Há pouco ao passar numa rua aqui perto tive de parar pois uma carrinha recolhia um grupo de crianças de um Jardim de Infância para, provavelmente, as levar para mais uma iniciativa no âmbito do Dia Mundial da Criança. Fiquei a ver a miudagem em fila a entrar para a carrinha e achei que iam felizes.
Naquele tempo de espera comecei a pensar no que esperará
aquela gente pequena. No que andamos nós a fazer para os receber à medida que
crescem.
Daqui a pouco tempo começarão o tempo da escola, alguns lá passarão oito ou dez horas por dia, e será o tempo, muita gente lhes lembrará amiúde, em
que acabou a brincadeira, é o tempo da escola "a sério".
Rapidamente começarão a ser pressionados para a excelência,
o mundo não é para gente sem sucesso. Vão ter que adquirir competências e
saberes, muitas, em montes de coisas, porque é preciso ser bom em tudo.
Vão começar a perceber como anda confusa a cabeça dos
adultos, como estamos sem perceber o nosso presente e com dificuldade de
antecipar o futuro, que será o presente deles.
Vão, parte deles, desaprender de rir, de se sentir bem e de
brincar, a coisa mais séria que sempre fizeram e deveriam continuar a fazer.
Vão ouvir cada vez mais frequentemente qualquer coisa como
"não podes fazer isso, já és um homenzinho, ou uma mulherzinha", como
se as mulherzinhas e os homenzinhos já crescidos não fizessem asneiras.
Vão conhecer tempos em que se sentem sós e perdidos com um
mundo demasiado grande pela frente.
Mais cedo ou mais tarde, alguns deles, vão sentir uma dor
branda que faz parte do crescer, mas que, às vezes, não passa com o crescer.
Também sei muitos vão continuar a ser sentir-se bem, por
dentro e para fora.
Antes que a carrinha se pusesse em andamento ainda pensei em
aproximar-me e gritar-lhes, "Cresçam devagarinho, não tenham pressa".
O que as nossas crianças mais aprendem é que é proíbido brincar! BRINCAR!
ResponderEliminarDesde que impuseram a escola a tempo inteiro, brincar tornou-se numa atividade interdita.
Trites tempos estes!