AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

DAS APRENDIZAGENS

 Foi divulgado um trabalho, "Portugal, Balanço Social 2021: Um retrato do país e de um ano de pandemia", realizado por Susana Peralta, Mariana Esteves e Bruno P. Carvalho da Nova School of Business & Economics no qual é feito uma análise ao impacto da pandemia.

No que respeita à educação e com base na comparação dos resultados provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade realizadas em 2021 com os resultados dos anos de 2018 e 2019.

De acordo com o trabalho as diferenças são significativas e, sem surpresa, afectam fundamentalmente os alunos de meios sociais económicos mais vulneráveis. Entendem que a não recuperação destas dificuldades, que pensam ser possível, condicionará fortemente o trajecto futuro destes alunos e recordam que está em operacionalização o Plano 21/23 Escola + justamente com esse objectivo.

Deixem-me recordar o que escrevi em Setembro de 2021 quando foram divulgados os resultados das provas de aferição realizadas no 5º e 8º ano nas áreas de Matemática, Português e Inglês e no 2º ano em Matemática, Estudo do Meio e Português.

As provas não se realizaram em 2020 e comparativamente a 2018 e 2019 os resultados foram mais baixos na generalidade das disciplinas e domínios avaliados sendo ainda de registar que em 2021 apenas uma amostra de alunos participou. Também a avaliação em Inglês não é comparável, mas os resultados são também baixos.

Um outro dado relevante, mas expectável e agora na enfatizado no trabalho da U. Nova, os resultados dos alunos que não têm apoios sociais escolares “são sempre superiores aos dos alunos com Acção Social Escolar em todas as literacias, em todos os anos de escolaridade e em todos os níveis de proficiência”.

Esta diferença verifica-se mesmo quando os alunos mais com apoio da ASE têm acesso a recursos digitais.

Muitas vezes afirmo que para produzirmos boas respostas importa que façamos boas perguntas. As provas de aferição realizadas por amostra produzem alguns indicadores que serão relevantes, mas as boas respostas só podem ser dadas a partir das perguntas realizadas por cada professor, em cada escola a cada grupo de alunos, a cada aluno.

Depois e quanto ao providenciar das respostas vem a questão central, recursos humanos e materiais e dispositivos de apoio competentes e suficientes.

Como já foi referido está nas em desenvolvimento em implementação o Plano 21/23 Escola + para recuperação de aprendizagens comprometidas.

Sabemos que o maior ou menor impacto nas aprendizagens, por múltiplas razões, é extremamente diversificado em cada aluno. Parece razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número, os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.

Os professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é imprescindível é dotar as escolas dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido, de processos desburocratizados.

Para além das narrativas institucionais mais “simpáticas”, por assim dizer, o que se vai sabendo das escolas mostra, sem surpresa, o conjunto de dificuldades que se continuam a sentir.

Por outro lado, considerando os indicadores relativos ao impacto das variáveis relativas ao contexto sociofamiliar e económico dos alunos nos seus trajectos de aprendizagem é preciso considerar que não é uma questão compatível com um Plano de curto prazo por melhor que seja.

Na altura referi um trabalho divulgado em Maio de 2021 pela Human Rignts Watch sobre os efeitos da pandemia na população escolar e com dados da ONU afirmava-se que “Uma em cada cinco crianças estava fora da escola antes mesmo da covid-19”.

Num cenário de desigualdades que a pandemia potenciou e que o pós-pandemia continuará a revelar ainda mais relevantes se tornam as políticas públicas.

É neste contexto que emerge a razão destas notas. Do meu ponto de vista, a questão central não deve ser definida em torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas aprendizagens ou no bem-estar através de planos de recuperação finitos, mas sim, na mudança ao nível das políticas públicas dos diferentes países, incluindo Portugal, que, para além de forma mais imediata “recuperarem aprendizagens”, tenham impacto a prazo através de recursos suficientes e competentes, definição de dispositivos de apoio eficientes e de acordo com as necessidades, apoios sociais que minimizem vulnerabilidades que a escola não suprime, valorização da educação e dos professores, diferenciação e autonomia nas respostas das instituições educativas, etc.

Sintetizando, para além da conjuntura próxima, cuidar dos danos da pandemia, importa considerar o que é estrutural e imprescindível em nome do futuro, a qualidade da educação e uma educação de qualidade para todos.

Finalmente, gostava de fazer um convite aos leitores que por aqui passam e que estejam ligados ao trabalho em escolas do ensino básico. Apesar de algum conhecimento mais pontual gostava de conhecer um pouco melhor como está a decorrer em termos práticos o trabalho nas escolas relativamente ao Plano 21/23 Escola +. Aspectos como estratégias e metodologias, recursos docentes, técnicos e de equipamentos digitais, formas de monitorização e regulação, resultados globais, apoios, dificuldades, etc.

Agradeço alguma informação que pode ser enviada através do mail do blogue e salvaguardando a confidencialidade da forma possível.

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