AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 16 de abril de 2023

O TERCEIRO PERÍODO

 Este ano lectivo, mais um ano atípico a que nos vamos habituando, ano tem sido marcado pelo processo de reivindicação dos docentes, que vai continuar, pelos discursos erráticas e expedientes do ME que prolonga um calendário de negociação, que de negociação tem pouco, esperando que os professores se cansem e a compreensão e apoio que as comunidades que têm manifestado se altere com a passagem do tempo. É mau e não serve os interesses de uma educação pública com qualidade e que cumpra a sua missão. Aguarda-se ainda que o Presidente da República tome alguma posição que contribua para alterar a situação instalada.

Entretanto, cumprindo os tempos que ainda são os da esmagadora maioria das escolas, inicia-se amanhã o terceiro período escolar.

Para muitos alunos será o período da decisão, das decisões. Uma boa parte dos alunos estará já "arrumada", ou porque convivem com um "chumbo" anunciado ou porque terão perspectivas de sucesso, com excelência ou com suficiência. Para quase todos os outros o terceiro período é o da recuperação, dito de outra maneira, será o das "explicações", a última tentativa para "salvar" o ano. Alguns destes ainda poderão ser incorporados no “contingente” da avaliação simpática que compõe estatísticas.

Também existe um grupo significativo de alunos dos quais se espera que recuperem o rendimento escolar de forma a salvar o ano, pelo que crescerá exponencialmente o recurso à velha "explicação", um importante nicho de mercado para professores, ex-professores, candidatos a professores ou simples curiosos que se dedicam à lucrativa arte. Aliás, ainda durante as férias de Páscoa muitas crianças e adolescentes terão passado já algum tempo nos centros de explicações. É preciso ir adiantando para garantir a "recuperação", a nota que permita “passar” ou dê acesso ao curso escolhido, pelo aluno ou pela família.

É também um período de promessas, "se passares, nós oferecemos-te ...", "se tiveres notas para entrar, terás ...". Chamam-se incentivos e providenciam, esperam os pais, uma ajuda extra à motivação para este terceiro período.

Para alguns alunos este terceiro período vai anteceder, espera-se uma mudança, de ciclo, de escola ou a por muitos desejada passagem para o ensino superior, esperemos que não desistam de estudar.

No final do ano uma parte dos alunos ainda vai realizar algumas provas ou exames. No 1º, 2º e 3º ciclos teremos provas de aferição (que não são de aferição) desmaterializadas, decisão que levanta sérias dúvidas sobretudo no 1º ciclo por razões que já aqui referi. Talvez fosse de apostar mais na desburocratização e na “desgrelhação” dos processos que realização de provas em suporte digital. No 9º e 12º teremos os exames com as mudanças já verificadas no ano anterior.

No entanto, para outros alunos, o terceiro período vai deixá-los mais perto do insucesso, da desmotivação, do abandono revoltado ou resignado. Eles terão falhado, mas não terão sido só eles, nós também.

Existe ainda um grupo de alunos que apesar de à luz de um novo paradigma e de uma onda de inovação vive dentro de espaços curriculares ou físicos que os podem “guetizar” e de quem também não se espera muito, são “adicionais”, são “selectivos”, são “redutores”, são outra qualquer designação muitas vezes começada em “dis”, que procuram sobreviver a ambientes que nem sempre são muito amigáveis e inclusivos apesar de algumas boas práticas que se saúdam e registam.

Na verdade, os próximos meses vão ser pesados, exigentes, apesar de haver quem entenda como fáceis os trabalhos dos alunos … ou dos professores.

Boa sorte e bom trabalho, para alunos, professores e pais.

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