Há uns dias escrevi aqui um texto a propósito de uma notícia do Público em que se referia a existência de várias escolas em que no âmbito da actual situação de ensino não presencial se replicam em actividade síncrona os horários presenciais dos respectivos anos. Na altura, representantes dos directores escolares afirmaram conhecer a situação, mas não a dimensão.
Foi agora divulgado um inquérito realizado pela Fenprof sobre diferentes questões ao
qual responderam “mais de quatro mil professores” de cujas respostas no “Plano
pedagógico” releva, cito da página da Fenprof:
(…)
- 34% dos docentes, ou seja, 1/3 do total, afirmam que as
sessões síncronas são de duração igual às aulas presenciais, o que é
completamente desajustado, contrariando as recomendações divulgadas;
- Relativamente ao número de sessões síncronas, 50% dos
docentes afirma que ele é igual ou superior a metade do número de aulas
presenciais;
- Já em relação ao horário das sessões assíncronas, 53%
desenvolvem-nas no horário que estava determinado para as presenciais, articulando-as
com as síncronas, mas há ainda 8,4% que afirma manter disponibilidade
permanente online.
(...)
Não conheço a composição do grupo de respondentes,
designadamente no que respeita aos ciclos e níveis de ensino, pelo que estes
indicadores devem ser vistos com alguma prudência embora mereçam reflexão.
Parece significativo que cerca um terço dos docentes afirme que as aulas síncronas têm a mesma duração que as presenciais embora, como já referi fosse importante saber que anos de escolaridade estão envolvidos. De qualquer forma parece um indicador relevante.
Creio que a experiência adquirida durante o ano lectivo
passado e o conhecimento desde então produzido e acumulado parecem sustentar
sem grandes dúvidas a importância de adequar às idades dos alunos (anos de
escolaridade) e aos conteúdos curriculares, designadamente, os tempos de
duração das actividades síncronas.
As próprias orientações do ME que, desta vez bem, não definiu
cargas horárias fechadas, mas divulgou orientações no sentido de se estabelecer
equilíbrio nas actividades síncronas em função de critérios como os que referi.
A autonomia não pode ser usada desta forma, é mau para os
alunos atrelá-los num ecrã por tempo excessivo para “dar o programa”, não é um
bom serviço educativo.
Tal como acontece em situações que conheço parece ter-se
verificado em algumas escolas alguma pressão de pais e encarregados de educação
neste sentido, hórários semelhantes ao modo presencial. Como argumentos parece
haver a crença de que se estiverem mais tempo aprenderão mais e, por outro
lado, mais empo em aulas síncronas poderá significar mais “alívio” para os pais,
muitos dos quais com enormes dificuldades para conciliar toas as necessidades.
Percebe-se, mas a escola não pode, não deve abdicar de
decidir com base na experiência e no conhecimento sendo também por isto que me
parece inquietante o número de docentes que refere aulas síncronas com a mesma
duração de aulas presenciais. Tanto quanto possível os pais devam ser
envolvidos, informados e orientados relativamente às decisões da escola para que
as suas crenças e necessidades não substituam o que claramente parece ser
melhor para os filhos.
Não é bom para os alunos, sobretudo para os mais novos. A
situação já é particularmente complicada para que a tornemos ainda mais.
Contrariar os pais é impopular. Os diretores jamais colocariam em risco os seus interesses eleitorais, dentro e fora da instituição escola.
ResponderEliminarNão é legítimo sobrepor ao critério pedagógico o político. É uma vergonha.
Olá Rui, a pressão dos pais será uma das razões, mas não creio que seja a principal o que me parece mais preocupante.
ResponderEliminarClaro que a pressão dos pais não é a razão mais preocupante. Será um misto de interesses divergentes aos pedagógicos com muita ignorância (sobre aquilo que deve ser a educação) à mistura. A ignorância torna o sujeito permeável a tudo o que não funciona. Basta dar o mote que o nepotismo faz o resto.
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