É hoje apresentado um estudo, “Scroll.Logo Existo!: comportamentos adictivos no uso dos ecrãs”, realizado por investigadores do Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social da Universidade Lusíada.
Os dados merecem reflexão e ilustram
a fortíssima relação que a população inquirida, acima dos 16 anos, assume com
os ecrãs, designadamente na utilização da net e de redes sociais.
Os dados globais são relevantes,
mas umas notas sobretudo a pensar nos mais novos que, também neste trabalho,
evidenciara uma significativa associação entre mal-estar e a elevada utilização
destes dispositivos.
As referências recorrentes ao
tempo excessivo e aos riscos associados à ligação que muitas crianças e
adolescentes estabelecem com a net nas suas múltiplas possibilidades
designadamente as redes sociais, são, por assim dizer, um sinal dos tempos e os
dados deste trabalho são particularmente elucidativos embora tenha sido
realizado com uma amostra a partir dos 16 anos.
Relativamente à forma de lidar
com esta quadro creio que, tal como noutras áreas o recurso privilegiado a
estratégias proibicionistas não funciona ainda que sejam imprescindíveis
dispositivos de regulação.
Numa nota prévia que creio que
enquanto não olharmos para questões desta natureza, como de outras, como os
consumos, álcool, tabaco ou droga nas múltiplas variantes, como sendo um
problema das comunidades e exigir estratégias de impacto comunitário,
dificilmente conseguiremos alterar os comportamentos dos mais novos.
Dito de outra maneira e a
propósito das redes sociais, enquanto a relação que muitos de nós, adultos,
temos com este universo assumir, genericamente, o perfil que conhecemos e que o
estudo agora divulgado evidencia, não vale a pena acreditar que se altera
significativamente o padrão de utilização dos mais novos. No entanto e como é
óbvio por tudo o que sabemos, é imprescindível a tentativa de ajusta comportamentos em crianças e adolescentes.
Neste sentido, e como muitas
vezes escrito e afirmado, a promoção de uma utilização auto-regulada e
informada parece-me uma estratégia mais adequada. A net e o mundo de
oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas
potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam
com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso
trabalho, como também é nosso trabalho a exigência por mais eficazes
dispositivos de controle de acesso e na natureza dos conteúdos embora este seja
o caminho mais difícil.
Sabemos que muitas crianças e
adolescentes têm um ecrã como companhia em casa durante o pouco tempo que a
escola "a tempo inteiro" e as mudanças e constrangimentos nos estilos
de vida das famílias lhes deixam "livre". Também é verdade que a
crescente "filiação" em redes sociais virtuais pode “disfarçar” o
fechamento, juntando quem “sofre” do mesmo mal e o tempo remanescente para
estar em família, frequentemente ainda é passado à sombra de um ecrã.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos e os riscos potenciais, por estranho
que pareça, são problemas menos conhecidos para muitos pais. Aliás, existem
demasiadas situações em que desde muito cedo os “smartphones” ou outros
dispositivos funcionam como “babysitters”.
As dificuldades sentidas por
muitas famílias na ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou
isso mesmo, baixos níveis de literacia digital. Considerando as implicações
sérias na vida diária, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada
aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora
da qualidade de vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos
existentes nos “alçapões da net” muitas com riscos e consequências bem graves
ou fatais.
Por outro lado, a experiência
mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou
orientação nestas matérias. Sabemos que estratégias proibicionistas tendem a
perder eficácia com a idade.
Creio que o caminho terá de
passar por autonomia, supervisão, diálogo e informação que estimulem
auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos dão
sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar associadas
a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num alçapão com
consequências imprevisíveis.
"... o recurso privilegiado a estratégias proibicionistas não funciona ainda que sejam imprescindíveis dispositivos de regulação".
ResponderEliminarCaro Zé Morgado, então os dispositivos de regulação são o quê? Proibição?
Por outro lado, onde se encontra a investigação empírica que o leva a dizer, perentoriamente, que a proibição não funciona?
A proibição faz parte da vida e em idades mais novas ainda mais.