AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 8 de abril de 2022

DA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

 É hoje divulgado o trabalho “Perfil Académico e Profissional de Professores do Ensino Superior que Asseguram a Formação Inicial de Professores” encomendado pela Edulog uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo. O estudo foi coordenado pela Professora Carlinda Leite e envolveu a análise de todos os 148 cursos, públicos e privados, de formação de professores acreditados pela agência de avaliação do ensino superior e envolveu 1736 professores que leccionam 2878 disciplinas.

Apenas conheço do estudo o que encontro na imprensa e a referência mais sublinhada é “Um terço dos docentes responsáveis pela Formação Inicial de Professores não tem formação no ramo educacional e muitos dos que têm formação académica ajustada falta-lhes experiência de dar aulas no ensino obrigatório” e, suponho, na educação pré-escolar.

Aguardo a leitura do trabalho e, entretanto, umas notas breves.

Estamos no início de um ciclo governativo, estamos a atravessar um grave problema de falta de docentes (que se agudizará a curto prazo) e talvez seja também a oportunidade para reflectir na formação de professores, inicial e em serviço.

No entanto, face ao que já vi de comentários ao estudo, e provavelmente não esquecendo a minha própria experiência, julgo que que não estamos face ao Grande problema da formação de professores. Tenho colaborado durante décadas em programas de formação inicial e contínua de professores do pré-escolar, básico e secundário e, é verdade, nunca dei aulas no pré-escolar, no básico ou secundário e nem sequer posso, a minha formação, licenciatura, mestrado e doutoramento, não habilitam para a docência.

No entanto, a minha convicção e conhecimento, é que a minha área científica, psicologia da educação e especialidade de doutoramento (necessidades educativas especiais) é necessária na formação de docentes.

Se o trabalho que desenvolvi, não foi, não é, positivo, é por falta de competência pessoal, não por ter ou não ter dado aulas pois nem sequer o posso fazer.

Dito isto, e como já aqui tenho referido, julgo que será necessário repensar a formação de professores evitando a tentação de “deskilling” ou “desprofissionalização”. Como parece claro, repensar a formação de docentes implicará ajustar requisitos para os formadores de professores.

Por agora, uma última nota e talvez demasiado simples. Se a competência dos formandos à saída dos cursos fosse basicamente dependente do currículo dos seus docentes, todos os alunos de uma turma de futuros professores ou de outra profissão, teriam as mesmas competências profissionais o que, obviamente, não é verdade quando começam, nem na continuidade do exercício profissional. Existem dimensões individuais que, naturalmente, potenciadas por bons formadores promovem melhores professores. Ou não.

A esta questão soma-se, precisamos de não esquecer, uma carreira valorizada desde o início e dispositivos também competentes de apoio ao desenvolvimento profissional. No entanto, o universo da oferta de formação para professores é também uma questão que carece de análise e regulação. Ou não.

3 comentários:

  1. Muito bem! Concordo plenamente José Morgado.

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  2. Totalmente de acordo, doutor Ze Morgado. Imagine, agora, quem está sentadinho no seu gabinete, sem qualquer experiência do terreno, " dar aulas em sala de aulas", a fazer/ inventar legislacao...
    (fico por aqui...)

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