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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

QUALIFICAÇÕES A MAIS OU DESENVOLVIMENTO A MENOS

 No âmbito do lançamento do Observatório do Emprego Jovem da responsabilidade do ISCTE foi divulgado um estudo sobre o mercado de trabalho que merece reflexão e, sobretudo, acção em matéria de políticas públicas de economia e emprego.

Portugal é o segundo país europeu com maior taxa de sobrequalificação no mercado de trabalho. Com dados de 2016, 23.6% dos empregados possuíam qualificações mais elevadas do que as necessárias para o trabalho desempenhavam, apenas trás da Grécia, 23.7%. Para comparação, Finlândia e República Checa têm os níveis mais baixos, 7.8% e 8.7%.

Nos últimos anos Portugal evidenciou um avanço notável nos níveis de qualificação, um bem de primeira necessidade, para o desenvolvimento das comunidades. Entre 2000 e 2020, a percentagem de pessoas entre os 25 e os 34 anos com ensino superior passou de 12.8% para 39.6%.

Parece, pois, verificar-se um inquietante desperdício do capital mais importante, a qualificação dos recursos humanos. Para além da sobrequalificação para os empregos disponíveis acresce a debandada de muitos jovens adultos qualificados para outros países em busca de projectos de vida mais sólidos e compatíveis com as suas motivações e qualificação.

No estudo estão identificados dois factores considerados fortemente contributivos para este cenário.

Verifica-se que o peso da indústria e dos serviços de alta tecnologia é baixo e, por outro lado as limitações da contratação no sector público.

Sem que seja, longe disso, um especialista nesta área que tem faltado uma estratégia concertada envolvendo a qualificação dos cidadãos e, simultaneamente a qualificação e organização do trabalho e emprego por parte do universo de empregadores.

Por outro lado, creio que nesta equação terá de ser considerado algo que me parece pouco referido e valorizado, o nível de qualificação dos empregadores.

Um estudo divulgado em 2018 pelo Observatório das Desigualdades do ISCTE, "O mercado de trabalho em Portugal e nos países europeus" com base em dados do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat mostrava que em 2017 e considerando a qualificação que não passou do 9º ano, os empregados eram 43.7% e os empregadores 56.4%.

Considerando o ensino superior, a percentagem de empregados com este nível estava em 27.1% e nos empregadores, 20.1%.

Este cenário, torna ainda mais necessária a existência de políticas públicas que sustentem e promovam de forma consistente e prolongada a modernização do mercado de trabalho, a qualificação do emprego que não pode assentar em proletarização dos salários e precariedade que desincentiva a busca de qualificação, a aposta em sectores de actividade que absorvam mão-de-obra mais qualificada e com maior produtividade, entre outros aspectos.

Como muitas vezes tenho afirmado, não temos gente com qualificação a mais, temos desenvolvimento a menos.

2 comentários:

  1. Hoje, no Babel & Caim:

    DA ESTUPIDEZ
    https://babelcaim.blogspot.com/2021/10/da-estupidez.html

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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