E voltámos ao confinamento. Relativamente ao primeiro período, a diferença substantiva é a manutenção das escolas, de todos ciclos e níveis de ensino, em modo privilegiadamente presencial.
Como não podia deixar de ser, a decisão tem sido largamente
discutida e por diferentes razões. Sem hierarquizar vejamos algumas delas.
Há quem concorde e discorde porque sim e quem num exercício
de pensamento mágico afirme que tudo vai correr bem ou, ao contrário, profetize
a desgraça.
Podiam fechar apenas as escolas a partir do 2º ciclo incluindo
o secundário porque os alunos mais velhos constituem um risco superior de
disseminação e, por outro lado, a sua autonomia e competências acomodam melhor
os eventuais constrangimentos do ensino não presencial que, acrescento, em boa
parte das situações não é ensino à distância.
No mesmo sentido, sobretudo nas crianças mais novas, o anterior
encerramento promoveu as desigualdades aumentando para muitos alunos a
distância para a escola sendo, por isso, mais ajustado mantê-las a funcionar.
Também não deve esquecer-se que os prometidos equipamentos e
acessibilidades digitais prometidos a alunos, escolas e docentes, estão longe
de estar satisfeitos tal como, aliás, acontece ao nível de recursos humanos,
docentes, técnicos e funcionários. Assim, recorrer preferencialmente aos recursos
digitais seria ineficaz pois são insuficientes
O impacto económico e social do encerramento das escolas seria
enorme e insuportável.
Mas também se entende que a mobilidade diária e os contactos
gerados pelas escolas em funcionamento geram redes de contacto gigantescas com
os riscos associados e com maior dificuldade para baixar o famoso Rt.
Por outro lado também se afirma que as escolas não são os espaços mais potenciadores de disseminação.
Os miúdos mais novos em casa obrigariam a que os pais
voltassem também a confinar e o impacto seria enorme, economicamente,
socialmente e em termos de saúde mental.
Também li que as crianças seriam bem capazes de lidar de
forma bem-sucedida com um novo encerramento das escolas por algum tempo, são
resilientes e com capacidade de adaptação.
E também que muitas crianças carregam mochilas que já são
tão pesadas que qualquer sobressalto é enorme e, por vezes, inultrapassável.
Também se conhecem referências aos riscos para professores,
técnicos e funcionários que que lidam com múltiplos grupos, em espaços muitas
vezes inadequados e incompatíveis com o cumprimento rigoroso das medidas de
protecção.
Bom, a lista de razões para discutir o encerramento ou a manutenção
em funcionamento das escolas poderia continuar, mas parece suficiente para
sustentar uma ideia.
Ainda bem que não tive de decidir.
Apenas posso afirmar algo extremamente simples. Hoje de
manhã, o meu neto Simão saiu para a escola todo contente, com os trabalhos de casa
feitos e para ir estar com a sua Professora … e com os seus amigos do 2º ano de
uma escolinha oficial aqui de Almada. Se ficasse em casa na “escola do Ipad”
como ele lhe chamava, sentir-se-ia muito infeliz e era um sacrifício. Eu sei e
bem que foi difícil.
O meu neto Tomás saiu para a creche satisfeito por ir para a
escolinha levando, como sempre, uma mini-produção em Legos para mostrar aos
amigos.
É esta a vida dos miúdos e não sustenta uma opinião fechada relativamente a uma questão do meu ponto de vista mal equacionada, escolas abertas vs escolas fechadas, pois a complexidade, multiplicidade e variáveis de contexto não a permite. É apenas um olhar de miúdos sobre a escola.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarA visão de uma criança é sempre bela mas muito ingénua...
ResponderEliminarE os tempos não estão para eufemismos!
Quem está nas escolas está com medo e com justificação plena, exatamente pelas razões explanadas no texto!
Não seriam 15 dias ou um mês que iriam tiram o riso e a felicidade aos seus netos e dos respetivos coleguinhas! Pelo contrário, falamos da implicação do contacto e, consequente, contágio, de milhões!
E de milhares desprotegidos nas escolas deste país, cujo ambiente de turmas fantasmas não coincide com a promoção das aprendizagens, que tanto se advoga!