Numa entrevista ao DN o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, ao abordar a questão dos eventuais novos cursos de medicina e da formação dos médicos sugeriu a necessidade de a repensar afirmando que “para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais”.
Como seria de esperar até pela
regularidade das suas posições corporativas, estruturas representativas dos
médicos reagiram negativamente em particular a Associação Portuguesa de
Medicina Geral e Familiar.
Não é a minha área, mas,
contrariamente à reacção da Associação que fala em “declarações desrespeitosas”,
julgo que se trata de ignorância e mais um exemplo dos equívocos sobre a formação em
diferentes áreas.
Em primeiro lugar, a medicina
geral e familiar é uma especialidade médica adquirida durante quatro anos.
Provavelmente, a designação medicina
geral e familiar introduzirá no pensamento do Ministro, como de muitas pessoas e também noutros campos científicos, a ideia da “generalidade” do saber. Não senhor Ministro, um médico de medicina
geral e familiar não é generalista, não é “um tipo que sabe umas merdas de tudo”,
um médico de medicina geral e familiar requer uma formação altamente exigente e
não “superficial” em matéria de saúde e que, portanto, talvez possa ser mais
rápida, seria um enorme risco.
Da mesma forma, um “especialista”
também não é um “tipo que está condenado a saber cada vez mais sobre cada vez
menos”.
Como é óbvio, a complexidade das
problemáticas na saúde, como em outras áreas, exigem evidentemente abordagens
diferenciadas, mas que decorrem de formações exigentes e adequadas e não hierarquizadas
pela ligeireza ou duração.
Médicos competentes de medicina
geral e familiar ou de qualquer outra especialidade estarão em formação ao
longo da sua carreira profissional, não existem formações mais simples ou mais
complexas, existem formações adequadas à promoção da competência para a
função exigente que desempenham, todos.
O ministro devia ser menos incontinente e, pela sua posição, devia informar-se e não replicar um viés de "conversa de café", ainda presente... mesmo entre os médicos! Parece que não tem médico de família ou... desdenha esse direito!...
ResponderEliminarO ministro deveria saber que os cuidados de saúde primários, onde o médico de família intervém, são, pela sua natureza holística, centrados na prevenção e, mais que tratar e curar doentes - práticas e protocolos que também integram - focam-se em práticas e estilos saudáveis dirigidos não a "doentes" ou a "utentes", mas a cidadãos, famílias e comunidades que estudam e conhecem como muito poucos...
No início da especialidade de medicina geral e familiar, há umas 3 dezenas de anos, era comum esta especialidade ser a 2ª ou 3ª escolha dos médicos internos.
Acompanho e participo na formação de Orientadores de Internato Médico e em programas de desenvolvimento de Internos MGF há largos anos e esse "estigma" de 2ª ou 3ª escolha não me parece visível... antes pelo contrário!