AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 14 de agosto de 2022

DOS SEM-ABRIGO

 Lê-se no DN que em 2021 foram retiradas das ruas mais de 700 pessoas sem-abrigo totalizando cerca de 1800 o número de pessoas que saíram dessa condição nos últimos dois anos.

Segundo Henrique Joaquim, coordenador da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo este resultado decorre da existência de "muito mais pessoas no terreno a intervir, a sinalizar e a identificar estas situações", e o "aumento de uma forma brutal das respostas de acolhimento, mudando o paradigma da intervenção". Estima-se que em 2021 existiriam cerca de 9000 pessoas nesta condição. Apesar da melhoria na prevenção e intervenção, o caminho a percorrer é ainda muito e difícil. E mais difícil se torna em tempos de dificuldades acrescidas das comunidades.

Henrique Joaquim referiu ainda aos recursos para medidas no âmbito do acolhimento e a criação de comunidades de inserção no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

Considerando a experiência de Henrique Joaquim e a sua própria avaliação dos recursos e vontades disponíveis quero acreditar num processo com alguns resultados. A ver vamos.

No entanto, parece-me que não devemos esquecer que é muito grande o mundo dos sem-abrigo. São muitos, demasiados, os sem-abrigo do mundo.

São muitos, os sem-abrigo num porto que os acolha, uma casa, uma família, um espaço a que dêem vida e que lhes apoie a vida.

São muitos, os sem-abrigo, mesmo em famílias e em instituições.

São muitos, os sem-abrigo no afecto, nos afectos, sem um coração que os abrigue.

São muitos os sem-abrigo em escolas onde não cabem.

São muitos, os sem-abrigo em mundos que não são seus. São muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem e que não querem entendê-los.

São muitos, os sem-abrigo num corpo que seja aconchego para o seu corpo.

São muitos, os sem-abrigo em valores que predominam, mas não os reconhecem.

São muitos, os sem-abrigo em vidas que lhes não pertencem, mas carregam. São muitos, os sem-abrigo no aceder e no gostar das coisas de que a vida também se tece.

Muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem-abrigo, não contabilizados, nem contabilizáveis.

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