Li no DN que no Encontro das Escolas Ubuntu, com a presença da liderança do ME e a participação do Presidente da República em mensagem vídeo ficámos a saber que o projecto baseado na filosofia Ubuntu será alargado a todas as escolas que se mostrem interessadas no âmbito do Plano 21|23 Escola+.
Assim, através da “Academia de Líderes Ubuntu", a filosofia
Ubuntu entrará nas escolas e os amanhãs cantarão, recupera-se o bem-estar dos
alunos, as suas capacidades de aprendizagem e as aprendizagens que se
comprometeram com a pandemia (um parêntesis para relembrar que antes da
pandemia as dificuldades já existiam).
Definitivamente, deve ser da idade, as intervenções dos
responsáveis do ME e do Presidente da República pareceram-me mais um exercício de
pensamento mágico. Não estranho, mas já cansa.
Como é evidente, registo todas as iniciativas que possam
contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já me falta convicção no
impacto do modelo mais habitualmente seguido. E acontece mais uma vez, para
cada constrangimento ou dificuldade percebida nas e pelas escolas e com
regularidade, aparece vindo de fora ou gerido de fora, um Plano, um Projecto,
um Programa, uma Iniciativa, as combinações são múltiplas, destinado a essa
problemática.
Durante as últimas décadas, perco a conta a planos,
projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às escolas para
combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso, promover a leitura
e escrita, promover a matemática, promover a educação científica, promover a
educação inclusiva, erradicar ou minimizar o bullying, a relação entre escola e
pais e encarregados de educação, promover a expressão artística e a
criatividade, promover comportamentos saudáveis e actividades desportivas,
literacia financeira, promover a inovação e as novas tecnologias, para não
falar de iniciativas mais "alternativas", por assim dizer, e que têm
poderes mágicos, parece. A lista enunciada é apenas exemplificativa.
Com demasiada frequência muitos destes projectos vêm de fora
das escolas, as origens são variadas, não chegam a envolver a gente das
escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros constrangimentos como, por
exemplo, assegurar da melhor forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo
que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência muitos destes projectos
morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma
robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos
organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja positiva aos
intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos,
Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com
frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos
mereceriam.
Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos
com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a escola responder a todas
as questões que afectam quem nelas passa o dia poderia, ainda assim, fazer mais
se os investimentos feitos no mundo à volta da escola e que lhe vem bater à
porta com propostas fossem canalizados para as escolas.
Com real autonomia, com mais recursos e com modelos
organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor
que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas
transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e
avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e
formados podem ter um papel importante em diferentes domínios.
Directores de turma com mais tempo para os alunos e
professores com menos alunos poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos
aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado
poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos,
professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação
entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento
com retorno.
São apenas alguns exemplos de respostas com resultados
potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos
Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas
matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a
verdade é que as agendas e o marketing têm custos. Por outro lado, também
acontece que todo este movimento acaba por mascarar a inadequação ou ausência em
matéria de políticas públicas.
Daí este meu cansaço.
Como eu o percebo!! Ontem, durante uma formação com a doutora Paula Teles, relacionada com problemas de aquisição da leitura e escrita- dislexia- interrogava-a sobre se a quantidade de crianças com estes problemas que a ela chegavam estava a decrescer ou a aumentar. Na sua opinião, cada vez mais lhe chegavam alunos em idades já avançadas com graves problemas na leitura e escrita. Como é possível realizar "projetos", sem que o maior dos projetos seja realizado, ou seja, ensinar a criança a saber ler e escrever. Nesse momento, atiro esta ideia que hoje encontro neste blog. As razões que eu apontei foram precisamente estas. Os professores não têm tempo para ensinar aquilo que de facto é estruturante e fundamental. A escola está sequestrada por projetos e projetinhos, a grande maioria sem qualquer interesse educativo/pedagógico, mas que interessa a muita gente! Este ministério fez o favor de tirar dinheiros públicos à escola e distribuí-los pelos "amigos" que vêm com projetos super...fantabulásticos...e o importante é que dão muito dinheiro a muita gente, menos à Escola Pública. No fundo, servem, como diz, para desviar atenções fazendo crer que a nossa escola está de facto a sofrer uma transformação, esta ocorre, é certo, infelizmente para pior! - "BIBA OS PROJETOS!!!"- exclamou em êxtase o Sec. Costa da inducação.
ResponderEliminarOlá Hélder, foi justamente disso que eu falei e daí o meu cansaço.
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