No âmbito do lançamento do Observatório do Emprego Jovem da responsabilidade do ISCTE foi divulgado um estudo sobre o mercado de trabalho que merece reflexão e, sobretudo, acção em matéria de políticas públicas de economia e emprego.
Portugal é o segundo país europeu com maior taxa de sobrequalificação no mercado de trabalho. Com dados de 2016, 23.6% dos empregados possuíam qualificações mais elevadas do que as necessárias para o trabalho desempenhavam, apenas trás da Grécia, 23.7%. Para comparação, Finlândia e República Checa têm os níveis mais baixos, 7.8% e 8.7%.
Nos últimos anos Portugal evidenciou um avanço notável nos
níveis de qualificação, um bem de primeira necessidade, para o desenvolvimento
das comunidades. Entre 2000 e 2020, a percentagem de pessoas entre os 25 e os 34
anos com ensino superior passou de 12.8% para 39.6%.
Parece, pois, verificar-se um inquietante desperdício do
capital mais importante, a qualificação dos recursos humanos. Para além da
sobrequalificação para os empregos disponíveis acresce a debandada de muitos
jovens adultos qualificados para outros países em busca de projectos de vida mais sólidos e compatíveis com as suas motivações e qualificação.
No estudo estão identificados dois factores considerados
fortemente contributivos para este cenário.
Verifica-se que o peso da indústria e dos serviços de alta
tecnologia é baixo e, por outro lado as limitações da contratação no sector
público.
Sem que seja, longe disso, um especialista nesta área que
tem faltado uma estratégia concertada envolvendo a qualificação dos cidadãos e,
simultaneamente a qualificação e organização do trabalho e emprego por parte do
universo de empregadores.
Por outro lado, creio que nesta equação terá de ser
considerado algo que me parece pouco referido e valorizado, o nível de
qualificação dos empregadores.
Um estudo divulgado em 2018 pelo Observatório das
Desigualdades do ISCTE, "O mercado de trabalho em Portugal e nos países
europeus" com base em dados do Instituto Nacional de Estatística e do
Eurostat mostrava que em 2017 e considerando a qualificação que não passou do 9º
ano, os empregados eram 43.7% e os empregadores 56.4%.
Considerando o ensino superior, a percentagem de empregados
com este nível estava em 27.1% e nos empregadores, 20.1%.
Este cenário, torna ainda mais necessária a existência de
políticas públicas que sustentem e promovam de forma consistente e prolongada a
modernização do mercado de trabalho, a qualificação do emprego que não pode
assentar em proletarização dos salários e precariedade que desincentiva a busca
de qualificação, a aposta em sectores de actividade que absorvam mão-de-obra mais
qualificada e com maior produtividade, entre outros aspectos.
Como muitas vezes tenho afirmado, não temos gente com qualificação a mais, temos desenvolvimento a menos.
Hoje, no Babel & Caim:
ResponderEliminarDA ESTUPIDEZ
https://babelcaim.blogspot.com/2021/10/da-estupidez.html
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