No JN encontrei uma peça sobre o trabalho que a ONG “Teach for Portugal” desenvolve em Portugal desde 2019 e que aqui tenho referido.
A organização refere que desde o início já acompanhou mais de 19000 alunos de 63 escolas pertencentes a 40 municípios. Neste ano lectivo a iniciativa abrange mais de 6000 alunos de 48 escolas com uma percentagem elevada de alunos com o apoio da Acção Social Escolar e conta com o trabalho de 70 mentores. Até 2028, tem como objectivo apoiar 87000 alunos contando com mais de 255 mentores.
De acordo com o Relatório de
22/23 o trabalho desenvolvido acelerou a redução de negativas em 51% face a
turmas sem o apoio dos mentores da Teach for Portugal.
A organização conta com o apoio de
diferentes entidades, autarquias, empresas privadas e fundações. Assegura o
recrutamento, formação e colocação paga dos mentores que trabalham em sala de
aula com os professores, apoiam os alunos e desenvolvem algum trabalham com as
famílias.
Como é evidente, registo todas as
iniciativas que possam contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já
me falta convicção no impacto do modelo mais habitualmente seguido.
Para cada constrangimento ou
dificuldade percebida nas e pelas escolas e com regularidade, aparece vindo de
fora ou gerido de fora, um Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as
combinações são múltiplas, destinado a essa problemática.
Durante as últimas décadas, perco
a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras, que chegaram e
chegam às escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o
sucesso, promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a
educação científica, promover a educação inclusiva, a aprendizagem emocional,
erradicar ou minimizar o bullying, a relação entre escola e pais e encarregados
de educação, promover a expressão artística e a criatividade, promover
comportamentos saudáveis e actividades desportivas, literacia financeira,
promover a inovação e as novas tecnologias, para não falar de iniciativas mais
"alternativas", por assim dizer, e que têm poderes mágicos, parece. A
lista enunciada é apenas exemplificativa e não está em causa a pertinência ou
juízo sobre as dimensões citadas, trata-se do modelo de abordagem.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não chegam a
envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros
constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o
dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado. Importa ainda não
esquecer as dificuldades severas que muitos agrupamentos e escolas sentem com a
falta de recursos humanos, professores, técnicos e auxiliares actualmente.
Também com demasiada frequência
muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são
avaliados de forma robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o
portfólio dos organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja
positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que
muitos destes Planos, Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos
notáveis que, também com frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que
todos os envolvidos mereceriam.
Também demasiadas vezes estas
iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas
agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a
escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia
poderia, ainda assim, fazer mais se os investimentos feitos no mundo à volta da
escola e que lhe vem bater à porta com propostas fossem canalizados para as
escolas.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer
certamente mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais
ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de
escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em
múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado, o que se verifica é inaceitável, poderiam acompanhar,
promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores,
técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Ainda este propósito, ficar
embaraçado, volto a contar uma experiência pessoal.
Há largos anos estava na altura
na Direcção-Geral do Ensino Básico e foi-me pedido que apresentasse numa escola
do 1º ciclo um Projecto em desenvolvimento pela Direcção-Geral destinado ao
ensino de português a crianças de famílias oriundas dos PALOP que aprendiam em
português na escola e falavam crioulo em casa. Apresentei o Projecto o melhor
que fui capaz aos professores da escola e no fim alguém me disse de uma forma
muito simpática, “Colega, o Projecto é muito interessante, mas sabe, já temos
24 Projectos na escola, não podemos fazer mais.”
Na verdade, a Projectite,
sobretudo vinda de fora, é uma opção com pouco potencial apesar, insisto, das
boas experiências que também conheço.
Soluções efetivas e duradouras só mesmo as provenientes das entranhas das escolas. Tudo o resto é publicidade enganosa ao serviço de agendas que nada têm a ver com a Educação.
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