AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 5 de março de 2024

OS ATRAVESSADIÇOS

 A habitual passagem de olhos pela imprensa e a natureza da maioria das matérias abordadas, fez-me recordar uma das muitas conversas com o Mestre Zé Marrafa lá no monte que guardo com muito carinho na cabeça e no coração.

Falávamos sobre as dificuldades que muita gente atravessa e o fardo pesado que carregam. O Velho Marrafa dizia que as pessoas do Alentejo, sobretudo os mais velhos, estão habituadas a fardos pesados, a vida sempre lhes foi dura. Para exemplificar, mostrou o longo caminho que foi percorrido desde o trabalho de sol a sol, muitas vezes até sete dias na semana, a passagem por ter e ganhar os feriados, passar a trabalhar só as oito horas e a riqueza de ter férias pagas.

No fim da sua viagem conclui com a tranquilidade que nele parece um ser e não um estar, que a culpa dos problemas, os de hoje e os de sempre, é dos atravessadiços. Provavelmente, tal como eu na altura, ficarão intrigados com a referência.

Pois o Velho Marrafa esclareceu que os atravessadiços são aquelas pessoas que sendo assim "atravessadas" só pensam nelas, nunca pensam nos outros. Fazem tudo para sair beneficiadas mesmo que isso possa prejudicar os outros. Depois, à medida que têm mais coisas e mandam mais, ainda mais querem ter e mandar e como são atravessadiços, causam muitos problemas aos outros sem se preocuparem com isso.

O Velho Marrafa rematava sem a menor dúvida, "Veja-me lá Senhor Zé se os que mandam, os que são grandes, se importam alguma coisa com os pequenos? Nada, mesmo nada".

Não é assim uma teoria muito sofisticada, mas o Velho Marrafa é capaz de ter alguma razão. Andam por aí muitos atravessadiços em lugar de mando e muitos atravessadiços a querer mandar.

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