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sexta-feira, 18 de março de 2022

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E JOVENS COM DEFICIÊNCIA

 Estamos em tempos que parecem associados à tragédia. No Expresso encontra-se a referência a um estudo recentemente na The Lancet Child & Adolescent Health, “Global estimates of violence against children with disabilities: an updated systematic review and meta-analysis” com indicadores alarmantes, mas, lamentavelmente, não surpreendentes, dos casos de violência dirigida a crianças e jovens até aos 18 anos. Cerca de uma em cada três crianças ou adolescentes com deficiência  é vítima de algum tipo de violência, física, emocional, sexual ou negligência. Sendo certo que as questões relativas a crianças e jovens com deficiência têm merecido maior atenção das comunidades, percebe-se por este trabalho como ainda estamos muito longe de assegurar os seus direitos e protecção.

O estudo recorreu a dados relativos a mais de 16 milhões de crianças de 25 países, recorrendo ao tratamento de 98 estudos, realizados entre 1990 e 2020, de que 75 respeitam a países de mais elevados rendimentos e 23 relativos a sete países de baixo ou médio rendimento.

Alguns indicadores. O volume de situações está associado à tipologia dos problemas de crianças e adolescentes, mais elevados os dirigidos em crianças ou adolescentes com com problemas mentais (34%) ou deficiência cognitiva e problemas de aprendizagem (33%) face ao número de situações envolvendo deficiências sensoriais (27%), limitações físicas ou de mobilidade (26 %) e doenças crónicas (21%).

Os tipos de violência mais registados correspondem a violência física e emocional, afecta uma em cada três crianças e adolescentes com deficiência.

Uma nota ainda para o caso mais particular do bullying pois verifica-se um significativo nível de vitimização, cerca de 40% das crianças com deficiência terá sido alvo deste tipo de comportamento. O bullying presencial, violência física, verbal ou social como bater, pontapear, insultar, ameaçar ou excluir é mais comum, 37%, do que o cyberbullying (23%).

É uma realidade inquietante e mostra o que ainda temos de caminhar na protecção das crianças e adolescentes mais vulneráveis e dos seus direitos. Em regra, os comportamentos agressivos têm como alvo alguém em quem é percebido algum tipo de fragilidade. Não podemos abrandar na necessidade e nas acções que possam contribuir para minimizar o quadro agora retratado.

Dada a gravidade e frequência com que ocorrem estes episódios é imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada promovendo um empenhado investimento em recursos e dispositivos que procurassem minimizar o volume de incidências, algumas das quais de gravidade severa.

As idades consideradas no estudo correspondem à escolaridade obrigatória pelo iniciativas e recursos disponíveis devem privilegiar os contextos escolares e a intervenção junto das famílias que tanto podem fazer parte do problema, como da solução o que, obviamente justifica a necessidade de considerar o meio familiar.

Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa, mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme. Nas situações envolvendo crianças e jovens que poderão estar mais fragilizadas é ainda necessária mais atenção.

Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser grave.

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