AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 21 de agosto de 2021

DO DESEMPENHO ESCOLAR DOS ALUNOS, OUTRA VEZ

 Parece destino. Sempre que são conhecidos indicadores de desempenho dos alunos portugueses no âmbito da escolaridade obrigatória ficamos de novo a saber que, genericamente, os níveis de sucesso têm vindo a aumentar ainda que com algumas oscilações, que a retenção não tem impacto significativo na melhoria do desempenho, que os alunos com famílias de mais baixo estatuto social e económico são os que apresentam piores resultados ou que a Matemática é a disciplina em que os alunos expressam mais dificuldade. Nada de novo, lamentavelmente.

Também nada de novo em muitos comentários produzidos sobre esta questões designadamente, no que respeita à retenção, mas já lá iremos, pela enésima vez.

Em 2018 o CNE divulgou o Relatório “Estado da Educação, 2017” onde já constavam indicadores de 2016/2017 analisados em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos no âmbito do Projecto aQeduto incluindo numa vertente económica. Em termos económicos e recorrendo aos estudos já desenvolvidos o impacto económico da retenção é estimado em cerca de 6000€ por aluno em cada ano.

Adaptando o modelo desenvolvido pela Education Endowment Foundation, o Projecto aQeduto identificou o grau de eficácia e custo económico de um elenco de medidas de combate ao insucesso. Das medidas analisadas, a retenção tem o custo mais elevado e a eficiência é negativa, promove um atraso de 4 meses. Ensinar a estudar é a medida mais económica, 87€, e mais eficiente, promove um ganho de 8 meses de aprendizagem.

Estes dados são importantes, mas a sua substância não é nova como se continua a constatar.

Recordo que no Relatório “Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed” divulgado pela OCDE em 2017 se evidencia que o “chumbo”, a retenção, é para os alunos portugueses o principal factor de risco para os resultados na avaliação posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não melhoram.

De facto, definitivamente, não adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos mostram.

Confesso sempre alguma surpresa e dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da retenção algumas vozes, mesmo dentro do universo da educação, clamam que se está a promover o "facilitismo" ou a defender que "então passam sem saber". A leitura das caixas de comentários às notícias sobre estas questões é elucidativa.

Nesta conformidade e do meu ponto de vista, a questão central não é o chumba, não chumba, e quais os critérios ou o número de exames, mas sim que tipo de apoios, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.

Este discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem sempre se resiste. Pelo contrário, “facilitismo” é acreditar que a retenção, só por si, resolve o problema do insucesso.

Difícil, mas essencial será promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social. A associação entre o insucesso e a pobreza em Portugal é, aliás, a mais forte entre os países europeus. Em Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPC e explicações, dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade dos pais e ao estatuto económico. É necessário também diversificar percursos de formação com diferentes modelos curriculares e carga lectiva finalizando sempre com algum tipo formação profissional. Esta diferenciação não deve acontecer em idades precoces criando percursos irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a escola" e "preguiçosos".

A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.

É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.

É o que ainda não consguimos fazer acontecer de forma consistente e sustentada em Portugal.

3 comentários:

  1. Caro José Morgado, permita-me perguntar o que entende por "recursos adequados e competentes"?

    "Difícil, mas essencial será promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo".

    O que fazer ao aluno que não quer aprender, "aprendere = agarrar a si próprio"? O que fazer quando os pais dizem "já não sei o que lhe fazer"? QUE RECURSOS?

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  2. Olá Rui, por aqui não é fácil dialogar sobre esta matéria. Se entender por bem podemos conversar. Através do mail z.morgado@gmail.com podemos acertar.

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  3. Sim, concordo, por aqui não deve ser nada fácil.
    Lá para o próximo mês havemos de combinar, obrigado.
    Cumprimentos.

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