AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 8 de maio de 2024

OS ESPAÇOS DE LIBERDADE EM QUE SE FECHAM OS MIÚDOS

 Embora seja algo presente durante todo o ano com o aproximar do final do ano escolar ganha maior acuidade a ocupação do tempo dos mais novos.

De uma forma geral e em consequência dos estilos de vida parentais e dos modelos de organização do trabalho as crianças passam tempos infindos nas escolas. Recordemos o cenário em funcionamento "Escola a Tempo Inteiro" e as Actividades de Enriquecimento Curricular mais a Componente de Apoio à Família que, indo ao encontro de um problema social sério, a guarda dos filhos em horário laboral, promove a presença dos miúdos na escola por vezes até às 12 horas diárias o que, apesar de algumas excelentes experiências neste âmbito, levanta um sério risco de intoxicação escolar.

Para além deste cenário e também um sinal dos tempos dos tempos, tem vindo a emergir um mercado de oferta para crianças, logo de bebés, e, naturalmente, para pais que se propõe ocupar o já pouco tempo em que estão juntos.

Esta oferta não pára de crescer e é de uma diversificação que me deixa perplexo. Temos as oficinas, os ateliers, os playcenters, os workshops, os espaços lúdicos, etc. destinados à música, do jazz à clássica, à dança ou à literatura, contos e histórias, às actividades expressivas, plásticas ou artísticas, a designação também varia, em toda a sua gama e diversidade. Temos a filosofia para crianças destinada eventualmente aos mais reflexivos. Apesar de ter menor volume e ser mais significativa nos tempos de Verão, temos as actividades desportivas, várias modalidades, e de ar livre em diferentes versões e natureza, quintas pedagógicas, contacto com animais e espaços de aventura, por exemplo. Enfim, uma oferta em desenvolvimento e para todas as bolsas.

É claro que a realização de todas, mesmo todas, estas actividades são imprescindíveis aos miúdos pois promovem níveis fantásticos de desenvolvimento intelectual e da linguagem, desenvolvimento motor, inteligência emocional, criatividade, interacção social, autonomia e certamente mais alguns aspectos de que agora não me lembro, mas que a peça sobre o yoga para crianças actualizou em mais alguns efeitos positivos.

Os pais, alguns pais, seduzidos pela sofisticação desta oferta e com a culpa que carregam, deixam-se fechar com os seus filhos ou deixam que os seus filhos sejam fechados dentro destes “espaços de liberdade”, comprando, assim, mais um serviço educativo.

Não esqueço que em todos estas iniciativas alguma coisa pode acontecer de interessante para as crianças e para os pais e também não duvido da seriedade dos responsáveis, mas continuo convencido que a melhor utilização que pais e filhos podem dar ao (pouco) tempo livre que têm em conjunto, é … claro, conversar e brincar livremente em conjunto e de preferência fora de casa, ao ar livre.

Nesta matéria sim, temos um défice pesado.

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