AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 3 de janeiro de 2021

VAI INICIAR-SE O SEGUNDO PERÍODO

 Certamente com os mesmo receios e dúvidas com que terminaram as aulas inicia-se amanhã o segundo período escolar. Entre a necessidades de manter as aulas em modo presencial e as dificuldades de tal assegurar acautelando riscos e o impacto que podem conter para todos os envolvidos, as aulas recomeçarão numa “normalidade” que o não é, independentemente das narrativas produzidas.

O segundo período, a semestralização introduz algumas diferenças de percepção, continuará a ser, provavelmente, o período das decisões, o período com mais peso neste tipo de calendário escolar.

Este ano, para além de muitos outros aspectos, importa considerar o impacto nas aprendizagens de muitos alunos, sobretudo nos primeiros anos e em alunos com necessidades especiais, do tempo de confinamento e das dificuldades verificadas no âmbito do E@D apesar do esforço de professores e escolas. Aliás, está para se iniciar também o estudo do IAVE, a pedido do ME, com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Amanhã tentarei deixar umas notas sobre este estudo pois não percebo muito bem porquê agora e porquê assim.

Voltando à importância do segundo período. Quando o primeiro trimestre corre bem e o segundo decorre de forma igualmente positiva o sucesso do ano de trabalho escolar estará praticamente assegurado.

Se os dois primeiros períodos não se desenvolverem de forma positiva torna-se, obviamente, bem mais difícil a recuperação durante o terceiro período e o risco de reprovação é muito elevado.

Assim, o segundo período é um tempo em aberto, um tempo que permitirá manter bons resultados, recuperar de algumas dificuldades ou “certificar”, antecipando, o insucesso.

É neste aspecto que centro estas notas que nesta altura tenho partilhado. De facto, alguns alunos devido aos seus resultados menos positivos no primeiro trimestre, à sua história escolar que poderá incluir eventuais dificuldades (de novo a questão da especificidade do ano anterior) ou até pela representação que deles foi construída, integrarão provavelmente um grupo, “ os que não vão lá”, para utilizar uma terminologia frequente no meio escolar.

Dito de outra maneira, a escola, algumas vezes sem se dar conta, outras por ausência de meios ou disponibilidade e outras ainda pela convicção de que é "normal" que nem todos aprendam apesar de possuírem capacidades para tal, constrói sobre alguns alunos uma baixa ou nula expectativa de sucesso que não é alheia ao “eles não vão lá” e cujos efeitos negativos estão estudados.

Neste cenário, a escola pode vir a desistir deles e eles podem vir a desistir da escola através de processos que nem sempre são conscientes, quer por parte da escola, quer por parte de alunos e pais.

Curiosamente, muitos destes alunos que “não vão lá” são reconhecidos como crianças ou adolescentes inteligentes, dotados, de tal maneira que "se eles quisessem" teriam sucesso. O problema é que com alguma frequência, por menor atenção, pelo número de alunos por turma e/ou por falta de recursos, não conseguimos que eles tenham sucesso, tal como eles não conseguem mobilizar eficazmente as suas capacidades para serem bem-sucedidos. Eu sei que a afirmação é forte e pode ser injusta em muitas situações, mas existem alunos de quem a escola, por várias razões, parece ter “desistido”.

Importa, pois, iniciar este segundo período com expectativas positivas face ao trabalho de alunos e de docentes. Por outro lado, é também importante que as expectativas positivas e confiança nas capacidades dos alunos lhes sejam claramente expressas por pais e professores. Finalmente é essencial que os apoios a eventuais dificuldades de alunos e professores estejam disponíveis, sejam suficientes, competentes e estruturados em tempo oportuno. É o que se espera de políticas públicas adequadas à minimização de dificuldades recorrentes eà anteipação de constrangimentos previsíveis e conhecidos. 

O risco de insucesso e exclusão na escola é também o primeiro grande risco, ou mesmo a primeira etapa, da exclusão social.

Eles vão lá. Bom trabalho e Bom Ano.

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