AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 23 de março de 2021

EDUCAÇÃO E CIDADANIA, PORQUE SIM

 A Direcção do Museu do Aljube e o seu serviço educativo Educaljube organizaram um ciclo de conversas com o tema geral “Cidadania, porque sim.”, para o qual, gentilmente, me convidaram a participar o que acontecerá amanhã reflectindo sobre Educação e Cidadania.

A este propósito, algumas notas que desejo claras e simples.

Os estilos de vida, as exigências de qualificação e algumas decisões em matéria de políticas públicas têm tornado gradualmente a escola mais presente e durante mais tempo na vida de crianças e adolescentes e, consequentemente, com reflexos na educação em contexto familiar com um abaixamento, por exemplo, do tempo disponível em conjunto a que acrescem múltiplas solicitações e alterações nos quadros de valores. Deste cenário resulta um ajustamento nos papéis educativos e nos actores envolvidos.

Já muito dificilmente se entenderá que a “família educa e a escola instrói”.

Também creio que já dificilmente se entende que a escola forma “técnicos” e não cidadãos, pessoas, com qualificações ao nível dos conhecimentos em múltiplas áreas. Aliás, se bem repararem sempre falamos de sistemas de educação e não de sistemas de ensino e ainda bem que assim é.

No entanto, é bom estarmos atentos a movimentos e visões, por cá e por fora, que justamente alimentam uma escola “sobretudo” virada para a instrução, com a desvalorização de conteúdos que não sejam instrumentais, (escolares) e mesmo com a desvalorização do trabalho dos professores entendidos como “entregadores de conteúdos” e não como educadores.

Também entendo que já dificilmente se entende que o conhecimento é asséptico. O conhecimento, a sua produção e a sua divulgação, tem, deve ter, sempre um enquadramento ético e não é imune a valores.

Creio que os tempos mais recentes são elucidativos de como a abordagem de matérias como Direitos Humanos; Igualdade de Género; Interculturalidade; Desenvolvimento Sustentável; Educação Ambiental; Saúde; Sexualidade; Media; Instituições e Participação Democrática; Literacia Financeira e Educação para o Consumo; Segurança Rodoviária; Risco, Empreendedorismo; Mundo do Trabalho, Segurança defesa e paz, Bem-estar animal e Voluntariado são fundamentais ao longo do processo de formação de crianças, jovens e adultos.

Um sistema público de educação, desde há muito de frequência obrigatória e progressivamente mais extenso com qualidade é a melhor ferramenta de promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de inclusão. É através de uma educação global que se minimiza o impacto de condições sociais, económicas e familiares mais vulneráveis.

Já agora, uns indicadores que, do meu ponto de vista, justificam com clareza a ideia de que “Educação e Cidadania, porque sim”.

Considerando a violência nas relações de namoro, dados de 2019 Um trabalho que envolveu 4598 jovens, do 7.º ao 12.º, média 15 anos mostra que para 67% é normal algum tipo de violência e 58% já terá sofrido pelo menos um comportamento de agressão.

Relativamente ao bullying, os estudos em Portugal sugerem uma prevalência entre 10 e 25% e a OMS indica que 1 em cada 3 crianças ou adolescentes será vítima de bullying. No caso mais particular do bullying homofóbico, um trabalho da Associação ILGA Portugal (2018) envolvendo 700 jovens dos 14 e aos 20 anos, refere que 73,6% já sentiu alguma forma de exclusão intencional por parte dos colegas.

Consumo de drogas, dados de 2019. Entre os 13 e os 18 anos aumentou o consumo de drogas não canábis e no grupo de 18 anos aumentou o consumo de canábis. O número de overdoses aumenta há três anos.

O consumo de álcool por jovens está a aumentar desde 2017 e a delinquência juvenil, entre os 12 e os 16 anos, em 2019 aumentou 6% e a criminalidade grupal (gangues) aumentou 6% de criminalidade grupal (gangues)

Assim, por estas razões simples entendo que "Educação para a Cidadania" deve obrigatoriamente integrar o trabalho desenvolvido na educação em contexto escolar.

Precisamos muito de discutir como fazer, não acredito na disciplinarização destas matérias, julgo mais interessantes iniciativas integradas, simplificadas e desburocratizadas em matéria de organização e operacionalização.

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