AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

DOS MANUAIS ESCOLARES

 A questão dos manuais escolares reentra regularmente na agenda em particular no início de cada ano lectivo. Desta vez trata-se de um atraso na impressão e distribuição que, de acordo com editoras, se deverá ao prolongamento do ano lectivo passado.

Como algumas vezes aqui tenho referido creio que a questão dos manuais escolares merece alguma reflexão.

Como regularmente tenho afirmado e insisto, o nosso ensino parece ainda manter-se excessivamente "manualizado" o que tem óbvias implicações didáctico-pedagógicas e, naturalmente, económicas.

Apesar da progressiva disponibilização de outras fontes de informação e do acréscimo de acessibilidade através das tecnologias de informação e de outros suportes, a utilização dessas fontes alternativas aos manuais parece-me pouco valorizada incluindo por pais e alunos embora a experiência adquirida cm os períodos de confinamento seja certamente um contributo para mudanças.

De facto, embora o abandono do “livro único” tenha ocorrido há já bastante tempo e de uma preocupação nem sempre bem-sucedida com a qualidade dos manuais, predomina a sua utilização e das respectivas fichas e instrumentos como materiais de apoio às aprendizagens e à “ensinagem” e que agravam substantivamente os custos das famílias.

Para além de imenso material de outra natureza, temos em cada área programática ou disciplina uma enorme gama de cadernos de fichas, cadernos de exercícios, cadernos de actividades, materiais de exploração, etc. etc. que submergem os alunos e oneram as bolsas familiares, até porque muitos destes materiais não são incluídos nos apoios sociais escolares.

Em muitas salas de aula, dada a natureza da estrutura e conteúdos curriculares, corre-se o risco de substituir a “ensinagem”, o acto de ensinar, pela “manualização” ou “cadernização” do trabalho dos alunos, ou seja, a acção do professor será, sobretudo, orientar o preenchimento dos diferentes dispositivos que os alunos carregam nas mochilas.

É verdade que a minimização da dependência dos manuais envolve um conjunto de variáveis que devem ser consideradas.

Passa pela uma reorganização e flexibilização curricular, diminuindo a extensão de alguns conteúdos, por exemplo, o que permita a alunos e professores um trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos com base noutras fontes potenciando, por exemplo, a acessibilidade que as novas tecnologias oferecem.

Passará pelo ajustamento no número de alunos por turma de modo a permitir melhores níveis de diferenciação pedagógica e, assim, acomodar outros suportes ao processo de ensino e aprendizagem.

Passará ainda por maior autonomia de escolas e professores e recursos que acomodem dispositivos de apoio, tutorias por exemplo, que diversifiquem e diferenciam as formas e materiais de trabalho bem como respondam mais eficazmente à diversidade entre os alunos.

Creio que seria importante caminharmos no sentido de atenuar a fórmula instalada que de forma simplista se pode enunciar, o manual formata operacionalmente o currículo, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.

É possível caminhar numa perspectiva de “desmanualização” do nosso trabalho escolar, existem já experiências em diferentes escolas e agrupamentos, da rede pública e privada, que sustenta a sua possibilidade.

Não esqueço, no entanto, o peso das decisões em matéria de política educativa bem como o peso económico deste mercado.

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