AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 25 de abril de 2023

25 DE ABRIL, QUASE 50 ANOS

 Quase 50 anos depois, o tempo voa, para as pessoas da minha geração é impossível não falar do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril, o de 1974.

É com alguma frequência que falo com gente mais nova sobre o que era o 24 de Abril. Ainda há poucos dias o fazia com o meu neto Grande, o Simão no 4º ano a propósito do que estava a dar na escola sobre o Estado Novo. Quando conto a vida, o dia a dia daquele tempo, e algumas das circunstâncias que moldavam os dias percebe-se alguma perplexidade nos jovens, não tanto pelas referências às grandes questões da época, conhecem-nas pelas abordagens curriculares, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do quotidiano.

Histórias do clima de desconfiança e suspeição sobre a pessoa do lado que nos prendia dentro da gente, do livro que se não tinha e não se podia ler, do filme proibido, do disco que se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer, da conversa que se não podia ter, do professor de quem não se podia discordar, da ideia que se não podia discutir, da repressão visível e, mais pesada, invisível, do beijo que não se podia dar em público, do livro único para formar um pensamento único, de tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria pequenos.

São sempre conversas estimulantes. É certo que me deixam a doce amargura da idade mas, talvez num excesso de optimismo, quero acreditar que estes miúdos ou jovens não irão permitir que se possa voltar a ter histórias daquelas para contar a gente mais nova. Sim, os tempos vão duros e têm-nos trazido circunstâncias que julgávamos que não voltariam e assustam.

Ainda assim, acho que boa parte desta gente mais nova, apesar das enormes dificuldades que enfrentam para construir um projecto de vida viável e sustentado, não vai mesmo crescer e estudar para ser escrava. Esta gente vai, apesar de por vezes se sentir "à rasca, chegar ao futuro.

Gosto de acreditar nisto. Também por causa daquele 25 de Abril.

E porque fica mais fácil e é mais bonito "Traz outro amigo também".










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