AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 27 de junho de 2023

MAYDAY, MAYDAY

 Fui buscar este título a um artigo histórico de um dos meus Mestres, o Professor Joaquim Bairrão Ruivo, e que também o usou com o sentido que tem na aviação, alerta para a gravidade extrema de uma situação que exige socorro urgente e adequado. É o caso da situação e clima vivido na generalidade das escolas conforme apreciação do Conselho das Escolas, órgão representativo das direcções escolares.

Dito de outra forma, a educação está em alerta vermelho e as perspectivas mais imediatas não são animadoras, temo pelo próximo ano lectivo.

A falta de docentes ao longo do ano, o arrastar negligente e incompetente das negociações face aos problemas vividos de há muito pelos docentes, a instabilidade nas escolas, o deslumbramento com a transição digital que impôs a realização generalizada das provas de aferição digitais sem o suporte em recursos adequados e fiáveis em todas as escolas para além do desajustamento da aplicação deste modelo aplicado aos alunos do 2º ano, as dificuldades em assegurar apoios mais diferenciados aos alunos por falta de professores e técnicos, apesar do Plano de Recuperação das Aprendizagens, Plano 21/23 Escola +, são algumas das questões identificadas.

Acontece que algumas destas questões se antecipavam de há muito, a falta de professores face ao envelhecimento da classe e à baixa atractividade pela carreira docente é um deles e, provavelmente, o mais difícil de minimizar e que o arrastar do tempo tem feito piorar o cenário de ano para ano. Na verdade, há anos que sucessivos relatórios nacionais e internacionais têm alertado para gravidade do envelhecimento da classe docente, dos efeitos associados, e da certeza da falta de docentes a curto prazo como já está a acontecer.

Na verdade, este cenário só pode surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam na comunicação social e dos comentários nas redes sociais dirigidos à educação e aos professores.

Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. A educação em Portugal é um terreno altamente permeável e apetecível para as lutas de poder e controlo da partidocracia vigente, muito divido entre quintais, corporações e umbiguismos que lhe retira serenidade e alimenta uma gestão de interesses e das políticas educativas com agendas de múltipla natureza.

Desculpem a insistência, mas a questão é grave. Também sei que não é por muito falar num problema que ele se resolve ou minimiza, mas é preciso sublinhar a urgência.

De entre o conjunto das políticas públicas, o universo da educação tem uma importância crítica, é através da educação que se projecta e constrói um caminho sustentável para o futuro.

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