É com alguma frequência que aqui abordo a situação de pessoas com deficiência, mas não posso deixar de o fazer, os problemas que afectam as minorias têm menor visibilidade e em tempos de dificuldade as pessoas mais vulneráveis estão ainda mais expostas. Conforme um trabalho do JN, a Prestação Social para a Inclusão apenas estará a ser recebida por 7.5% da população com deficiência.
O acesso ao valor total da
Prestação depende de um grau de deficiência de 80%, as pessoas com um grau de deficiência
entre 60% e 79% apenas acedem se não trabalharem ou tiverem rendimento líquido
abaixo de 658,22€. Os restantes cidadãos com deficiência não têm acesso.
A Prestação Social para a Inclusão foi criada em 2017 e a sua componente base tem o valor actual de
275,30 euros. Acresce que outras componente previstas não foram regulamentadas
e não é aumentada desde Janeiro de 2021. A situação económica actual veio
agravar fortemente as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência e
as suas famílias.
Recordo que de acordo com o
relatório “Pessoas com deficiência em Portugal — indicadores de direitos humanos 2021", do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos”, em 2020
a taxa de risco de pobreza ou exclusão social em agregados de pessoas com
deficiência (16-64 anos) era 11,7% superior ao dos agregados da população em
geral na mesma faixa etária (28,5% vs. 16,8%)”. Um outro indicador revela que
os agregados de mulheres com deficiência, 26,5%, e os agregados de pessoas com
deficiência grave, 31,5%, eram os grupos que enfrentavam o maior risco de
pobreza ou exclusão social.
A existência da Prestação Social
para a Inclusão contribuindo para minimizar as dificuldades é manifestamente
insuficiente para a protecção dos direitos e qualidade de vida das pessoas com
deficiência quer pelo valor, quer por não chegar ao universo cidadãos com
deficiência.
Recordo ainda que um trabalho já
com alguns anos divulgado em 2010 pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade
de Economia da Universidade de Coimbra, apontava para que uma pessoa com
deficiência tenha um gasto anual entre 6 000 e 27 000 € decorrentes
especificamente da sua condição e considerando diferentes quadros de
deficiência. Este cálculo ficou incompleto porque os investigadores não
conseguiram elementos sobre os gastos no âmbito do Ministério da Saúde.
O estudo, para além das
dificuldades mais objectiváveis, referenciou ainda os enormes custos sociais,
não quantificáveis facilmente, envolvidos na vida destes cidadãos e que têm
impacto no contexto familiar, profissional, relacional, lazer, etc.
O valor base actual da Prestação
Social para a Inclusão será cerca de 5.5% dos custos estimados percebendo-se
assim a extrema vulnerabilidade das pessoas com deficiência e dos seus
agregados familiares e os enormes riscos de pobreza.
A vida de muitas pessoas com
deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes
intransponíveis, em variadíssimas áreas como mobilidade e acessibilidade,
educação, emprego, saúde e apoio social, em que a vulnerabilidade e o risco de
exclusão são enormes. Assim sendo, exige-se a quem decide uma ponderação
criteriosa de prioridades que proteja os cidadãos dos riscos de exclusão, em
particular os que se encontram em situações mais vulneráveis. Como
frequentemente afirmo, os direitos não são de geometria variável cumprindo-se
apenas quando é possível.
Bom conteúdo, bem elaborado.
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