AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 6 de junho de 2021

A PANDEMIA NO FEMININO

 

A pandemia que nos atropelou desde o início de 2020 tem tido efeitos devastadores, mas profundamente assimétricos.

Sem estranheza, o impacto mais pesado envolve os grupos sociais em circunstâncias mais vulneráveis independentemente do critério de vulnerabilidade. A título de exemplo e sem ordenar temos no âmbito económico na área do turismo e restauração, as famílias em que se verificou perdas significativas de rendimento, do ponto de vista de saúde o a devastação nos grupos mais idosos, na educação o maior efeito negativo verificado nos alunos com famílias com menores recursos e literacia digital, etc.

No Expresso encontra-se uma peça que sublinha o impacto brutal da pandemia e dos confinamentos que envolveu no quotidiano das mulheres, designadamente nas mães com crianças mais pequenas e nas mães solteiras. Os dados que estão a seguir são elucidativos e, provavelmente, estarão subavaliados considerando o envolvimento maternal no âmbito ensino não presencial.

Conforme um trabalho recentemente divulgado realizado pelo Instituto Europeu da Igualdade de Género, cito do Expresso, “a pandemia aumentou as tarefas domésticas e de cuidado tanto para homens como para mulheres, embora a maior fatia continue a recair sobre estas: dedicam agora, em média, 31,2 horas por semana a tarefas domésticas (18,6 horas) e a cuidar de crianças (12,6) — o equivalente a quatro dias de trabalho remunerado — enquanto os homens se ficam pelas 19,9. Antes da pandemia (dados de 2016), as mulheres gastavam 28 horas em trabalho não pago, os homens 12,6. Uma vez que o levantamento foi feito em julho de 2020, quando as crianças já tinham voltado à escola e/ou estavam de férias, os autores do estudo admitem que os dados poderão subestimar as dificuldades sentidas pelos casais entre março e maio, quando o ensino à distância fez emergir uma nova forma de trabalho não pago e colocou mais pressão sobre as famílias.”

Este cenário tem implicado situações complicadas ao nível da qualidade de vida e bem-estar psicológico, aumentaram significativamente os casos de “burnout” e mal-estar, degradação das relações familiares, etc.

Quando todos nós ansiamos por ainda distante regresso à normalidade, seja lá isso o que for, estes efeitos perdurarão e mereceriam uma atenção que dificilmente obtêm dada a pressão do quotidiano.

Por isso, é tão importante o investimento dimensões como recursos no âmbito da saúde mental e apoio ao bem-estar psicológico, políticas de família adequadas e amigáveis para a maternidade, incluindo apoios sociais e educativos, insistir num caminho de equidade e equilíbrio na participação de homens e mulheres na vida familiar e respectivas tarefas.

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