AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 18 de março de 2023

DA DESMATERIALIZAÇÃO NO ENSINO

 A propósito da transição digital, da desmaterialização na área da educação, trajecto que, do meu ponto de vista, deve ser ponderado, tranquilo, com recursos atempados e não à boleia do deslumbramento, uma história.

Um dia destes a Sara, professora de gente pequena, encontrou-se no bar da escola com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. A conversa, para não variar, foi sobre o trabalho de ensinar e aprender.

Estava a lembrar-me da reunião que ontem tivemos. Velho, que me dizes sobre a utilização cada vez mais presente dos computadores com os gaiatos pequenos, agora até as provas de aferição serão em formato digital? Estás contra ou a favor?

Na minha idade já nem sempre consigo estar de forma definitiva, contra ou favor de muitas coisas. A questão dos computadores na sala de aula com os miúdos pequenos é um exemplo, acho que não se pode discutir assim.

Então?

Como é evidente os computadores e os recursos digitais fazem parte da nossa vida em múltiplas dimensões. Assim sendo, considerando que a escola deve lidar e colocar os miúdos a lidar com as coisas da vida, os recursos digitais devem aparecer e integrar-se, no trabalho "sério" ou nas brincadeiras, é uma questão de bom senso e de mudança necessária e é fundamental que envolva todos os alunos, que os recursos sejam suficientes. Por outro lado, quando se começa a mexer nas letras, a juntá-las e a escrever, parece-me muito importante que as mãos escrevam, desenhem as letras, construam as histórias. Às vezes dizem que os miúdos se motivam mais porque os computadores são inovadores. É um equívoco, os miúdos motivam-se por aquilo que gostam e aprendem a gostar. E para aprender a gostar também é preciso saber fazer. Repito, parece-me essencial que as mãos conheçam as letras, como elas se desenham, como elas se juntam e o que elas são capazes de dizer. Utilizar o computador será útil para algumas outras tarefas ou actividades que não substituem escrever e construir textos com as mãos. Aliás creio que mesmo nós, adultos, ainda utilizamos o escrever à mão em múltiplas situações.

Sabes que tanto como a cabeça ensina as mãos, as mãos ensinam a cabeça. Quando as mãos e a cabeça aprendem e sabem, então o computador também já pode ser uma caneta. Dá para entender Sara? É por isso que estou contra e a favor do uso dos computadores pelos gaiatos pequenos ou, se preferires, a favor e contra.

Parece simples Velho.

Mas não é, temos de procurar equilíbrio e os recursos para que ferramentas que se integram no processo de ensino e aprendizagem não criem problemas à aprendizagem e ao ensino.

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