AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

SEMENTES DE MAL-ESTAR

 A detenção de um jovem que estaria a preparar um ataque contra os seus colegas estudantes universitários trouxe para perto de nós a evidência dos riscos das sementes de mal-estar que muitos adolescentes e jovens carregam. Têm sido recorrentes nos últimos anos e em diferentes países, sobretudo nos EUA, episódios de extrema violência ocorridos em escolas e com a autoria de jovens.

Em cada momento de circunstâncias desta natureza invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?

É verdade que também em Portugal se têm verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos valores, modelos educativos, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.

Esta perplexidade exige a necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas, mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.

A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um ataque numa escola ou noutro espaço público, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente. O jovem envolvido neste episódio parece corresponder ao padrão de quem “incubava o mal” e, aparentemente, estaria entregue a si e ao seu mal-estar.

É evidente que a detenção e eventual punição poderão constituir um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade, mas é minha forte convicção de que só punir e prender não basta. Aliás, muitos destes jovens envolvidos numa espiral de violência e tragédia puseram também fim à sua estrada.

Finalmente, parece clara a importância de uma precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.

Nos Estados Unidos, na Noruega, na França, na Alemanha, no Brasil ... ou em Portugal.

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