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terça-feira, 30 de julho de 2024

DE PEQUENINO É QUE SE TORCE O DESTINO

 Nos últimos dias tem sido notícia a irresponsável e “criminosa” decisão do Governo Regional dos Açores de implementar um plano aprovado na Assembleia Regional por PSD, CDS e Chega que altera as prioridades no acesso às creches.

Foi decidido que se deve dar “prioridade às crianças provenientes de agregados familiares cujos progenitores ou encarregados de educação estejam empregados”. Os efeitos óbvios é que as famílias afectadas por desemprego descem significativamente na lista de prioridades. É uma decisão profundamente injusta e contra todas as orientações nacionais e internacionais sobre o bem-estar das crianças, o combate às desigualdades e a promoção do desenvolvimento globalmente saudável.

A decisão não pode ser justificada pela ignorância, eles sabem o que fazem, não são inimputáveis, apenas irresponsáveis.

Como muitas vezes aqui tenho referido, a falta de respostas e recursos a preços acessíveis para o acolhimento a crianças dos 0 aos 3 anos é um dos grandes obstáculos a projectos familiares que incluam filhos, levando aos conhecidos e reconhecidos baixos níveis de natalidade entre nós, 30 % das mulheres portuguesas têm apenas um filho. Estamos numa época em que a legislação laboral é pouco amigável das famílias com filhos pequenos e o futuro nesta matéria não é animador.

A alteração dos estilos de vida, a mobilidade e a litoralização do país, levam à dispersão da família alargada implicando que os jovens casais dependam quase exclusivamente de respostas institucionais que, ou não existem, ou são demasiado caras. Portugal tem um dos mais elevados custos de equipamentos e serviços para crianças o que é, naturalmente, um forte constrangimento para projectos de vida que envolvam filhos. Estas circunstâncias favorecem ainda o bem conhecido universo das creches ilegais obviamente mais competitivas nos preços, mas ameaçadoras na qualidade dos cuidados prestados.

É importante referir que alguns estudos revelam que as mulheres portuguesas são, de entre as europeias, as que mais valorizam a carreira profissional e a família, a maternidade e também é sabido que as mulheres portuguesas são das que mais tempo trabalham fora de casa o que dificulta a conciliação que desejam entre profissão e parentalidade.

São por demais conhecidas as dificuldades de muitas famílias em assegurar a permanência dos miúdos nas creches por razões económicas. As instituições procuram, apesar das dificuldades que elas próprias enfrentam, flexibilizar, até ao limite possível, custos e pagamento tentando evitar a todo o custo que os miúdos deixem de frequentar os estabelecimentos.

Crianças que frequentam creches de qualidade apresentam, a longo prazo, melhores resultados em termos de sucesso educativo, académico e profissional", salienta a investigadora, citando um estudo de James Heckman, Nobel da Economia, segundo o qual cada euro investido na educação dos zero aos três tem um retorno muito maior do que em fases posteriores.

Sabemos todos como o desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente influenciado pela qualidade das experiências educativas nos primeiros anos de vida, de pequenino é que ...

São conhecidos muitos trabalhos, por exemplo o de James Heckman, que sustentam o retorno em termos educativos, escolares e profissionais do investimento na educação da primeira infância. Como é óbvio, discriminar negativamente famílias em dificuldade no acesso das crianças à educação de infância é absolutamente indefensável

Assim, existem áreas na vida das pessoas que exigem uma resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não existindo, se tornam uma ameaça muito séria ao futuro, a educação dos mais pequenos é uma delas.

A história não vos absolverá.

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