AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 23 de junho de 2024

TEMPO DE ANTENA

 Um destes dias conversava com o meu neto Simão sobre a escola, em particular os comportamentos que os alunos revelam e algumas inquietações de quem está a entrar nos onze anos. Também trocámos experiências, por assim dizer, relembrando os meus tempos de aluno do básico e secundário.

A conversa fez-me recuar umas dezenas de anos e olhar para dentro. A verdade é que carrego uma história de alguma, para ser simpático, indisciplina a partir do início da adolescência. Nessa altura por umas razões e de diferentes formas, mais crescido e até 74, por outras razões e de outra forma, depois de 74 e até agora, ainda por outras razões e ainda de outra forma. Mas começando no primeiro capítulo, lembro-me de como a escola, na adolescência, foi simpática para comigo, quando eu não era de todo simpático para escola. Tendo começado a treinar logo de pequeno, cheguei à adolescência com, passe a imodéstia, excelentes resultados em matéria de indisciplina e com baixos resultados escolares ainda que fosse passando de ano. Como sabem, ninguém é perfeito e ninguém consegue agradar a toda a gente. Bons resultados escolares estavam longe das minhas condições e motivações, por outro lado, sendo um rapaz gorducho, em crescimento, com jeito para o futebol e à procura de mim, começo a perceber, mais a sentir, a enorme popularidade e impacto junto dos colegas que as minhas competências” comportamentais causavam. Claro que o meu comportamento só fazia sentido com o pessoal a assistir, só miúdos doentes se portam mal quando estão sós, é um desperdício. É claro que os professores não apreciavam particularmente os meus dotes, ainda me lembro do que fiz passar à Setora Trincão, de Física, aqui fica um tardio pedido de desculpas, não era nada contra si, era a procura de mim.

É perante este quadro que a escola tem a atitude mais simpática que poderia ter comigo. Sempre que me castigava com suspensões, o comunicado do castigo era anunciado em todas as turmas. Não queiram saber, era o meu tempo de antena em “prime time”. Sim, aquele aluno, do 6º ano da turma F 4ª que tinha feito tal cometimento, era eu. Quando chegava ao intervalo sentia-me, tal como os meus parceiros indisciplinados, o dono do recreio. Acho que até os bons alunos tinham uma pontinha de inveja.

E como eu me sentia bem com aquele “tempo de antena”, aquela atenção. Talvez por isso, também por isso, me tenha mantido algo indisciplinado.

Felizmente, não me cheguei a perder nos caminhos por onde andei. Muitos colegas de “tempo de antena” perderam-se … ou foram perdidos.

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