Com alguma frequência, demasiada frequência, aqui escrevo sobre ou a propósito de situações de violência dirigida a professores realizada por alunos ou encarregados de educação (serão mesmo de educação?!). Desta vez aconteceu na Escola EB 2,3 e Secundária de Baião. O director-adjunto foi agredido com severidade por um aluno de 14 anos quando procurava evitar que este agredisse um outro professores.
Andam negros os tempos para os
professores. Sempre que escrevo sobre esta questão, agressões ou insultos a
professores e dadas as circunstâncias faço-o com regularidade, é sempre com
preocupação e mal-estar, mas creio que é preciso insistir.
As notícias sobre agressões a
professores, cometidas por alunos ou encarregados de educação, continuam com
demasiada frequência embora nem todos os episódios sejam divulgados. Aliás, são
conhecidos casos de direcções que desincentivam as queixas dado o “incómodo” e
“publicidade negativa” para a escola que trará a divulgação.
Os testemunhos de professores
vitimizados são perturbadores e exigem atenção e intervenção.
Cada um dos recorrentes episódios
é, obviamente, um caso de polícia, mas não pode ser “apenas” mais um caso de
polícia e julgo que, mais do que ser notícia, importaria reflectir nos caminhos
que seguimos.
Esta matéria, embora seja objecto
de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e
de análise pouco compatível com um espaço desta natureza. Apenas umas notas
repescadas.
Começo por uma breve reflexão em
torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção
social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade que me parecem
fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os
ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do
discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente,
responsabilidades acrescidas e também o discurso que muitos opinadores
profissionais, mais ou menos ignorantes ou com agendas implícitas, produzem
sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da
percepção social de autoridade dos professores, fragilizando-a seriamente aos
olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais. Os últimos tempos têm
sido, aliás, elucidativos.
Esta fragilização tem, do meu
ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com
alunos e pais.
No entanto, importa registar que
a classe docente é dos grupos profissionais em que os portugueses mais confiam
o que me parece relevante.
Em segundo lugar, tem vindo a
mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços
de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou
profissionais de saúde, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de
professores, como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se
ser professor, já não confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização
de comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi,
com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as
agressões a profissionais da área da saúde, médicos e enfermeiros.
Finalmente, importa considerar,
creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o
que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas
sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou
seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a
“pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade
dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio
que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer
preventivo, quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho
essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento
de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a
recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização uma das dimensões identificadas nos sistemas educativos mais bem considerados
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de avaliação ou julgamento e a punição e responsabilização sérias dos casos verificados, o que contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.
A violência nas escolas, física e psicológica, um assunto muito pertinente para os profissionais de educação, professores, assistentes operacionais e outros técnicos intervenientes no processo educativo. Como docente revolta-me uma situação especifica, atualmente existente na comunidade escolar, os grupos em redes sociais, em que os intervenientes, na maioria encarregados de educação, partilham informações, algumas delas não verídicas, opinam, fazem juízos de valor sobre determinada situação envolvendo docentes, assistentes operacinais ou técnicos educativos. Chegando a existir casos de difamação ! Estamos num país democrático, podemos dizer o que pensamos e criticar, mas temos o dever cívico de procurar a verdade, pois falar por falar, julgar sem fundamento pode levar a mentiras, a calúnias, nestes casos.
ResponderEliminarE muitos de nós escolhe não fazer queixa pois seria difícil suportar os custos judiciais...
Grata pela sua atenção e suas palavras, que me ajudam a ter coragem para continuar nesta carreira.
Ana S.
A questão das redes sociais é uma outra face de um tempo em que regulação de comportamentos e discursos ou ética e deontologia, são bens de primeira necessidade e, apesar de não serem caros, são menos consumidos do que o desejável.
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