AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

LADO A E LADO B

 O Ministro da Educação divulgou hoje que no próximo ano lectivo teremos mais cerca de 20000 alunos a frequentar o básico e secundário.

É daquelas notícias com Lado A e Lado B.

Comecemos pelo lado A, o lado positivo. É muito bom que tenhamos mais crianças e adolescentes a escola é um sinal de que pode atenuar-se o inverno demográfico que temos vindo a atravessar. Aliás, a baixa do número de alunos, também alimentou a narrativa dos professores a mais e também se percebeu que o desafio seria contratar a demografia criando desenvolvimento e condições para que as famílias assumissem projectos de parentalidade. Esperemos que se mantenha a tendência.

O lado B. Mais alunos nas actuais circunstância significará muito provavelmente maiores dificuldades em assegurar que todos possam aquilo que é substantivo na frequência da escola, aulas.

Como tenho dito, pode e deve-se recorrer a medidas de natureza conjuntural que atenuem tanto quanto possível este problema que ameaça seriamente o desempenho escolar e sucesso educativo.

No entanto, só medidas de natureza estrutural podem desencadear efeitos sólidos e duradores.

Recupero o que ainda já pouco escrevi sobre estas mudanças, assumindo desde logo que têm custos sendo de considerar a necessidade de investimento sério em educação, 6% do Produto Interno Bruto o que está definido pela UNESCO como meta para 2030.

Sem hierarquizar, julgo absolutamente necessário que as políticas públicas de educação assumissem como um eixo nuclear a valorização da carreira docente, dos professores.

Só esta valorização pode tornar a carreira docente atractiva e com um potencial de retenção e satisfação dos que nela se integram.

Esta valorização passa, evidentemente, pela valorização salarial, mas importa considerar também dimensões como a definição de modelos de carreira e de avaliação justos, simplificados e transparentes e promotores de estabilidade.

Importa que a valorização dos professores resista ao risco de “deskilling” ou desprofissionalização através de mudanças nas exigências da habilitação para a docência.

Importa que se definam dispositivas de apoio ao exercício profissional em contextos mais exigentes.

Importa que se desburocratize o exercício da docência com gastos brutais de tempo e esforço sem retorno pertinente. Sim eu sei, como dizia João dos Santos, que “mais difícil em educação é trabalhar de uma forma simples”, mas desburocratizar não é promover “facilitismo” é uma medida com impacto positivo em termos profissionais e pessoais.

Importa reflectir sobre modelos de governança das escolas mais adequados, competentes, regulados e participados.

Com real autonomia, com mais recursos e com modelos organizativos mais adequados e desburocratizados as escolas poderiam certamente fazer mais e melhor. que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.

Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes domínios.

Directores de turma com mais tempo para os alunos e professores com menos alunos poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.

Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.

Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento com retorno.

Repetindo e sintetizando, os professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais e serão sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de processos desburocratizados.

Julgo claro que mudanças neste sentido não são fáceis e que será sempre difícil um caminho de concordância generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão, apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar substantivamente a estrutura que alimenta … as conjunturas.

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