AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

SER PEQUENO

 Dado o inexorável movimento dos dias cumpro hoje mais um marco de uma estrada que já vai longa. Há algum tempo passei a integrar a tribo dos “seniores” ou dos “idosos”. Depois associei-me à dos “reformados” ou “aposentados” apesar de manter alguma actividade. Hoje, chegam os 70, o conceito passará a ser “jubilado”. Vou ter de me habituar, felizmente, para além de uma necessária carreira profissional em que me senti muito bem, gozei uma paixão que sempre viverá, a psicologia, a educação e o mundo dos miúdos.

Como já tenho dito, não sei o que é uma vida de sonho, mas tenho tido uma vida com que nunca sonhei. Sou um homem com sorte.

Na minha terra era costume, creio que ainda é muito frequente em Portugal, referir que quando se celebra um aniversário, se é "pequeno". Assim sendo, hoje sou "pequeno", coisa que não é nada fácil imaginar e muito menos conseguir, mas é mais amigável que “idoso” ou “reformado”.

Embalado por essa ideia lembrei-me de quando era mesmo pequeno, tentação que parece inevitável cada vez que ficamos mais velhos. Lembrei-me de como brincava, ao que brincava e com quem brincava, quase sempre na rua. Ainda há dias falava destas brincadeiras com os meus netos e o Simão, do alto dos seus onze anos e a viver o hoje, mostrava dificuldade e estranheza face às brincadeiras e aos materiais que tínhamos para brincar. Não eram fáceis aqueles tempos.

Depois lembrei-me de como brincava com o meu filho, quando ele era pequeno, grandes viagens em grandes brincadeiras.

Agora brinco com os meus netos, são eles os pequenos. Muito a gente se diverte. E havemos de nos divertir ainda mais a brincar. Há sempre “projectos” ou “sistemas” para fazer, em particular no Alentejo. E assim há-de ser enquanto puder. Palavra de avô.

A este propósito e como já vos tenho dito e, certamente, alguns estranharão, acho que por estes dias os miúdos brincam pouco.

Eu sei que os tempos são diferentes e os estilos de vida mudaram significativamente. No entanto, não me parece que sejam razões suficientes. A questão é, creio, de outra natureza.

As brincadeiras já não brincadeiras, passaram a chamar-se actividades. E os miúdos têm muito pouco tempo para brincar, é quase todo destinado a actividades, muitas actividades, que, dizem, são fantásticas, fazem bem a tudo e mais alguma coisa, promovem competências extraordinárias e é preciso ser excelente.

Deixem os miúdos brincar, faz-lhes bem, é mesmo a coisa mais séria que fazem e, como sabem, é importante lidar desde pequeno com coisas sérias.

Acho que por estes dias ainda nos vamos divertir mais. nas brincadeiras com os meus netos.

É que hoje … hoje sou pequeno, ainda melhor nos entendemos.

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