A leitura de um texto interessante de Shanon K. Phelan & Paige Reeves, “(Re)imagining inclusion to foster belonging in the lives of disabled children and youth”, de 2021 na The Lancet Child and Adolescent Health e que dada a lamentável política de divulgação da produção científica não tem acesso aberto lembrou-me a História do Diferente. É assim.
Era uma vez um miúdo chamado Diferente. Quando chegou a altura de ir para a escola os Iguais pensaram que talvez fosse boa ideia o Diferente ir para a escola onde andavam os Iguaizinhos, os filhos dos Iguais.
Ao entrar na escola o Diferente achou, ainda não tinha visto
muitos, que os miúdos que lá andavam também eram diferentes, isto é, não eram
como ele, mas não, os Iguais explicaram aos Iguaizinhos que apenas o Diferente
era Diferente, eles eram Iguaizinhos.
Assim, o Diferente foi para uma sala e os Iguais não sabendo
muito bem o que fazer com um Diferente acharam melhor não fazer muita coisa,
deram-lhe um brinquedo para estar entretido e aos Iguaizinhos ensinavam coisas
da escola. O Diferente sentia-se aborrecido porque também gostava de aprender
coisas da escola.
Aos intervalos, os Iguaizinhos iam brincar para o recreio e
como os Iguais lhes tinham dito que aquele colega era um Diferente, achavam que
talvez ele não soubesse brincar e, por isso, não brincavam com ele. O Diferente
sentia-se triste porque gostava de experimentar brincar daquela maneira que os
Iguaizinhos brincavam, mas ficava num canto a olhar.
Na altura do almoço e dos lanches, os Iguais, temendo que o
Diferente pudesse não estar à vontade sentavam-no num canto do refeitório a ver
os Iguaizinhos a comer e a conversar o que o deixava pouco satisfeito.
Às vezes, os Iguais levavam os Iguaizinhos a passeios e a
visitas, mas como pensavam que o Diferente poderia não gostar ou sentir-se bem,
deixavam-no na escola com o seu brinquedo. O Diferente não percebia porque não
o levavam com os Iguaizinhos naquelas saídas.
Assim eram os dias do Diferente, naquela escola onde os
Iguais, de tão cuidadosos e preocupados com ele, não deixavam que nada lhe
acontecesse, mesmo nada, nem a vida.
Como se lê no artigo “(…) Evidently, there is a fundamental gap between how inclusion is theorised in practice and how inclusion is experienced in the everyday lives of disabled children. (…)
Apesar de ter acontecido em algumas ocasiões em anos anteriores, nunca o meu Diferente se sentiu tão igual ao Diferente da história como este ano no 7°ano.
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