Li com atenção o texto do Ministro da Educação no Público, “Da transformação na escola pública portuguesa” que surge em resposta ao artigo de Sampaio da Nóvoa também no Público, “Obrigado, professores”. A torrente de números e o que os números não dizem fizeram-me pensar na velha história de alguém que viaja tranquilamente em contramão e ao olhar para os viajantes com que se cruza e para o seu ar inquieto, pensa. "Esta gente anda toda em contramão, que descuidados".
É verdade que sempre me anima e não esqueço o que de
positivo diariamente acontece nas escolas, mas ao fim de umas décadas, o
cansaço é grande. Sim Senhor Ministro, temos caminhado positivamente em alguns
sentidos, mas estamos longe do que ainda precisamos de caminhar.
O desenvolvimento das sociedades, os períodos críticos pelos quais passamos, a enorme desigualdade que ainda se verifica, o climas nas escolas, a situação dos professores, levantam desafios gigantes a alunos, professores e famílias e o "Rolls-Royce" não transporta todos.
Não gosto de me sentir o Waldorf ou o Statler, os
velhos dos Marretas que estão sempre na crítica, até porque, de novo, muita
coisa de bom acontece, mas … a verdade é que julgo que só afirmar a mudança,
ainda que num caminho ajustado, só por si, não significa … que a mudança
aconteça generalizadamente.
Décadas de trabalho neste universo não me deixam acreditar
na chegada dos amanhãs que cantam. Não queria repetir porque, sim, existem
muitas coisas muito bonitas, mas … nem tudo vai bem. Não torturemos a realidade
que ela não vai confessar. Na verdade, nem sempre conseguimos perceber os
“Rolls-Royce” que nos dizem existir.
A realidade fala-nos da manutenção de um modelo de carreira,
recrutamento e colocação de professores ineficiente e produtor de injustiça, um
modelo de avaliação também injusto, incompetente e pouco transparente, a
desvalorização salarial e social que se associam a uma baixa atractividade pela
carreira de professor, o previsível e não acautelado envelhecimento dos
professores e o consequente abandono, o cansaço e desânimo sentido pelos
docentes e sublinhado em muitos estudos, o modelo de governança de agrupamento
e escolas que se liga, embora não como única variável, ao clima que se vive em
muitas comunidades escolares, um caminho de “descentralização”/municipalização”
cheio de dúvidas e pouco claro, ou a burocracia excessiva que leva a uma
“agitação improdutiva” e, pior, cansativa e ineficaz.
Este contexto acaba, naturalmente, por se tornar mais pesado
e doloroso para os que gostam, escolheram e querem ser e continuar a ser
professores, a maioria dos docentes apesar dos discursos de cansaço e
desencanto que regularmente se ouvem e que agora sustentam a robusta reacção
dos professores.
Como já escrevi, desejo que todos, designadamente quem
decide em matéria de políticas públicas, saibamos que aquilo que é necessário é
demasiado importante para que não seja feito e se devolva, tanto quanto
possível, a tranquilidade aos professores, às escolas, às comunidades
educativas.
A história não vos absolverá.
Não obstante as medidas positivas lançadas pelo governo, estas são uma gota no oceano Educação.
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