensável caminhar no sentido de diminuir a burocracia asfixiante que obriga as escolas, professores e directores, a uma espécie de "agitação improdutiva" consumindo esforço e recursos que, basicamente, apenas alimenta o cansaço e a ineficácia promovendo mais problemas que contributos para soluções.

A experiência mostrará certamente o impacto que medidas neste sentido terão na realidade escolar, mas qualquer passo no sentido de devolver tempo e tranquilidade aos professores e de economizar processos será positivo.

O quotidiano das escolas, dos professores está mergulhado numa complexa teia de procedimentos, situações, medidas, iniciativas, designações, acções, preenchimentos, actividades, relatórios, grelhas, indicadores, etc., na qual se enredam os processos educativos, a essência do trabalho que envolve alunos, professore e técnicos.

A esta dimensão do trabalho das escolas e agrupamentos acresce a gama sem fim de Planos, Projectos, Programas, Iniciativas, as combinações são múltiplas, destinados a tudo e mais alguma coisa, certamente relevantes e, sobretudo, inovadores.

Assim, em linha com o que por aqui já por aqui tenho sugerido, desejado, que alguma vez e de forma bem vincada, a tutela estabeleça a simplificação como orientação central nas diferentes dimensões das políticas públicas de educação.

Seria desejável e necessário que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a simplificação, professores, técnicos, alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” e a carga burocrática a que habitualmente escolas e professores estão sujeitos e que agora parece ser objecto de “emagrecimento”.

Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm de realizar e estão a realizar.

Sempre que falo desta questão recordo-me do Mestre João dos Santos, a quem tarda uma homenagem com significado nacional, quando dizia, cito de memória pelo privilégio de ainda o ter conhecido e ouvido, que em educação o difícil é trabalhar de forma simples, é mais fácil complicar, mas, obviamente, menos eficaz, menos produtivo e muito mais desgastante.

Talvez valesse a pena tentarmos esta via de mais simplificação. As circunstâncias já são suficientemente complicadas.

Como por aqui se diz, deixem lá ver.

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