No contexto de enorme discussão com a publicação dos referenciais curriculares associados às “aprendizagens essenciais” que aliás não se estranha, é apenas mais uma, parece-me interessante a entrevista de Jaime Carvalho da Silva coordenado do Grupo de Trabalho da Matemática.
Não sou um especialista em desenvolvimento curricular e também não sei definir quais os conhecimentos e competências que em cada área disciplinar e em cada ano de escolaridade devem estar estabelecidas. Deve ser matéria fácil pois há imensa gente a opinar sobre estas questões. No entanto, por vezes fico, baralhado. Duas associações de especialistas em matemática, a Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação de Professores de Matemática raramente se entendem sobre matemática. Dou por mim a pensar que, quase sempre, não estarão a discutir matemática, mas outras agendas.
Por outro lado, desculpem o atrevimento, talvez saiba um pouco de processos de ensino e aprendizagem e não me esqueço de que a característica mais óbvia de qualquer grupo de alunos é a diversidade.
Não saberei dizer se as “aprendizagens essenciais” serão as “essenciais” ou não, mas sei que “essenciais” não significa o “básico” a não ser que se queira entender entenda que sim. Será que as aprendizagens essenciais para cada disciplina são as “essenciais” ou são o “básico”?
Sei também que em termos de ensino e aprendizagem currículos muito extensos, normativos, prescritivos são pouco amigáveis para alunos e professores. Talvez fosse interessante saber quantos docentes de diferentes disciplinas e anos de escolaridade incluíam escrupulosamente todas as metas curriculares nos seus planos de trabalho. Também para responder à diversidade dos alunos, um currículo deste tipo dificilmente acomoda as diferenças de natureza variada em cada grupo de alunos.
Para sublinhar recordemos o que tínhamos para o 1º ciclo em Matemática e Português. Em Matemática estavam definidos 3 domínios que se desdobravam como segue. No 1º ano, em 8 subdomínios, 13 objectivos e 62 descritores, no 2º ano em 11 subdomínios, 22 objectivos e 82 descritores, no 3º ano em 11 subdomínios, 22 objectivos e 98 descritores e no 4º ano em 6 subdomínios, 15 objectivos e 81 descritores o que em síntese corresponde a 72 objectivos e 323 descritores para Matemática do 1º ciclo.
Se juntarmos Português teremos um total de 177 objectivos e 703 descritores. Por anos, temos: no 1º ano, 33 objectivos e 143 descritores; no 2º, 47 objectivos e 168 descritores; no 3º, 51 objectivos e 202 descritores e no 4º, 46 objectivos e 190 descritores. Era obra.
O Programa de Português para todo o ensino Básico estabelece perto de 1 000 metas curriculares,
Este entendimento pode levar a que o ensino se transforme na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem. Esse o grande risco das metas tal como estavam definidas.
Aliás, neste contexto recordo a afirmação de alguns dos autores das metas curriculares, de que estas estabeleciam o que os alunos deverão imprescindivelmente revelar, “exigindo da parte do professor o ensino formal de cada um dos desempenhos referidos nos descritores”. É de responder como nos formulários “não aplicável”.
Este cenário, aplicado em todas as áreas ou disciplinas, em turmas ainda numerosas, constituídas por alunos com ritmos diferentes e assimetrias nos seus percursos e competências e características sociodemográficas, sempre sustentava a dificuldade de entender a aplicação das metas curriculares, tal como estavam definidas.
Continuo a entender como mais adequada a definição de modelos de currículo mais abertos, menos extensos e com solidez na definição dos conteúdos, não numa perspectiva de “facilitismo” ou "básica" que não significa sequer o mesmo que essencial, mas, pelo contrário, numa perspectiva de rigor e profundidade adequada que dispositivos de avaliação interna e externa, nacional e através dos estudos internacionais, regularão.
Dito de outra forma, parece-me adequado que aprendizagens essenciais possam estar associadas a metas curriculares para manter designações, mas não no quadro que tínhamos.
Caro Zé Morgado,
ResponderEliminarComo professor universitário de "Teoria e Gestão Curricular em Educação Física" dizer, sobre este assunto, o seguinte:
1. Metas de aprendizagem e aprendizagens essenciais é a mesma coisa, a primeira do PSD e a segunda do PS, ambas medíocres;
2. O currículo prescrito será sempre uma temática de análise e discussão, mas temos de o defender a bem da equidade na Educação;
3. Em relação à minha disciplina, o despacho de 6 de julho último dilacerou aquilo que de mais importante tinha a disciplina.
Cumprimentos,
Rui Ferreira
Caro Rui, Como disse no texto não me pronuncio sobre os conteúdos. Em todo o caso, creio que o "modelo" "aprendizagens essenciais" me parece um pouco mais aberto que as "metas curriculares", tal como estavam definidas.
ResponderEliminarCumprimentos