É inevitável, a partir do terceiro período sobe exponencialmente a procura por “explicações”. Dado que não existem exames finais no 1 e 2º ciclo e no 9º se realiza uma prova final “que não conta para a nota” o recurso à “explicação” é sobretudo por alunos do secundário que se irão candidatar ao ensino superior.
Trata-se de facto de um mercado que
apesar da pandemia parece de boa saúde e fomentador do empreendedorismo
individual. Por outro lado, também contribui para acentuar as desigualdades
sociais pré-existentes sem qualquer sobressalto por parte de quem é responsável
por políticas públicas.
Na verdade, é um mercado
generalizado como se pode verificar com um passeio pelas proximidades das
escolas abundando a oferta de ajudas fora da escola, antes conhecidas por
“explicações”, mas agora com designações mais sofisticadas como “Centro de
Estudos”, “Ginásios”, etc., que, provavelmente, terão mais efeito “catch” no
sentido de atingir o “target”. Ainda temos a oferta mais personalizada, as
“explicações” no aconchego caseiro dos explicadores, numa espécie de
atendimento personalizado. O mercado está sempre atento e o marketing
desempenha um papel importante.
Apesar de nada ter contra a
iniciativa privada desde que com enquadramento legal e regulação, o que está
longe de existir, várias vezes tenho insistido no sentido de entender como
desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados
dentro das escolas e agrupamentos. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria,
certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem
dentro do sistema.
Esta minha posição radica no
entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das
famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e
da falta de equidade como tem sido regularmente sublinhado em múltiplos
estudos.
Neste contexto, recordo que no
Relatório do CNE, "Estado da Educação 2016", constava um dado interessante extraído do TIMSS de 2015 relativo a Portugal e que na altura comentei. Considerando apenas o secundário, 61% dos estudantes afirmam
ter aulas particulares de Matemática no sentido de melhorar o desempenho nos
exames. A comparação com outros países é elucidativa tanto mais se
considerarmos o respectivo nível de vida, sendo a Noruega um exemplo extremo.
Também trabalhos realizados pelo
CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos que evidenciam algo de muito
significativo apesar de bem conhecido e reconhecido, nove em cada dez alunos
com insucesso escolar são de famílias pobres.
A ajuda externa ao estudo como
ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias, longe disso. Assim sendo, é fundamental que as escolas disponham dos dispositivos de apoio
suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, equidade, igualdade de oportunidades e protecção dos direitos dos miúdos, de todos os
miúdos.
De uma vez por todas, é
necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa
há investimento.
Será apenas só para alguns, porque existem muitos pais que não têm possibilidade de proporcionar esse acompanhamento aos filhos.
ResponderEliminar