Nesta retoma do ano escolar marcada pelo processo reivindicativo dos professores cujos problemas exigem da tutela uma resposta adequada e imprescindível à promoção de um sistema educativo de qualidade, umas notas sobre o papel e o contributo dos pais no sucesso educativo e escolar dos miúdos. Melhorar este papel e a relação dos pais com a escola não é tarefa fácil e não é problema resolvido em nenhum sistema educativo.
Não é fácil, por um lado pelos estilos de vida modernos,
sobretudo em zonas urbanas e, por outro lado pela inerência das dificuldades,
conteúdos curriculares e cultura escolar desconhecidos por muitos pais e
encarregados de educação, pelas solicitações e motivações presentes na vida dos
miúdos, etc.
De qualquer forma é indiscutível a necessidade de o
envolvimento dos pais e a qualidade desse envolvimento.
É reconhecido o afastamento dos pais traduzido, por exemplo,
na baixa participação em reuniões. Como causas referem-se as dificuldades em
termos de legislação e horários laborais e algumas atitudes de menor
empenhamento.
De há muito defendo a pertinência de em sede de Concertação
Social, se avançar com propostas de alteração legislativa, sobretudo, na
organização horária do trabalho que poderia, essa sim, ter impacto na
disponibilidade dos pais. Não me parece impossível que em muitas profissões os
tempos de trabalho pudessem ter outra distribuição permitindo mais tempo com os
filhos e menos tempo destes na escola.
No entanto, julgo de considerar outros aspectos. Costumo
afirmar que os pais, exceptuando os pais negligentes, que existem, ainda que
podendo, menos frequentemente vão à escola ou nunca vão, se podem dividir em
dois grupos, os pais que não alcançam a escola e os pais que a escola não
alcança. Os primeiros são os que entendem consciente, ou inconscientemente, que
a sua presença é irrelevante, não sabem discutir a escola, a escola é que sabe
e decide sobre os filhos. Os outros, são os pais para quem o discurso produzido
pela escola sobre os seus filhos os leva a afastarem-se progressivamente. A
experiência mostra que quando as crianças são mais pequenas, pré-escolar 1º
ciclo, os pais aparecem e começam a afastar-se sobretudo a partir do 2º ciclo,
o que tem como razão principal o crescimento dos filhos.
Neste quadro, creio que se o desejo de maior envolvimento
dos pais na vida escolar dos filhos for mais do que uma retórica, o sistema,
através dos modelos de funcionamento e recursos das escolas, deverá introduzir
alguns ajustamentos. Redefinição do papel dos Directores de Turma, peças
nucleares no sucesso educativo e muitas vezes entregues a tarefas quase
administrativas, definição de dispositivos de apoio e mediação com técnicos e
professores, competentes e suficientes que possam ir ao encontro dos pais que a
escola não alcança.
Existem tantas horas de professores adjudicadas a trabalho
não docente e a iniciativas, projectos, experiências avulsas e
descontextualizadas que seriam certamente mais úteis neste contexto, relação
escola e pais. Mudança nas formas e suporte do contacto entre a escola e a
família, ou seja, por exemplo, tipologia e conteúdos das reuniões de pais.
Utilização concertada do papel das Associações de Pais como mediadores entre a
escola e os pais que não vindo à escola, também não são dos que integram as
Associações e que, em muitas circunstâncias têm pouca capacidade real de
representação dos pais.
O espaço é curto, mas creio que no actual quadro seria possível
ir um pouco mais longe na tentativa imprescindível de maior envolvimento dos
pais na vida escolar dos miúdos, questão em mudança, sempre, e que obriga a uma
contínua reflexão sobre os papéis e os processos e formas de envolvimento.
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