O Ministro da Educação divulgou hoje que no próximo ano lectivo teremos mais cerca de 20000 alunos a frequentar o básico e secundário.
É daquelas notícias com Lado A e Lado B.
Comecemos pelo lado A, o lado positivo. É muito bom que tenhamos mais crianças e adolescentes a escola é um sinal de que pode atenuar-se o inverno demográfico que temos vindo a atravessar. Aliás, a baixa do número de alunos, também alimentou a narrativa dos professores a mais e também se percebeu que o desafio seria contratar a demografia criando desenvolvimento e condições para que as famílias assumissem projectos de parentalidade. Esperemos que se mantenha a tendência.
O lado B. Mais alunos nas actuais
circunstância significará muito provavelmente maiores dificuldades em assegurar
que todos possam aquilo que é substantivo na frequência da escola, aulas.
Como tenho dito, pode e deve-se
recorrer a medidas de natureza conjuntural que atenuem tanto quanto possível este
problema que ameaça seriamente o desempenho escolar e sucesso educativo.
No entanto, só medidas de natureza
estrutural podem desencadear efeitos sólidos e duradores.
Recupero o que ainda já pouco
escrevi sobre estas mudanças, assumindo desde logo que têm custos sendo de considerar
a necessidade de investimento sério em educação, 6% do Produto Interno Bruto o
que está definido pela UNESCO como meta para 2030.
Sem hierarquizar, julgo
absolutamente necessário que as políticas públicas de educação assumissem como
um eixo nuclear a valorização da carreira docente, dos professores.
Só esta valorização pode tornar a
carreira docente atractiva e com um potencial de retenção e satisfação dos que
nela se integram.
Esta valorização passa,
evidentemente, pela valorização salarial, mas importa considerar também
dimensões como a definição de modelos de carreira e de avaliação justos,
simplificados e transparentes e promotores de estabilidade.
Importa que a valorização dos
professores resista ao risco de “deskilling” ou desprofissionalização através
de mudanças nas exigências da habilitação para a docência.
Importa que se definam
dispositivas de apoio ao exercício profissional em contextos mais exigentes.
Importa que se desburocratize o
exercício da docência com gastos brutais de tempo e esforço sem retorno
pertinente. Sim eu sei, como dizia João dos Santos, que “mais difícil em
educação é trabalhar de uma forma simples”, mas desburocratizar não é promover
“facilitismo” é uma medida com impacto positivo em termos profissionais e
pessoais.
Importa reflectir sobre modelos
de governança das escolas mais adequados, competentes, regulados e
participados.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados e desburocratizados as
escolas poderiam certamente fazer mais e melhor. que quem vem de fora numa
passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria
ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e professores com menos alunos poderiam desenvolver
trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas
acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
Repetindo e sintetizando, os
professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que
verdadeiramente é imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável
dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as
dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios
tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais e serão sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência
de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de
processos desburocratizados.
Julgo claro que mudanças neste
sentido não são fáceis e que será sempre difícil um caminho de concordância
generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais
positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão,
apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar
substantivamente a estrutura que alimenta … as conjunturas.
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