AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 4 de abril de 2021

LIVROS E MIÚDOS

 Seguindo o incontornável calendário das consciências, apesar de algumas meritórias referências na imprensa e nos tempos carregados e ainda muito confinados, discretamente passou há dois dias o Dia Internacional do Livro Infantil. No entanto e talvez por estarmos nesta situação, os livros possam ser um apoio, uma ferramenta de resiliência e aprendizagem, para os mais novos, mas também para nós.

Num país com níveis de literacia insuficientes e com hábitos de leitura pouco generalizados, é importante não esquecer que tudo começa nos miúdos.

Também sabemos que os contextos familiares são muito diferentes, a disponibilidade de recursos, os níveis de literacia, as exigências de quem está em teletrabalho, a dimensão do agregado, situações de vulnerabilidade social, etc. são variáveis de peso,

No entanto, por mais voltas que se dêem, a leitura e os hábitos de leitura só se desenvolvem de uma maneira, lendo. Por outro lado, também sabemos que a existência de hábitos de leitura e o contacto regular com livros no ambiente familiar são contributos muito importantes para a construção de percursos escolares e educativos bem-sucedidos. Talvez o incremento das actividades de leitura possa ser algo emergente dos tempos em casa e venha a aproximar adultos e mais novos da leitura e dos livros, independentemente do suporte.

Neste contexto e recordando Cristina Puig há que ter em consideração a idade, até aos seis anos a generalidade das crianças não lêem, serão os pais a ler e contar as histórias que estão nos livros. As crianças não lêem pouco, quem lê pouco são os pais. No entanto e de uma forma geral as crianças gostam dos livros, assim sendo, trata-se de passar mais tempo com eles. O tempo possível, mas também um tempo construído.

A partir do domínio ainda que inicial da leitura é importante aproximar as crianças dos livros de que possam gostar aproveitando e estimulando as suas motivações. A leitura, sobretudo nesta fase inicial não é uma tarefa fácil. Assim, precisamos de que seja motivadora e insistir, acompanhar as crianças, tentar estar próximo delas nessa actividade.

Sendo que ler nem sempre é fácil e os materiais a ler poderão não ser motivadores, esta fase é vulnerável e terá impacto na criação de hábitos de leitura conforme for atravessada. Com a entrada na pré-adolescência e adolescência e como se passa em variadíssimas dimensões as crianças/adolescentes são muito sensíveis aos amigos e aos seus comportamentos. Se tiverem amigos que leiam também mais provavelmente o farão.

Nos tempos que correm os suportes digitais permitem o acesso a textos de diferente natureza, não apenas livros. Tudo bem, é bom que exista essa oferta. Tendo, naturalmente atenção aos conteúdos o que é importante é que leiam. Mais uma vez, só se aprende a ler e cultiva o hábito da leitura … lendo.

Já aqui citei e repito uma moda alentejana que diz:

"É tão triste não saber ler,

Como é triste não ter pão.

Quem não conhece uma letra,

Vive numa escuridão."

Que se iluminem então os miúdos com os livros.

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